IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM DIRECIONADA AOS USUÁRIOS PRIVADOS DE LIBERDADE : RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE REALIZAÇÃO DE CONSULTAS DE ENFERMAGEM EM UM SISTEMA PRISIONAL.
Eslei Lauane Pires Cappa, Ana Beatriz Nunes Freitas, Brenda Zambenedetti Chini, Andressa de Souza Rosa, Juliana Traczinski, Tainara Teles da Silva ,Marta Cocco da Costa.
EIXO 1
Palavras-Chave: Consulta de Enfermagem, Cuidados de Enfermagem, Saúde, Pessoas privadas de liberdade.
Introdução: O Brasil ocupa o quarto lugar na lista de maiores populações prisionais do mundo, e seus números estão em constante crescimento. Os ambientes carcerários no Brasil são conhecidos por serem insalubres e muitas vezes superlotados, o que contribui para uma série de problemas de saúde. Nesse sentido o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Pessoas Privadas de liberdade, instituída pela Portaria n°1, de 2 de janeiro de 2014, dentre as propostas impostas, está a inserção do enfermeiro dentro de uma equipe interdisciplinar para atender as demandas desses usuários. A consulta de enfermagem é um componente fundamental da assistência de saúde prestada por enfermeiro, esta ferramenta é privativa desta categoria, e por muitas vezes não ser implementada, passa despercebida. Porém suas atribuições para uma assistência de qualidade e individualizada são de suma importância. É através da consulta de enfermagem que o enfermeiro avalia o estado de saúde do indivíduo, identifica suas necessidades, fornece orientações e educação sobre saúde, e colabora com outros profissionais de saúde para desenvolver e implementar planos de cuidados com foco nas singularidades de cuidado, com foco prioritário para a criação de vínculo e escuta.. Destaca-se maiores prevalências de doenças infecciosas, com ênfase para infecções sexualmente transmissíveis, tuberculose e hepatites; doenças mentais e reprodutivas. Tais características epidemiológicas podem estar associadas ao estresse ocasionado pela situação de confinamento e das condições insalubres aos quais estão expostos, como a desnutrição, a superlotação das celas, a marginalização social, a dependência de drogas ilícitas e o baixo nível socioeconômico das pessoas presas e familiares. Em relação às práticas desenvolvidas, a triagem e a escuta, são entendidas como ferramentas essenciais e inovadoras, que envolvem diálogo, vínculo e acolhimento. Essas atividades podem contribuir para a agilidade no encaminhamento da PPL para os demais serviços da rede de saúde e, assim, potencializar o acesso e a resolutividade em saúde. É necessário ressaltar que a PPL tem seu livre arbítrio para a participação ou não nas ações assistenciais. Também é importante compreender que esse espaço social é formado por pessoas de diferentes condições sociais, educacionais e de saúde, portanto, é necessário repensar o processo de trabalho das equipes de saúde, a fim de reconhecer direito à assistência, para organizar os serviços e alcançá-los nos princípios como a integralidade, a universalidade e a igualdade. Objetivo: Relatar experiência de acadêmicas de enfermagem frente a atividades voltadas à implementação de consultas de enfermagem em uma unidade prisional. Desenvolvimento: Relato de experiência realizada em maio de 2024, por estudantes de graduação em enfermagem oitavo semestre. O presídio onde ocorreram as atividades de consulta de enfermagem está localizado em um município de aproximadamente 33 mil habitantes, na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, o qual possui regime fechado e semi-aberto para os detentos. A ação corresponde a uma atividade prática de ensino e extensão realizada com presos e presas, para a disciplina de Saúde Coletiva. Este sistema prisional possui uma unidade de saúde dentro de suas dependências, possibilitando deste modo a realização de consultas de enfermagem, com espaço físico adequado. O presídio conta com consulta médica, pensando no desempenho acadêmico de futuros enfermeiros, foi proposto na disciplina de saúde coletiva a elaboração de um projeto, deste modo foi pensado, elaborado e executado a implementação de consultas de enfermagem na unidade prisional, visto que a mesma possui uma sala adequada, com os equipamentos necessários, além de contar com uma estratégia de saúde da família a qual fornece materiais e equipamentos precisos para algumas práticas. Antes da implementação das consultas de enfermagem foi realizado um levantamento das principais necessidades das pessoas privadas de liberdade, para que estas pudessem ser supridas com o auxílio da enfermagem em ação. Deste modo foi elaborado um encontro de sensibilização entre estudantes e apenados responsáveis pelas celas (chaveiros), das galerias de presos homens, onde aconteceu uma atividade de educação em saúde e orientação sobre a importância de o que é uma consulta de enfermagem e como a mesma pode colaborar para suprir as necessidades de saúde da população, com a distribuição de folders educativos para que esses responsáveis pelas celas distribuem para os demais presos. Além disso foi realizado um momento de sensibilização com as mulheres presas, explicando sobre a consulta de enfermagem e a consulta de enfermagem voltada à saúde reprodutiva da mulher, com o intuito de saber o interesse delas para tal atendimento, e se haveria adesão. Assim, durante o mês de Maio foi organizado um cronograma de agendamento prévio para a realização das consultas, deste modo todas as quintas feiras no turno da manhã foram realizadas consultas de enfermagem com esse grupo de seis acadêmicas. A todo momento as acadêmicas foram supervisionadas pela professora responsável e tiveram o apoio e colaboração dos trabalhadores do presídio para que ocorressem as práticas conforme o cronograma.Resultados: Ao caracterizar as pessoas privadas de liberdade foram realizadas as consultas de enfermagem primeiramente com as cinco mulheres que demonstraram interesse em participar da mesma. Nesta consulta foi realizada escuta ativa, testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis de HIV, Sífilis, Hepatite B e Hepatite C, além disso foi realizado exame das mamas, e exame citopatológico de rastreamento de câncer de colo do útero.Foi um momento muito oportuno para entender as principais necessidades de cuidado dessas mulheres nessa unidade, oportunizando desse modo empatia entre as acadêmicas e as presas. Foram realizadas consultas de enfermagem com os homens em outro momento. estes haviam demonstrado interesse na agenda, foram realizadas até o momento sete atendimentos, nos quais ocorreram os exames de testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis, organização dos medicamentos conforme prescrição médica, além de encaminhamentos para especialidades e orientações referentes à prevenção de agravos de saúde de um coletivo que convive junto diariamente em ambiente fechado. Como desafio é possível citar o estranhamento desta unidade por parte das acadêmicas uma vez que não é um local de acesso habitual de acadêmicos, além da falta de vínculo com este público. Ainda os presos não tinham conhecimento de consultas de enfermagem, relatando que só realizavam consultas com médicos, com queixas voltadas à doença. Tais dificuldades foram superadas através da promoção e educação em saúde com o público alvo e orientações eficazes baseadas em conhecimento teórico e prática com preceitos de empatia ao cuidado. Considerações Finais: A partir desse relato, enfatiza-se a realização de consultas de enfermagem à PPL, e como práticas em ambientes não muito frequentados durante a vida acadêmica podem ser enriquecedores nos âmbitos de preparo de formação e futuro profissional. Deste modo as acadêmicas puderam usar os conhecimentos técnicos e científicos alinhados à prática em um ambiente carcerário que costuma ser pouco pouco ou nem ser explorado durante a graduação que é um o, podendo desmistificar estereótipos e preconceitos acerca deste cenário. Proporcionando tratamento digno, com os preceitos de cuidado e empatia para uma boa consulta de enfermagem.
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