INTRODUÇÃO: A promoção da saúde é a estratégia preferencial para viabilizar a articulação de conhecimentos interdisciplinares no cuidado individual e coletivo,sendo a Atenção Primária à Saúde (APS) o lócus privilegiado para desenvolver ações com potencial de promover mudanças no modelo biomédico e fragmentado. Para atuar neste contexto, tem-se a necessidade de que a assistência fornecida pelos profissionais de saúde estejam em consonância com as necessidades de saúde das pessoas e os princípios e diretrizes do Sistema Único Saúde (SUS), tendo nos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS), uma potência importante na reorientação da formação em saúde. Frente ao exposto, o presente estudo tem por objetivo identificar como os usuários perceberam as ações desenvolvidas pelas equipes de Saúde da Família (eSF) durante a pandemia de COVID 19. MÉTODOS: Trata-se de um estudo qualitativo, decorrente do projeto matricial “Ações de Promoção e Prevenção desenvolvidas durante a pandemia da Covid-19 pelas Estratégias de Saúde da Família (ESF) de um município do Rio Grande do Sul”. O presente estudo foi realizado em um município da região central do Rio Grande do Sul. A coleta de dados ocorreu no período de dezembro de 2021 a janeiro de 2022. Foi adotado o critério de técnica de saturação de dados para a interrupção na captação de novos participantes. Para a coleta de dados, houve a prévia comunicação via e-mail e telefone com os coordenadores das unidades, solicitando a autorização para realização da pesquisa. Além disso, o contato prévio aos coordenadores também teve como finalidade informar os dias e horários previstos para a realização das entrevistas com os usuários. Os cenários para a realização da coleta de dados foram quatro ESFs, destas duas deveriam possuir, como critério, a vinculação com PRM e as outras duas ESF não possuir convênio ensino-serviço. As unidades foram selecionadas aleatoriamente. Para o desenvolvimento da entrevista, houve abordagem direta aos usuários presentes nas unidades de saúde no período da coleta de dados. Utilizou-se um roteiro, contendo dados de caracterização sociodemográficos, e 12 perguntas abertas referentes ao funcionamento da unidade, durante a pandemia de COVID-19. A pesquisa respeitou os aspectos éticos segundo as orientações da Resolução 466/12 e da Resolução no 510/2016.O projeto de pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria , sob o número do CAAE: 50504121.00000.5346. RESULTADOS: Ao todo, 31 usuários participaram da coleta de dados 31 usuários, dos quais 54,83% (n=17) foram abordados nas unidades de saúde com PRMS integrado ao serviço (Grupo A) e 45,16% (n=14) usuários foram captados nas unidades que não possuíam vínculo ensino-serviço (Grupo B). Quanto ao perfil sociodemográfico dos participantes, 74,2% (n=23) eram usuários do gênero feminino e 25,81% (n=8) do gênero masculino. Verificou-se que 45,2% (n=14) se declararam casados; 22,6% (n=7) solteiros; 9,7% (n=3) em união estável; 6,5% (n=2) divorciados e 16,1% (n=5) viúvos. No que se refere à etnia,67,7% (n=21) declararam-se brancos; 19,4% (n=6) pardos; 9,7% (n=3) negros; e 3,2% (n=1) não soube declarar a sua etnia. Em relação à faixa etária dos usuários, 12,9% (n=4) apresentavam entre 18 a 29 anos; 29% (n=9) entre 30 a 39 anos; 12,9% (n=4) entre 40 a 49 anos; 12,9% (n=4) entre 50 a 60 anos; e 32,3% (n=10) encontravam-se acima dos 60 anos. Quanto ao local de residência, 28 90,3% (n=28) residiam em área urbana e 9,7% (n=3) em área rural. Em relação à ocupação laboral, 64,5% (n=20) encontravam-se ativos no mercado de trabalho; 22,6% (n=7) eram aposentados; 6,5% (n=2) recebiam algum benefício governamental; e 6,5% (n=2) encontram-se desempregados. Ainda constatou-se que 45,2% (n=14) relataram não apresentar nenhuma comorbidade; e 54,8% (n=17) conviviam com alguma doença crônica, que necessitava acompanhamento na unidade de saúde de referência. Observou-se que 45,2% (n=14) faziam uso contínuo de medicamentos, enquanto que os demais, 54,8% (n=17), não utilizavam medicações regularmente. Dentre as principais características sociodemográficas observadas neste estudo, é possível sinalizar que a maioria, isto é, 74,2% (n=23) dos usuários eram do gênero feminino e a faixa etária predominante dos indivíduos foi acima de 60 anos, com 32,3% (n=10). A identificação da feminilização da velhice, bem como a expectativa de que as mulheres continuarão sendo maioria da população idosa em 2050, já foi evidenciado por outros estudos. Além disso, nota-se que as mulheres procuram com maior frequência as unidades de saúde e possuem maior expectativa de vida. Os usuários reconheceram que houve mudanças no fluxo de atendimento da ESF, durante a pandemia de covid 19. Nesse sentido, 76,47% (n=13) destacaram que houve uma melhor estruturação do fluxo da unidade, do acolhimento, nos agendamentos e no tempo de espera para ser atendido após COVID-19. Eles também destacam maior organização dos turnos e dias para os acolhimentos e consultas com a equipe multidisciplinar na ESF. Entretanto, 17,64% (n=3) perceberam mudanças negativas, como a redução no quadro de funcionários, que pode estar vinculado ao número de profissionais que estavam afastados por questões de saúde em virtude da pandemia, o que poderia acarretar em sobrecarga de atividades para os demais colegas. Essa diminuição de quantitativo poderia estar associada ao cotidiano de maior exposição ao risco de adoecer pelo coronavírus, além dos fatores relacionados às questões laborais, como cansaço físico e estresse psicológico, pois na pandemia esses profissionais acolheram as demandas e questões complexas da COVID-19, visto que a pandemia escancarou e aprofundou os abismos sociais já existentes pré período pandêmico. Em relação à participação em grupos e/ou ações em promoção de saúde durante a pandemia do COVID 19 vinculadas às unidades de saúde, 82,35% (n=14) dos usuários não participaram das atividades propostas nos serviços, em virtude das suas atividades laborais, e 29,41% (n=5) dos usuários relataram a participação em ações de promoção e prevenção em saúde durante a pandemia COVID-19, destacando a importância da manutenção destas atividades. Além disso, observou-se também que 41,17% (n=7) dos usuários relataram medo ao frequentar as unidades de saúde, durante o período da COVID-19. Cabe ainda mencionar que 29,41% (n=5) dos usuários relataram desconhecimento sobre as ações ofertadas pelas unidades de saúde. O estudo revelou que, nas unidades de saúde que possuem o vínculo ensino-serviço aliado ao PRMS, os usuários apresentaram melhor entendimento sobre o funcionamento da ESF. Além disso, percebe-se que, nas unidades em que as ações foram ofertadas as práticas de promoção e prevenção em saúde mostraram-se potencializadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este estudo sinaliza que a integração ensino-serviço é capaz de potencializar as condutas, que efetivam a APS e contribuem para o caráter formador em recursos humanos para a área da saúde do SUS.