Na enfermagem, a necessidade de atualização na prevenção e tratamento de Lesões por Pressão (LP), em especial aos pacientes hospitalizados, tem trazido uma tendência significativa no cenário atual da saúde pública. Diante disso, a pergunta de revisão que norteou este estudo foi: quais as tendências da produção científica acadêmica brasileira acerca daprevenção de lesão por pressão em adultos internados em UTI? Nesta perspectiva,o estudo de revisão teve como objetivo identificar as tendências da produção científica acadêmica brasileira acerca da prevenção de lesão por pressão em adultos internados em UTI. A busca foi realizada de março a junho de 2021, no Banco de Teses e Dissertações do Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Utilizou-se a seguinte estratégia: "lesão por pressão". Não foi estabelecido recorte temporal. Os critérios de exclusão: estudos que não atendiam a temática proposta e não respondiam a questão de pesquisa, estudos com animais, da área da pediatria, duplicados e resumos incompletos. Foram localizados 101 estudos. Após 63 foram excluídos porque não eram da temática, 19 não responderam a pergunta de revisão, nove foram excluídos por não responderem a questão de revisão, havia um resumo incompleto, e três eram estudos de revisão. Desta forma foram incluídos para análise seis estudos. Destes todos são dissertações de mestrado dos anos de 2016, 2017, 2018 e 2020 e foram desenvolvidos nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, e Sul do Brasil.
A dissertação cujo título foi “Guia De Cuidados De Enfermagem Relacionados Com Lesão Por Pressão Em Unidade De Terapia Intensiva: Uma Construção Coletiva” desenvolvida com dezesseis enfermeiros de um hospital escola do sul do país, no cenário da UTI, trouxe como objetivo geral “construir, junto aos enfermeiros de uma Unidade de Terapia Intensiva, um guia de cuidados de enfermagem relacionados à lesão por pressão”. O método utilizado pelos pesquisadores foi estudo qualitativo com desenho metodológico da Pesquisa Convergente Assistencial.
Os principais resultados evidenciam a insegurança dos enfermeiros na prevenção, indicação das coberturas e falta de continuidade no processo de tratamento da lesão. O guia de cuidados de enfermagem relacionado à lesão por pressão foi construído abordando aprevenção, avaliação e tratamento.
Duas dissertações desenvolvidas em 2017 abordaram as questões relacionadas aos fatores de risco para o desenvolvimento de LP. Em uma delas, um estudo prospectivo, a qual teve como título “Lesões Por Pressão No Intraoperatório De Craniotomias: Incidência E Fatores De Risco” apresentou como objetivo geral “Avaliar a incidência e os fatores de risco da lesão por pressão no intraoperatório de pacientes submetidos à craniotomia”. A população estudada foram pacientes maiores de 18 anos, submetidos a cirurgias eletivas de craniotomia com tempo cirúrgico maior ou igual a duas horas e sem LP no pré-operatório. Os principais resultados do estudo com 134 pacientes, dos quais 119 foram avaliados. A média da idade dos pacientes foi de 52,6 anos, e 52,1% eram do sexo feminino. A maioria dos pacientes (81,5%) foram posicionados em decúbito dorsal. O tempo médio de cirurgia foi de 234,5 minutos. Ao término da cirurgia, 60,5% dos pacientes apresentaram LP. Os locais das LPs mais frequentes foram: região do calcâneo (26,5%), sacral (23,6%), olécrano (18,6%) e escapular (15,0%). O outro estudo de 2017 teve como método abordagem quantitativa, de corte transversal, descritivo e analítico, com pacientes críticos de UTI. A dissertação teve como título “Lesões Por Pressão: Ocorrências, Fatores De Risco E Prática Clínica Preventiva Dos Enfermeiros Em Centros De Terapia Intensiva” e seu objetivo geral foi caracterizar as ocorrências e as prescrições de enfermagem para prevenção de lesões por pressão em clientes internados em Centros de Terapia Intensiva adulto. Dos 104 pacientes analisados, com predominância de 53,8% (n=56) do sexo masculino. Os fatores de risco associados à maior ocorrência de LP foram a hipertermia (p=0,029) e a pele edemaciada (p=0,012). Na população do estudo, 49,0% (n=51) apresentaram LP. A região anatômica mais acometida foi a glútea com 87,5%, e sacral com 29,8%. As ações de enfermagem mais prescritas por enfermeiros foram a Mudança de Decúbito com 82,7%; Utilização de Emolientes para Hidratação da Pele com 76,9% e Realização de Higiene Externa com 67,3%.
