Apresentação: As parteiras tradicionais são figuras representativas no cotidiano de comunidades rurais, são mulheres que prestam acompanhamento à gestante, sendo esta denominação reconhecida pelo Ministério da Saúde para designar a sua atuação na assistência ao parto domiciliar, com base em saberes tradicionais. Dentre as diversas transformações do ciclo gravídico, vale destacar as que trazem repercussões à saúde bucal e a ocorrência de manifestações clínicas, que por muitas vezes são tratadas com uso de plantas medicinais pelas populações tradicionais. No entanto, o uso de substâncias durante a gestação pode trazer consequências à saúde da mulher e ao feto. Desta maneira, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de odontólogas residentes em saúde da família no desenvolvimento de ação sobre o uso seguro de plantas medicinais no cuidado às alterações bucais comuns da gestação. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, que contém relato de experiência de ação integrada junto ao Programa de Parteiras Tradicionais do município de Bragança, Pará. O programa busca realizar a interlocução entre as parteiras tradicionais e as equipes de saúde da família, com reuniões mensais de cunho formativo e de construção compartilhada dos saberes sobre o cuidado às gestantes. Nessa perspectiva, o diálogo estabelecido com parteiras utilizou a roda de conversa como estratégia de comunicação entre os atores envolvidos. No desenvolvimento da roda de conversa, foram utilizadas placas com linguagem não verbal, para interação na dinâmica "mitos e verdades", para destacar as alterações bucais que ocorrem no período gravídico puerperal, bem como sobre as plantas medicinais utilizadas nesse processo e suas formas de utilização, destacando as mais seguras que trazem maiores benefícios às grávidas, quanto as que podem oferecer riscos, desmistificando mitos sobre a prática odontológica, e encorajando o uso seguro das plantas medicinais. Resultados: As parteiras desempenham papel importante em seus territórios, pois transmitem a cultura ancestral sobre o uso de plantas medicinais. Neste sentido, oportunizam às mulheres durante a gravidez uma abordagem que pode incluir as mudanças ocorridas na cavidade bucal, e que podem afetar a saúde geral. Portanto, estabelecer o diálogo entre a odontologia e as parteiras, no contexto de atuação na Atenção Primária Saúde favorece a troca de conhecimentos expressiva por ambas as partes. As cirurgiãs-dentistas puderam repassar o conhecimento científico ao grupo, e em contrapartida, as parteiras contribuíram com seus conhecimentos adquiridos popularmente e ao longo das gerações, resultando na construção do cuidado compartilhado, oportunizando práticas seguras à gestante. Considerações Finais: As parteiras tradicionais são importantes agentes do cuidado à saúde e por carregarem o reconhecimento do público em seu território podem atuar como elo de comunicação, identificando queixas referentes à saúde bucal e estimulando a busca pelo cuidado junto às equipes de saúde bucal, realizando a intersecção de conhecimentos tradicionais ao científico, ampliando o cuidado. Destaca-se a importância de respeitar e apreciar as técnicas de saúde tradicionais. Essa cooperação científica e ancestral nos métodos de cuidado durante a gestação podem ser melhorados, promovendo uma saúde bucal materna mais integral e sustentável.