SUTILEZAS DA ARTE(TERAPIA) NA CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS COM PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE ECONÔMICA E PSICOSSOCIAL

  • Author
  • Marielly de Moraes
  • Co-authors
  • Charles Dalcanale Tesser , Janine Fregapani Barbosa , Carina de Lima Ferreira , Claudia Honorio Freitas , Patrícia Lane Araújo Reis
  • Abstract
  •  

    Várias Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) facilitam ampliar e transformar as formas de cuidado em maior humanização e integralidade da atenção. A arteterapia, embora mais comum no atendimento individual no setor privado, vem ganhando relevância no SUS como possibilidade de abordagem de cuidado em saúde mental. Este estudo objetiva relatar experiências de um grupo de arteterapia focado em um público feminino em situação de grande vulnerabilidade econômica e psicossocial. Como incremento das ações da atenção primária à saúde, em uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre e a Organização da Sociedade Civil Amurt/Amurtel, em 2024, o Projeto Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) conta com grupos de arteterapia oferecidos também para alguns serviços de assistência social (CRAS e outros).  Em meados de março teve início o grupo, que até final de abril tinha 7 participantes entre 16 e 75 anos; e 3 crianças (suas filhas), todas em grande vulnerabilidade econômica e psicossocial. Foi a primeira vez de todas na arteterapia. Trata-se de mulheres que apresentam histórias de vida em comum: convívio com abusos e diferentes tipos de violência, situação de rua, uso de álcool e outras drogas, detenção, privação de direitos básicos como moradia, escolaridade, lazer e cidadania digna. Os (até então) poucos encontros arteterapêuticos ilustram histórias que se consolidam em cada nova reunião. A timidez inicial associada à desconfiança e ao estranhamento, rapidamente deu lugar à certeza de se estar em um espaço seguro e acolhedor, livre de julgamentos. Um lugar para se sentir à vontade e em paz; onde cada mulher pode ser vista, escutada, respeitada e acolhida na sua singularidade. Em pouco tempo foram muitas descobertas coletivas de primeiras vezes, permeadas pela sutileza da arteterapia e pelo afeto catalizador, conforme Nise da Silveira, um afeto alegre capaz de incluir, e que fortalece a essência própria. Para muitas foi a primeira vez de pegar na mão um giz de cera, de colorir com tinta e pincel. Para todas foi a primeira vez que acompanharam, com olhos atentos e brilhantes a contação de uma história. Foi também a primeira vez de suas pequenas crianças, ainda de colo. Emergiu rapidamente, já desde o primeiro dia a sororidade: olhares afetuosos de uma para com a outra, escuta respeitosa, acolhimento e empatia diante das histórias que emergiram; cuidado, proteção e carinho com as pequenas crianças. No decorrer foram compartilhando novidades, como o recomeço da vida de uma na casa nova; e o início de outra no grupo de alimentação saudável, viabilizado pelo Projeto PICS. Era nítido o desejo de retornar nos próximos encontros. A necessidade de ser escutada e acolhida é urgente, e suas histórias vem à tona com muita rapidez, o que surpreendeu até mesmo os trabalhadores das equipes que já há algum tempo conhecem as mulheres e seus contextos.  A arte cumpre sutilmente o seu papel de (re)conexão consigo e conexão com o outro. Com ela torna-se possível tecer afeto, cuidado, percepções, novos coloridos e transformações de si.

     

  • Keywords
  • PICS, arteterapia, vínculo, vulnerabilidade, psicossocial
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
Back