APRESENTAÇÃO:
Trata-se de relato de experiência sobre o desenvolvimento de ações do Projeto de extensão "Círculos de Cultura, Diálogos em Saúde na Escola e na Comunidade” realizado no município de Pontão, Rio Grande do Sul (2017-2023). Um Projeto interinstitucional e intersetorial que trouxe como elemento inovador a Saúde perpassando as Políticas Públicas através do trabalho articulado entre as Secretarias da Educação, da Saúde e da Assistência Social com escolas e comunidades antes e durante o contexto da pandemia da Covid-19, em diálogo com o Curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul , Campus Passo Fundo (UFFS-PF).
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO:
O projeto de extensão "Círculos de Cultura, Diálogos em Saúde na Escola e na Comunidade” teve por objetivo desenvolver ações intersetoriais, de formação e de educação popular em saúde nas escolas e comunidades através dos círculos de cultura, na perspectiva de fortalecer o vínculo entre a Universidade com o Sistema Único de Saúde (SUS), a da educação pública e a área de assistência social de forma colaborativa e interprofissional.
Foram realizados Círculos de Cultura, tendo por referência os princípios freireanos, com docentes das escolas municipais, bem como, a realização do diagnóstico participativo por escola a fim de identificar as necessidades de saúde e de educação presentes nos territórios, qualificar o currículo das escolas e construir ações de promoção, educação e cuidado à saúde das crianças, famílias e comunidades para o Programa Saúde nas Escolas em parceria com o Curso de Medicina da UFFS. Além disso, aconteceram Feiras de Saúde com atividades gerais que mobilizaram muitas pessoas, assim como, oficinas presenciais e telepresenciais (no período da pandemia da Covid-19) através das plataformas google meet e cisco webex.
A participação de estudantes de medicina com a atuação na perspectiva da educação popular em saúde, asseguraram o aprofundamento de temáticas relacionadas à saúde que emergiram do diagnóstico tais como: saúde, autoestima e a identidade dos adolescentes: corpo, sexualidade e saúde”, em abordagens de diálogos contemplando os subtemas: promoção da saúde, ações de prevenção, mercantilização das doenças, epidemias; exposição do corpo nas redes sociais; gravidez na adolescência; drogadição e medicação; automutilação; depredação do patrimônio público; cuidado do eu do outro do meio; e sonhos e planos de vida.
O diagnóstico participativo e as ações educativas em saúde realizadas nas escolas e comunidades se fundamentaram no pensamento pedagógico freiriano construindo a consciência crítico-reflexiva a partir da práxis como força mobilizadora e coletiva da transformação das realidades e das relações entre as pessoas enquanto sujeitos individuais e coletivos. Ao assumir essa perspectiva, histórica transformadora e libertadora como raiz latina da cultura de resistência e luta, afirma-se a força da educação emancipadora e política. Portanto, é necessário o fortalecimento de trabalho de base, do ser sujeito, da leitura de mundo do ensino como forma de consciência, da cultura da resistência, da pedagogia da indignação, da esperança, fazendo parte da cultura universitária, dentro e fora da universidade
RESULTADOS:
Essas ações de educação popular em saúde foram oportunidades de vivências e experiências formativas diferenciadas que vem contribuindo para a formação de profissionais de saúde com uma perspectiva humanizadora, acolhedora, dialógica, de cuidado, respeito e construção compartilhada de saberes, transformando o conjunto das pessoas inseridas nas atividades do Projeto. Teve um engajamento importante de mais de 3 mil pessoas, pois em cada atividade com docentes, envolveu-se em torno de 100 participantes. Nas atividades gerais, onde havia a participação dos pais e da comunidade em geral, houve mais de 200 participantes, especialmente nas feiras de saúde que contou com mais de 600 crianças, adolescentes, docentes e servidores das secretarias de educação, saúde e assistência social e nas Feiras Comunitárias mais de mil participantes.
Teve como produtos a escrita coletiva de um livro com autoria dos integrantes em cada núcleo escolar do município, estudantes de medicina, docentes e profissionais da saúde e assistência social publicado pela Editora Rede Unida que traz as reflexões que emergiram do trabalho conjunto e a edição de um documentário.
Esse processo foi evidenciando que, apesar das dificuldades, a educação é a força motriz capaz de construir possibilidades de transformar as pessoas a partir dos processos educativos para que estas transformem relações e realidades, os inéditos viáveis como a potência transformadora do possível a ser feito que nos move à transformação. Essa perspectiva vem se constituindo no campo da saúde coletiva e pública, junto ao Sistema Único de Saúde através da Política Nacional de Educação Popular em Saúde que se fundamenta nos princípios da amorosidade, do diálogo, da problematização e reflexão sobre a realidade, da autonomia, da emancipação e d o compromisso com o projeto democrático e popular de sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Estes espaços foram importantes para a formação dos docentes e estudantes e através dos Círculos de Cultura e diálogos nas escolas e comunidades foi possível interagir e construir processos de educação popular em saúde junto às crianças, jovens, educadores (as), comunidades e estudantes de medicina na perspectiva de construção do SUS, da saúde como direito, do fortalecimento da participação social e do cuidado à saúde, assim como, permitiram refletir e aprofundar os conhecimentos sobre os direitos, a saúde e a pandemia da Covid-19, além de possibilitar interação entre as diversas secretarias envolvidas.
A construção compartilhada de saberes integrando o conhecimento científico com o popular, a articulação entre saúde, arte e cultura, o uso de diferentes linguagens comunicacionais foi uma das marcas importantes dessa trajetória.
A Saúde perpassando as políticas seguiu a orientação da Organização Mundial da Saúde e evidenciou a força mobilizadora e a potencialidade do trabalho intersetorial, interprofissional e interdisciplinariedade dos processos educativos.
Por fim, o jeito freireano de interagir com estudantes do curso de medicina, estimular o tempo de permanência na universidade para aquisição da cultura do diálogo, reflexão, da produção de novos conhecimentos, aproximar e construir vínculos com diferentes públicos e interações planejadas junto às escolas. Desta forma, aguçou-se rodas de conversa, estimulando-se a troca de opinião, a interação, o aprendizado, o espírito colaborativo por meio da participação e diálogo sobre questões de interesse do grupo. Em sua multidimensionalidade o Círculo de Cultura procurou integrar aspectos, sociais, político, culturais e ambientais.