O acesso aos serviços de saúde pode abranger tanto a entrada nos serviços de saúde, como o recebimento dos cuidados subsequentes. Entre os obstáculos a serem superados para garantir o pleno funcionamento do Sistema Único de Saúde, as desigualdades no acesso aos serviços de saúde entre diferentes grupos, incluindo o de mulheres, representam um desafio significativo. Nesse sentido, buscou-se analisar o acesso aos serviços odontológicos por mulheres residentes no município de Vitória, capital do Espírito Santo. Trata-se de um estudo transversal realizado com 1.107 mulheres com 18 anos ou mais, residentes no município de Vitória. A seleção da amostra aleatória e sistemática foi realizada por conglomerados e em dois estágios: o primeiro estágio de seleção dos setores censitários baseou-se no censo de 2010 do IBGE da cidade de Vitória e o segundo estágio foi realizado por meio da seleção de domicílios dentro desses setores. A coleta de dados se deu por meio de entrevistas individuais com aplicação de questionário estruturado, entre os meses de setembro e dezembro de 2021, abordando dentre outras questões o acesso aos serviços odontológicos e características sociodemográficas. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo 43958.686.21698.3010/2020) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (FAPES) (processo n° 160/2021). A variável dependente foi definida como a falta de acesso aos serviços odontológicos, caracterizada quando a entrevistada relata ter buscado atendimento odontológico, mas não o obteve. As variáveis independentes foram posse de plano de saúde odontológico e classe econômica. A análise dos dados foi realizada por meio do software Stata 13, com análises descritivas a fim de caracterizar a amostra, incluindo a prevalência das variáveis presentes no estudo, juntamente com os respectivos intervalos de confiança. Em seguida, foram realizadas análises bivariadas, com o objetivo de verificar a associação entre as variáveis independentes e o desfecho. Na amostra, 76% das participantes não possuíam plano de saúde odontológico, enquanto 23,9% possuíam. Em relação à classe econômica, 8,9% pertenciam à classe A, 43,8% à classe B, 38,4% à classe C e 8,6% às classes D/E. As análises bivariadas mostraram que as mulheres sem plano odontológico tinham uma maior prevalência de falta de acesso aos serviços odontológicos (13,9%, IC95% 10,9 - 17,4%) em comparação às que possuíam (2,7%, IC95% 1,1 - 6,4%). Além disso, a falta de acesso foi mais elevada entre as mulheres das classes D/E (37,8%, IC95% 23,8 - 54,2%), seguidas pela classe C (14,9%, IC95% 10,8 - 20,2%), classe B (6,3%, IC95% 4,0 - 9,6%) e classe A (1,4%, IC95% 0,2 - 9,6%). Desigualdades no acesso aos serviços odontológicos foram observadas nesta população, sendo que mulheres com posse de plano odontológico apresentam menor prevalência de falta de acesso e mulheres das classes econômicas mais baixas vivenciam maior falta de acesso aos serviços odontológicos.