APRESENTAÇÃO: A partir da necessidade de ofertar serviços a população com transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas e seus familiares, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou o Manual de Intervenções mhGAP (MI-mhGAP) para subsidiar a implementação do Programa de Ação para Reduzir as Lacunas em Saúde Mental (mhGAP), que apresentam protocolos integrados para o manejo de situações clínicas em Saúde Mental. Em 2023, a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) ofertou um curso Saúde Mental e Atenção Psicossocial, na modalidade de Educação a Distancia (EaD), que dialogava entre os princípios de Saúde Mental e da atenção psicossocial comunitária e territorial, tendo como referencia, o Programa “Mental Health GAP” da OPAS/OMS, com inclusão do manual 2.0 em sua versão humanitária. Essa formação destaca-se pelo pioneirismo e o foco principal na contribuição e qualificação da atenção psicossocial em consonância com a Secretaria Estadual de Saúde do Ceará, Ministério da Saúde e OMS. Durante o processo formativo ofertado pelo curso, as atividades deveriam ser implantadas nos territórios. Na Unidade 3 - Território, saúde mental e atenção psicossocial, foram propostos um processo de territorialização em saúde mental. Nesse sentido, o presente estudo objetiva relatar esse processo de territorialização em SM, a partir da metodologia proposta pelo curso de Saúde Mental e Atenção Psicossocial e do mhGAP. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência descritivo sobre a implementação do processo de territorialização em atenção psicossocial, realizado na Unidade de Atenção Primária a Saúde (UAPS) Antonina Caeté Pedrosa (Recreio), na cidade de Mombaça, Ceará. Esse processo foi orientado pelo mhGAP, ofertado através do curso Saúde Mental e Atenção Psicossocial EaD, da ESP-CE, ofertado no ano de 2023. As atividades do curso envolviam discussão no fórum e postagem de atividades baseadas nas ações colocadas em prática no território. RESULTADOS: Uma das enfermeiras da referida unidade foi participante do curso EaD. Além disso, o município também proporcionou um encontro presencial, ministrado por um projeto de saúde mental do município e deveria implementar os aprendizados dos módulos em seu local de atuação, devendo o produto destas, ser enviado através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Na saúde mental, o território adquire relevância desde a reforma psiquiátrica e a formação de novos serviços além dos hospitais psiquiátricos e serviços comunitários. O território passa a ser considerado em suas particularidades, possibilitando, para a Epidemiologia enfrentar mudanças no perfil epidemiológico que surgem com o avançar tecnológico. Nesse sentido, A territorialização é uma ferramenta de gestão da clínica, permitindo assim identificar recursos através da intersetorialidade para o planejamento de ações de prevenção, promoção, tratamento e reabilitação psicossocial. Durante uma reunião em equipe foi mostrado a proposta e como os instrumentos deveriam ser preenchidos pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), por serem os profissionais que estão mais próximos da população. Para esse processo foram seguidos o roteiro disponibilizado na plataforma do curso, com os seguintes passos: 1. Confecção de mapa tendo como centro a unidade de atuação; 2. Identificação dos recursos e necessidades em saúde do território; 3. Pontuação das vulnerabilidades e potencialidades sociais e clínicas nos territórios; 4. Níveis de atenção da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); 5. Fluxos e parcerias importantes. Também foram usados o serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélite da Terra através da ferramenta Google Maps. Essas ações proporcionou a visualização do território levando em consideração as necessidades em Saúde mental, mostrando também que muitas questões relacionadas às desordens psíquicas e emocionais estão relacionadas a vulnerabilidade social e os fatores socioeconômicos presentes na população. Além disso, permitiu identificar setores apoiadores e outras instituições presentes no território para a construção de parcerias. Também foi realizada a construção de planilha online em Excel, com os principais dados dos pacientes em uso de medicação de controle especial, dependência química e acompanhamento. Nessa experiência vivenciada, a participação dos ACS mostrou-se essencial para o reconhecimento da comunidade, facilitando o processo de construção da identidade entre profissionais e população. Por também ser membro da comunidade, o ACS apresenta uma visão mais ampliada e a identificação dos impasses que melhoram ou interferem a convivência e moradias dos territórios, a cultura, os modos de viver e existir. Seguir um processo de territorialização e mapeamento da RAPS levou os participantes a refletir sobre a necessidade se aprofundar e reconhecer novamente o território. A partir da identificação da realidade dos territórios, foi possível pensar e readequar a agenda de trabalho, organizando um serviço que opera segundo a lógica daqueles que vivem nesse lugar, percebendo as vidas que emergem. O conceito de território passa a adquirir maus significado, levando em conta como esse espaço é construído e a produção de sentidos, alicerçando a prática cotidiana. Além disso, identificar os demais pontos que compõe a RAPS trouxe a possibilidade de ativar os recursos locais existentes, estabelecendo novas alianças e integrando outros movimentos que possam impactar as singularidades e a participação social. Nesse sentido, seguir um processo de territorialização com ênfase em saúde mental, se destaca como uma nova experiência de cuidado, com ênfase no diálogo, na escuta e vínculo, trazendo como centro os usuários com adoecimento psíquico ou emocional, condições essas, muitas vezes, restrita a somente prescrição medicamentosa e acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). CONSIDERAÇÕES FINAIS: As ferramentas apresentadas pelo curso serviram para a disseminação do conhecimento e aperfeiçoamento do cuidado em saúde mental do território. Além disso, mostrou outros fatores relacionados ao adoecimento mental como as questões relacionadas às vulnerabilidades sociais, identificando as necessidades de referencia para os serviços de Assistência Social. Por fim, foi percebida a necessidade de apropriação, cada vez maior, do cuidado em saúde mental, haja vista que, o acompanhamento às famílias nas UAPS deve ir além do simples referenciamento a serviços especializados, sendo capazes de reconhecer as necessidades e implantar intervenções de acordo com o perfil dessas famílias. Como limitações, esse processo de territorialização deveria ser constante, pois o território é vivo e está sempre em mudança. Assim, recomenda-se a utilização desta ferramenta de planejamento em saúde mental nas unidades de saúde como uma importante estratégia de reconhecimento e readequação das ações em saúde.