Narrativas de mulheres negras Agentes Comunitárias de Saúde: uma análise sobre questões de gênero, raça, classe e poder

  • Author
  • Senhorinha Ribeiro de Oliveira Santos Silva
  • Co-authors
  • Patrícia Pinto Braga , Virgínia Junqueira Oliveira
  • Abstract
  •  

    Apresentação: A função de agente comunitário de saúde tem condição basilar na estruturação do SUS e é ocupada em sua grande maioria por mulheres. Aliado a isso as desigualdades de gênero, raça e classe impõe a este grupo um cenário peculiar e de desafios. Neste estudo parte-se da premissa que as trabalhadoras negras, na função de ACS no SUS, vivenciam no cotidiano de trabalho, relações de poder que sofrem atravessamentos interssecionais de gênero, raça e classe. As evidências científicas e a prática assistencial apontam para a necessidade de analisar como esse tensionamento pode causar repercussões na vida laboral dessas profissionais e da comunidade a qual assistem. Objetivo: Analisar como as relações de gênero, raça, classe e poder se apresentam no cotidiano de trabalho de mulheres negras e agentes comunitárias de saúde. Método: Pesquisa qualitativa, orientada pelo referencial conceitual da Escrevivência, em um município da centro-oeste de Minas Gerais – Brasil. Os dados foram coletados a partir de entrevistas em história oral, guiadas por roteiro, com 12 agentes comunitárias de saúde que se autodeclararam negras. Após a transcrição das entrevistas seguiu-se com a construção de narrativas, que foram submetidas a análise temática indutiva. Resultados: A análise evidenciou 4 categorias (1) Práxis de mulheres negras como Agentes Comunitárias de saúde; (2) Características e subjetividades das Agentes Comunitárias de Saúde: relações de poder, gênero; (3) Cenário de trabalho e (4) Relações de poder. Considerações preliminares: A análise evidenciou as potencialidades e desafios vivenciados pelas participantes na função que exercem no local de trabalho no campo, evidenciou-se também o perfil das famílias assistidas, suas necessidades, exigências e características. Há indicativos de como as desigualdades de gênero, raça e classe repercutem na experiência de trabalho das ACS negras por meio das evidências demonstradas como situações sociodemográficas e econômicas, escolaridade, expectativas na vida, qualidades, características que elas se auto identificam ou que alguém se refira a elas, dificuldades que ela encontra de se descrever e falar de si mesma, aspectos relativos à vivência da maternidade e de relacionamento abusivo. A análise ressaltou as diferenças e semelhanças entre ser uma mulher ou um homem na função de agente comunitário de saúde. No que se refere às questões que dizem respeito à raça, a análise aponta situações que se relacionam diretamente à categoria de opressão raça, como transição capilar, sistema de cotas, vivências de racismo no ambiente de trabalho, bem como, valorização da pessoa negra no espaço de trabalho. Por fim, evidenciou-se como essas mulheres entendem as relações de poder/saber no universo do trabalho, seja na diversidade de opiniões e postura dos profissionais da unidade de saúde, no trato com a população e no exercício da função e com as gestões (da UBS, do município e o sistema). Observa-se uma sintetização destas relações de poder em hierarquia, denotando certa escala de importância nesses lugares na organização da assistência à saúde. 

  • Keywords
  • Agentes Comunitárias de Saúde, Gênero, Raça, Classe, Relações de poder
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
Back