Na UTI de um hospital público do Centro-oeste do Brasil, um estudo quantitativo, de caráter observacional descritivo, prospectivo, realizado com 171 pacientes no período de 15 de maio 2018 a 31 de agosto de 2018, o qual teve como título “Lesão por pressão relacionada a dispositivos médicos: frequência e fatores associados” e apresentou como objetivo geral analisar a ocorrência de lesões por pressão relacionada a dispositivos médicos (LPRDM) em pacientes internados. Apontou uma predominância de adultos do sexo masculino, com 53%, com idade média de 58,5 anos. Por meio do agrupamento dos diagnósticos médicos de internação, os problemas respiratórios, com 30,74%, foram os mais frequentes. Dentre as comorbidades, a hipertensão arterial apresentou 30,35%. A média de tempo de internação foi de 17,97 dias, e o tempo para surgimento de LPRDM teve média de 19,84 dias.
No mesmo ano da pesquisa anterior, um ensaio clínico randomizado com análise por intenção de tratar, envolvendo pacientes graves com alto risco para desenvolvimento de lesão por pressão em UTI, cujo título foi “O Efeito De Superfícies De Apoio Na Incidência De Lesão Por Pressão Em Pacientes Graves: Um Ensaio Clínico Randomizado”, buscou analisar se uma superfície de apoio com colchão viscoelástico é capaz de reduzir a incidência de lesão por pressão de categoria 2 em comparação ao colchão piramidal em pacientes graves internados em unidade de terapia intensiva adulto. Realizado com 62 pacientes. Houve predominância do sexo masculino (53%) e a idade média foi de 67,9 (DP 18,8) anos. A média da escala de Braden foi 10,8 (DP 1,7). Os diagnósticos de admissão mais frequentes foram sepse em 24 (38,71%), seguido de pós-parada cardíaca em 6 (9,68%), insuficiência cardíaca congestiva em 3 (4,84%), craniotomia por hemorragia intracraniana em 3 (4,84%), sangramento gastrintestinal em 3 (4,84%).
Em outra pesquisa com método de abordagem quantitativa observacional, predominantemente do tipo descritiva com delineamento transversal e abordagem longitudinal do tipo coorte prospectiva na avaliação do uso das escalas preditivas de risco de LP, a qual foi desenvolvida em 2020 e teve como título “Processo De Transição Em Pacientes Adultos De Unidade De Terapia Intensiva Com Risco De Lesão Da Pele”. O objetivo deste estudo foi avaliar os aspectos relacionados à integridade da pele em pacientes adultos internados em UTI fundamentado na teoria da transição.
Nesta análise, observou-se uma baixa incidência de LP, associado ao tempo de internação. Na comparação entre as três escalas, houve associação entre si, e a escala de Waterlow mostrou-se mais específica. Apresentaram frequências superiores a 40%: Mobilidade física prejudicada, Déficit no autocuidado para banho, Débito cardíaco diminuído, Dor aguda, Integridade tissular prejudicada, Risco de queda, Risco de infecção, Risco de tromboembolismo venoso e Risco de lesão por pressão. Contudo, pode-se dizer que há uma tendência da produção acadêmica brasileira em desenvolver pesquisas acerca da prevenção de LP, e que, embora tenham sido encontrados estudos identificando os fatores de risco para o desenvolvimento das lesões por pressão em UTI e orientando os cuidados necessários, não foram encontradas pesquisas demonstrando o protagonismo do enfermeiro gerente no planejamento das ações de prevenção, assistência e tratamento a estas condições.