Apresentação: A educação popular em saúde permeia um campo de ações que objetiva a construção de conhecimento e autonomia de uma dada população junto à sua equipe de saúde da família primando pelas práticas de promoção de saúde. Para tanto, usa atributos e instrumentos plausíveis e dinâmicos que valorizam o saber do outro a partir de sua construção de vida, o que proporciona troca entre a comunidade e os profissionais de saúde. Nesse viés, a extensão universitária baseada na educação popular em saúde proporciona um caminho distinto na formação dos estudantes da área da saúde, assim como contribui para a promoção de saúde e prevenção de doenças e agravos, além de promover aproximação entre comunidades, profissionais e estudantes. Assim sendo, ao definir-se como estratégia pedagógica e social em saúde, esse trabalho visa relatar a experiência de uma extensão pautada na educação popular em saúde realizada em comunidades de Barreiras, município localizado no Oeste da Bahia, a saber Santa Luzia e Mucambo, em data oportuna: o Dia das Mães. Desenvolvimento do trabalho: A ação extensionista “Cuidando de quem cuida” foi realizada a convite de profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) e lideranças comunitárias das comunidades de Santa Luzia e Mucambo motivadas pelo desejo de celebrar a maternidade, bem como sensibilizar as gestantes e mães acerca da imprescindibilidade do autocuidado a fim de garantir a integridade do bebê e, no caso da gestante, da mulher durante a gestação e na vida. Nessa premissa, foram realizadas ações educativas nos dias 11 e 13 de maio de 2024 mediadas por graduandas do curso de Medicina da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), integrantes da Liga Acadêmica de Medicina de Família e Atenção Primária (LAMFAP), sob orientação docente, e acompanhadas por profissionais das ESFs. No dia 11 de maio, véspera dos Dias das Mães, realizou-se a primeira ação na Santa Luzia, bairro periférico no município de Barreiras-BA, à convite de Djânia Rosa, agente comunitária de saúde e liderança comunitária. A ação constitui-se à base de um diálogo entre as extensionistas e as mães de diferentes faixas etárias da comunidade em questão, desvinculando o discurso de um contexto passivo de ouvinte e palestrante ao promover as interações entre a teoria e as experiências vividas por essas mulheres. Pensando nisso, as temáticas abordadas foram desenvolvidas com o propósito de desprendimento entre “ser mãe” e “ser mulher”, tendo em vista que a maternidade não deve ser observada como única determinante da identidade feminina, já que a valorização da individualidade muitas vezes é inferiorizada após a gestação e nascimento do bebê. Tais temas envolveram abordagens desde saúde mental e rede de apoio até conhecimento do próprio corpo, esse último através da demonstração de como é realizado o preventivo e sua importância, execução do autoexame mamário, bem como saúde sexual e métodos contraceptivos; para tanto, de modo estratégico, contou-se com o apoio de exemplares das mamas, dispositivos intrauterinos (DIUs) hormonais e de cobre, anticoncepcionais de via oral, diafragma, preservativos femininos e masculinos, além de genitálias de ambos os sexos para a demonstração. Durante a explanação teórica, a participação das mulheres foi estimulada e presente, com questionamentos e relatos de vivência. Ao finalizar a discussão houve uma confraternização, na qual havia lanche coletivo, sorteio de presentes e música ao vivo com banda de forró, promovendo, assim, o estreitamento dos laços entre todos os envolvidos da ação por meio de um momento descontraído de acolhimento e cuidado. Outrossim, a segunda ação ocorreu no dia 13 de maio, na comunidade rural do Mucambo, a convite da médica Júlia Smith. A equipe da ESF identificou lacunas na participação e engajamento das mulheres no pré-natal, logo, a ação educativa foi planejada para promover um diálogo com as mulheres sobre a importância do pré-natal, assim como de outros aspectos da maternidade na sala de espera da segunda-feira após o dia das mães. Nesse viés, os recursos didáticos foram preparados de acordo com a adequação ao conteúdo a ser trabalhado, o tempo disponível e público a ser atingido. À custa de exemplo, o folder foi confeccionado para abordar os pontos trazidos pelas participantes na exposição dialogada e sua relação com a importância do acompanhamento médico na gravidez, a periodicidade das consultas e dos exames vinculados com as semanas gestacionais, além dos sinais de alerta para busca dos serviços de saúde - caso da presença de sangramento e dores fortes de cabeça - e das dicas voltadas ao estilo de vida da gestante e da puérpera. Tal estratégia gráfica deu-se a fim de demonstrar o principal objetivo da atenção pré-natal e puerperal - promover o acolhimento adequado desde o início da gravidez para assegurar, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal. Em seguida, foi aberto o momento para a confraternização com todos ali presentes, com lanche coletivo organizado pela equipe da ESF. Por fim, para eternizar as memórias destes dois dias do evento, cada participante contribuiu com sua digital ao simular folhas para a construção de uma árvore em suas respectivas Unidades de Saúde da Família, criando um momento de interação envolvente ao representar as mulheres presentes. Resultados: O evento foi acolhido com entusiasmo pelas mães, as quais demonstraram um profundo interesse em discutir questões relativas ao autocuidado emocional, físico e social. Na primeira ação, as mães se mostraram mais interessadas em aprender acerca dos contraceptivos que o SUS fornece, haja vista que, geralmente, pouco lhes é informado sobre como usar, quem pode usar e como funciona. Em contrapartida, na segunda ação, as interações foram sobre as dificuldades da gestação e como ficar doente ou tomar algum medicamento se torna uma preocupação maior para a gestante. Durante os eventos, a interação entre as mulheres demonstrou que, comumente, estas mães negligenciam suas necessidades pessoais em favor do cuidado com o outro. Ademais, esse fato tornou-se evidente pela fervorosa vontade de dialogar sobre o tema autocuidado, exteriorizar suas vivências e pela inclusão de outras questões correlatas. Tal postura foi bem recebida pelas extensionistas pois ocorreu um intercâmbio de conhecimento e demonstrou a importância de atividades educativas e empáticas voltadas para este público, tendo em vista que, infelizmente, os diálogos revelaram que as mães raramente são inquiridas sobre si mesmas e acabam por invalidar sua própria saúde. Considerações finais: Na realização dos eventos, observamos resultados positivos na promoção do autocuidado e saúde para as mães ao possibilitar o diálogo e a construção de conhecimentos, contribuindo, então, para a desconstrução de pensamentos hegemônicos sobre a maternidade e de ideologias acerca da sexualidade feminina e materna, além disso, evidenciando a relevância do acompanhamento e dos cuidados durante a gravidez e o puerpério. Nessa conjuntura, é importante destacar a necessidade latente de mais espaços/eventos voltados para as mulheres-mães, que viabilizam a expressão de suas vivências, promovam discussões e priorizem o seu bem-estar a fim de preconizar autonomia e saúde. Além disso, esses eventos também contribuíram para a formação profissional das futuras médicas, ao promover diálogos com as mães e reconhecimento da importância dos mesmos para o cuidado em saúde.