Este trabalho visa apresentar um relato de experiência sobre os atendimentos realizados por diferentes acadêmicos da área da saúde em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em uma cidade do Sul do Brasil, atividade de um projeto de extensão liderado por uma professora do Departamento de Medicina Social, da Faculdade de Medicina, da Universidade Federal de Pelotas, intitulado Territórios de/em ação: aprendendo e desenvolvendo saúde na/pela rede de atenção psicossocial.
No início do projeto realizou-se a apresentação desse para a equipe do CAPS para discussão da proposta e ajustes das atividades. A atividade do atendimento com dois estudantes de diferentes áreas de formação, supervisionado pela professora, surgiu nessa discussão. Desta forma, a cada semana a equipe elencou de 3 a 4 usuários que necessitavam desse olhar e eles eram agendados pela equipe ou pela professora. Para a realização desses atendimentos, os estudantes e a professora elaboraram uma anamnese multiprofissional com uma avaliação física e psicossocial que todos os estudantes das diferentes áreas pudessem aplicar.
De fevereiro a maio de 2024 foram acolhidos e atendidos 15 usuários e usuárias, destes 13 são mulheres. A maioria apresentou diagnóstico de Esquizofrenia, Transtorno Depressivo Maior e Transtorno Afetivo Bipolar, com idades entre 40 e 60 anos, baixo perfil socioeconômico e baixo grau de escolaridade. Nos atendimentos foi possível notar a necessidade dos usuários de ter alguém para conversar. Muitos apresentam além do transtorno mental, doenças crônicas não transmissíveis o que aumenta o número de medicamentos utilizados e as necessidades em saúde. A falta de uma rede de apoio estável e conflitos familiares frequentemente exacerbam a condição dos usuários dificultando seus tratamentos. Além disso, os estudantes puderam vivenciar os desafios que a equipe de profissionais do CAPS enfrenta, como infraestrutura inadequada, e falta de acesso à linha telefônica, o que faz com que todas as interações e marcações de consultas sejam feitas pessoalmente ou por meio do celular dos profissionais do CAPS. O aproveitamento inadequado dos cômodos da instituição também representa um problema, a casa onde está o CAPS tem 3 andares mas não conta com rampa para pessoas com deficiência física e nem demarcação tátil para pessoas com deficiência visual. Os estudantes estão re-acolhendo alguns usuários atendidos, que não foram encaminhados para grupos ou oficinas, realizando encaminhamento de algumas demandas individuais e de área específica de núcleos profissionais ainda não atendidos pela rede de saúde.
A proposta de atendimento multiprofissional a partir de uma anamnese construída de maneira conjunta e de discussões no CAPS tem contribuído na formação dos estudantes, conforme eles, é uma experiência extremamente enriquecedora e interdisciplinar que permite a ampliação do conhecimento sobre técnicas de outras disciplinas, a melhor compreensão das dimensões da saúde mental, além de aprimorar a comunicação com os/as usuários/as e o trabalho em equipe. Para alguns esse está sendo o primeiro contato com usuários/as e a primeira experiência em atendimentos clínicos e/ou na área da saúde mental, logo a experiência tem contribuído para torná-los profissionais mais humanizados e mais flexíveis para trabalhar com outras áreas profissionais.