Apresentação: Essa pesquisa trata-se de uma revisão integrativa da literatura de abordagem qualitativa, acerca do tema atuação da equipe de saúde da APS frente à comunidade LGBT. Foram percorridas as seis etapas da revisão integrativa propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2008): estabelecimento da questão de pesquisa, amostragem ou busca na literatura, categorização dos estudos, avaliação dos estudos incluídos na revisão, interpretação dos resultados, apresentação da revisão ou síntese do conhecimento, com o intuito de realizar uma contribuição de conhecimento na área da saúde e da população LGBT, através da prática baseada em evidências.
Desenvolvimento/método: Após a realização da busca nas bases de dados, foram incluídos no corpus final 18 (dezoito) artigos científicos, destes foram criadas duas categorias: “Dimensão assistencial à saúde da população LGBT” e “Contexto social vivenciado pela população LGBT”.
A população LGBT tem dificuldades de adentrar e permanecer vinculado ao sistema público de saúde. Percebe-se uma baixa adesão dessa população nesses espaços, sendo que muitas vezes sua presença é vista como indesejável, e sua sexualidade é tida como um empecilho para a construção de uma relação eficiente e fortalecida entre usuários LGBT e equipe da assistência à saúde. O estudo evidencia que a APS necessita de maior suporte e estratégias para lidar com a saúde da população LGBT, e reconhece que existem lacunas no conhecimento sobre a saúde dessa população, sendo útil, portanto, o maior número possível de informações sobre essa comunidade, maior coleta de dados a fim de conhecer melhor o histórico sexual e social destas pessoas, fato que é citado como fundamental para ofertar um atendimento de qualidade. O distanciamento da população LGBT dos serviços públicos de saúde se dá, muitas vezes, pelo receio de revelarem sua orientação sexual ou identidade de gênero, e, caso o façam, receberem tratamento hostil por parte da equipe de saúde, e por perceberem que as equipes não possuem conhecimento sobre diversidade sexual, não sabendo, por exemplo, a diferença entre homossexualidade e transexualidade, sendo que este desconhecimento impacta negativamente em como esses usuários são atendidos nos serviços. Quando existe a procura da população LGBT por atendimentos nos espaços públicos de saúde, normalmente é por conta de problemas pontuais e específicos, não sendo estimulada a continuidade do vínculo, e isto se dá muito em função dos profissionais acharem que a principal demanda de saúde dessa população está relacionada a questões sexuais, como Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e procura por testes rápidos capazes de detectar essas infeções, e passam, muitas vezes, a ignorar outras demandas importantes, como o adoecimento psíquico, emocional, que muitas vezes é resultado de uma vida inteira de marginalização e sofrimento. Quando se aborda a saúde de pessoas transexuais, que necessitam de uma atenção diferenciada, por conta de, muitas vezes, sentirem a necessidade de readequação corporal, fato este que as leva a fazer uso da automedicação hormonal e procedimentos estéticos clandestinos, aumentando ainda mais a sua vulnerabilidade em relação à saúde, percebe-se o desconhecimento das equipes de saúde sobre essas demandas, tanto no que diz respeito ao acolhimento quanto aos cuidados específicos de saúde dessa parte da população, que é vista como a parte mais vulnerável dentro da comunidade LGBT e a que mais sofre com a discriminação, preconceito e violência. Ainda sobre a fragilidade de saúde das pessoas transexuais, destaca-se que essa parcela da população está mais propensa a ter problemas psiquiátricos, transtornos de personalidade e fazer uso abusivo de álcool e outras drogas, se comparado com a população em geral. Nota-se, ainda, que muitos profissionais da APS desconhecem quem são os usuários LGBT do seu território, e que o sistema de saúde é configurado para atender a demanda das pessoas heteronormativas, excluindo, portanto, pessoas da comunidade LGBT, fato que fortalece o estigma e o preconceito. Observa-se que os profissionais de saúde sentem dificuldades em atender pessoas LGBT devido a lacunas na formação profissional, sendo que alguns profissionais não conhecem a existência da Política Nacional de Saúde Integral da população LGBT e, os que conhecem, afirmam ter um conhecimento superficial sobre a mesma, não tendo certeza do que se trata. O estudo aponta que a educação em saúde é essencial para aprimorar o conhecimento da equipe de saúde com relação à população LGBT, e consideram que treinamentos e capacitações sobre diversidade são estratégias importantes e que contribuem para o fortalecimento do vínculo entre essa população e a APS. Diante disso, percebe-se que o preconceito e a discriminação permeiam as vivências da população LGBT em todos os âmbitos de suas vidas, o que acaba por impactar negativamente suas existências e a maneira como essas pessoas se expressam enquanto membros da sociedade.
Resultados: A realização deste estudo evidenciou fragilidades importantes no que diz respeito ao acesso da população LGBT ao sistema público de saúde, e a pouca implementação, na prática, da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da população LGBT. O estudo demonstrou, também, que a equipe de saúde não está preparada com conhecimentos teóricos e práticos para atender as demandas desta população específica, e que as políticas públicas direcionadas para fortalecer a relação entre usuários LGBT e os serviços de saúde, de fato, não estão amplamente implementadas. Percebe-se que a comunidade LGBT vive exposta ao preconceito e a discriminação, tendo sua vivência e existência negligenciada, muitas vezes tendo seus direitos básicos desrespeitados, e sendo colocada a margem da sociedade, tendo, na maioria das vezes, que se adaptar a um sistema configurado historicamente para atender as demandas heteronormativas, fato este que pode culminar com o enfraquecimento de suas potencialidades, seus talentos e desejos, estando esta população sujeita a um maior grau de adoecimento físico e emocional.
Considerações finais: A vulnerabilidade do público em questão é uma realidade no sistema público de saúde, e por conta disto, percebe-se a necessidade de maior capacitação dos profissionais de saúde com relação às demandas específicas da população LGBT, investimentos em educação continuada e permanente junto às equipes de saúde, fortalecimento do ensino sobre diversidade sexual e de gênero dentro das instituições de ensino, e um maior estímulo as pesquisas sobre diversidade para que as relações sociais sejam livres de preconceito e discriminação. A pesquisa evidencia, ainda, a forte presença da heteronormatividade no contexto social, e aponta que a sexualidade é algo privado e não deve ser visto através do olhar do moralismo, mostrando que as questões envolvendo a comunidade LGBT são um desafio para as políticas públicas.