CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO SAÚDE COMO AGENTE NAS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NOS TERRITÓRIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Author
  • Jéssica Pinheiro Carnaúba
  • Co-authors
  • Francisca Laura Ferreira de Sousa Alves , Ellen Rose Sousa Santos , Iasmin Belém Silva Queiroz , Luciana Rodrigues Cordeiro , Reangela Cintia Rodrigues de Oliveira Lima , Juliana Cunha Maia , Marli Teresinha Gimeniz Galvão
  • Abstract
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    APRESENTAÇÃO: A violência pode ser considerada como um fenômeno sociocultural, estando mais presente como uma questão de segurança publica e suas repercussões atribuídas ao setor judiciário. A violência também resulta de estruturas, relações e contradições sociais, sendo tema muito presente na mídia nacional e internacional, e entende-la como uma questão de saúde envolve novas complexidades e abordagens. Um dos aspectos fundamentais do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) consiste nas visitas domiciliares, em que os mesmos coletam informações e realizam ações de educação em saúde de acordo com as necessidades das famílias. Nesse contexto, os trabalhos dos ACS também está sujeito às problemáticas que acometem os territórios, como é o caso das situações de violência. Durante o curso técnico Saúde com Agente, criado pelo Ministério da Saúde para fomentar a formação dos ACS no país, um dos módulos teve como temática, a violência. Nesse sentido, o objetivo deste estudo consiste em relatar as contribuições do Curso Técnico Saúde com Agente no enfrentamento às situações de violência nos territórios. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência descritivo acerca das contribuições do Curso Técnico Saúde com Agente, na formação de ACS, para o manejo das situações de violência presentes nos territórios em que atuam. Participaram 50 ACS do município de Mombaça, Ceará, a partir do processo de tutoria do curso, entre os anos de 2022 e 2023. RESULTADOS: O curso tecnico Saúde com Agente é ofertado de forma híbrida, através de Educação a Distancia (EaD) e atividades práticas nos territórios em que atuam. A estrutura do curso é organizada em módulos com temas que vão desde a saúde pública, cuidados primários de saúde, comunicação, entre outros, com uma carga horária total de 1275 horas. O acompanhamento dos discentes ocorre através de aulas teóricas com auxilio de tutores por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e atividades presenciais, realizadas em seus territórios de atuação e supervisionados por um preceptor. Uma das disciplinas consistiu no Acompanhando os Ciclos de Vida das Famílias - Saúde da Mulher. Ente as discussões promovidas através dessa disciplina foram as Ac?o?es especi?ficas em sau?de da mulher e o papel do Agente Comunita?rio de Sau?de no enfrentamento da violência de gênero. Foram abordadas, a partir das aulas interativas, a atenção à saúde da mulher em todo o ciclo de vida, trazendo as situações de violência presentes nas famílias e as formas de abordagem e suporte. Como atividade prática, os ACS deveriam realizar pelo menos duas visitas domiciliares com foco no público feminino, onde tiveram oportunidade de realizar questionamentos importantes para o acompanhamento da saúde da mulher, fornecendo as devidas orientações, além de mapear a situação social das mulheres residentes na comunidade. A desigualdade de gênero consiste em uma contradição social que se mantem ao longo da historia da civilização em que o lugar que a mulher ocupa na sociedade, passa a ser de subordinação. Uma desses manifestações culmina na violencia contra a mulher, como resultante desse desequilibrio de poder que se mostra em relações contrapostas de força e dominação. Nesse sentido, a violência de gênero é um fenômeno social que influencia os modos de viver, questões de adoecimento e morte de mulheres. Partindo do princípio que a violência altera de modo significativo o processo saúde-doença das mulheres, sendo o setor saúde, um lugar importante para identificação e assistência as vitmas de violência. Nesse sentido, as mulheres que passam por situações de violência apresentam mais problemas de saúde e buscam mais frequentemente os serviços de saúde. Muitas vezes, as mulheres em situação de violência de gênero, não conseguem nem mesmo verbalizar ao profissional de saúde sobre as situações que estão vivenciando. Os ACS, por apresentarem vínculo com o terrritório e estarem mais próximo a comunidade, precisam ser instrumentalizados para desenvolver um processo de trabalho transformador para a realidade que vivem. Nesse contexto, foram desencadeadas algumas discussões como a atuação do ACS, frente às situações de Violências no fórum da disciplina, trazendo diversas vivências sobre essas situações nos territórios. Como efeito, os ACS também passaram a relatar situações de violência que ocorreram contra eles mesmos. Entre essas situações, foram citados assaltos, violência psicológica, situações de intimidação e desrespeito. O vínculo existente entre os ACS e alguns usuários que têm influência ou envolvimento com situações ilegais, indica que os ordenamentos informais, por vezes, são elementos que fazem parte das dinâmicas do território, assegurando, muitas vezes, que estres consigam entrar nos territórios sem sofrer violências, não podendo, essas questões serem negligenciadas em relação ao trabalho. O partilhar dessas experiências despertou um processo de interação, trazendo à tona diversas estratégias para lidar com essas situações, além da necessidade de ações de saúde mental voltadas à saúde do trabalhador, haja vista que as situações de violência fazem parte do cotidiano desses profissionais e são desencadeadoras de adoecimento emocional.  Os profissionais circulam diariamente entre essas dinâmicas, sem, contudo, se comprometer com tais usuários. Não pode ser negligenciada o peso do contexto territorial e os riscos que envolvem o processo de trabalho das equipes, que podem facilitar ou dificultar a interlocução entre trabalhadores e usuários dos serviços. Esse é um dos aspectos que mais influenciam e fragilizam tomadas de decisões. Além disso, a falta de reconhecimento da violência como fator limitador, além dos diferentes conflitos que estão presentes no territorio, podem limitar a atuação da Atenção Primária a Saúde (APS), comprometendo alguns de seus pressupostos essenciais como a integralidade do cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao capacitar os ACS com conhecimentos e habilidades para identificação, prevenção e manejo às vítimas de violência de gênero, o curso fortaleceu os profissionais para lidar com esses casos, contribuindo para promoção de uma cultura de paz. O aprofundamento em relação a essa temática, pode trazer também uma ampliação da compreensão sobre a violência conjugal e a atuação dos ACS, buscando uma abordagem mais integral e equânime. Além disso, esse processo formativo despertou nesses a consciência sobre as situações de violência em relação ao exercício de suas funções, trazendo à tona a necessidade de serviços voltados à saúde mental do trabalhador, além de novas concepcções de trabalho na APS, em que a violência presentes nos territórios é um fator limitante para a integralidade do cuidado.

     

  • Keywords
  • Violência; Atenção Primária a Saúde; Educação Continuada
  • Subject Area
  • EIXO 7 – Rotas Críticas - Narrativas de Violência Contra a Mulher
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