Dentre as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, a arteterapia denota uma interface de cuidado em saúde afim à Atenção Primária à Saúde (APS), à atenção psicossocial e à promoção da saúde. Tal conjunção inspira a possibilidade de convergências que fortalecem e reforçam o direito à saúde integral e podem apontar caminhos para se pensar o cuidado coletivo em saúde mental na APS. Este resumo apresenta conexões entre arte, cuidado e saúde a partir de narrativas de três arteterapeutas sobre suas vivências e experiências em abordagens arteterapêuticas junto a serviços de APS. O estudo aponta o resultado parcial de uma pesquisa de doutorado, qualitativa exploratória descritiva, desenvolvida em serviços de APS que oferecem práticas de arteterapia vinculadas ao SUS. Foram realizadas visitas aos serviços e entrevistas narrativas com arteterapeutas identificadas a partir do sistema de informação DATASUS, convidadas por conveniência por serem de uma mesma região do país; distribuídas em sete serviços de três diferentes municípios que oferecem semanalmente práticas coletivas de arteterapia. As entrevistas ocorreram no segundo semestre de 2023. As arteterapeutas referiram experiências de trabalho com grupos e públicos variados, em especial mulheres idosas e pessoas com transtornos de ansiedade e depressão. As abordagens desenvolvidas envolvem encontros terapêuticos que utilizam arte e/ou artesanato (mobilizam criatividade, criação, sensações, sensibilidades, lúdico, simbólico...) como via para a livre expressividade, cuja abordagem é centrada nas pessoas, permeada por afeto catalizador conforme Nise da Silveira. Duas das três profissionais realizam as abordagens de forma interdisciplinar com a participação de outros membros da equipe. Destas práticas emergem conexões entre arte, cuidado e saúde. As falas das entrevistadas convergem e enfatizam muitos efeitos benéficos. Os grupos de arteterapia foram mencionados como espaços de encontro leve e prazeroso, que inicialmente atraem em virtude das práticas artísticas e onde acontecem experiências marcantes. Lugares que se consolidam por oferecer acolhimento e transmitir confiança e segurança; promover interação, convívio social, diálogo, escuta atenta, construção e estreitamento de vínculos, bem-estar e desenvolvimento coletivo e pessoal. Definidos ainda como ambientes de reflexão e construção coletiva, apoio e amizade; espaços para atividades benéficas, expressão emocional e trocas significativas; de cuidado mútuo, promoção da expressão individual e social, que impactam positivamente na sua saúde mental e bem-estar. Conforme as entrevistadas, os encontros propiciam lidar com emoções, aliviar ansiedades, desenvolver habilidades de comunicação e resiliência. A arteterapia mostra-se bem-vinda para a maioria dos membros das equipes da APS, que, assim como as arteterapeutas, acabam por intensificar seus vínculos com os usuários. Para as entrevistadas essa é uma possibilidade de prevenção de agravos e promoção da saúde mental e física a médio e longo prazo, a qual já tem demonstrado resultados benefícios como a redução da busca por consultas; do uso de medicações e da necessidade de internações psiquiátricas. O impacto positivo da arteterapia na APS vai além dos participantes diretos, alcançando suas famílias e comunidades. Essa prática se revela como uma ferramenta de baixo custo, sutil, descontraída, envolvente, potente e eficaz para o cuidado em saúde mental na APS e fortalecimento de laços comunitários.