Desafios e Exclusão no Ambiente Acadêmico: A Experiência de Grupos Marginalizados na Universidade Federal de Pelotas

  • Author
  • YASMIN CAMARGO
  • Co-authors
  • KELEN FERREIRA RODRIGUES , LAUREN LIMA BARCIA , KAROLAINE DOS SANTOS NEITZKE , MATHEUS DOS SANTOS RODRIGUES
  • Abstract
  • Introdução: O ambiente acadêmico, muitas vezes idealizado como um espaço de crescimento e aprendizado, é também um terreno repleto de desafios, especialmente para aqueles que não se encaixam nos padrões heteronormativos predominantes. A universidade, em sua maioria, ainda não está preparada ou não demonstra interesse em estar,para acolher a diversidade da sociedade como um todo. Em vez disso, frequentemente favorece um nicho específico de pessoas, deixando de lado muitos que não se enquadram nesse perfil. Objetivo: Este trabalho busca explorar e compartilhar as experiências de diferentes acadêmicos em suas lutas diárias dentro do ambiente universitário. Através de relatos e análises, pretende-se evidenciar os obstáculos enfrentados por indivíduos que desafiam as normas heteronormativas e discutir as implicações dessa exclusão no desenvolvimento pessoal e acadêmico desses estudantes. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência dos alunos da Universidade Federal de Pelotas que  compartilharam suas vivências no ambiente acadêmico, proporcionando uma visão detalhada das barreiras enfrentadas diariamente. Esses relatos revelam uma série de desafios, desde a falta de apoio institucional até atitudes discriminatórias por parte de colegas e professores. A análise dessas experiências destaca como a exclusão baseada na não conformidade com normas heteronormativas impacta negativamente o desenvolvimento acadêmico e pessoal dos estudantes.   Resultados e discussões: Para pessoas negras de baixa renda, o ambiente acadêmico muitas vezes não é visto como uma possibilidade viável, pois a perspectiva de vida para essas pessoas geralmente se limita ao trabalho árduo com baixa escolaridade, ou seja, estipula-se pela sociedade  o não ingresso e a desistência  por essas pessoas, levando a não conclusão da graduação . Quando uma pessoa negra consegue ingressar na universidade, isso é percebido como um desafio à sociedade predominantemente branca. Esse ingresso marca o início ou a continuação da experiência de ser negro, caracterizada pela exclusão e pela desvalorização dos inúmeros esforços realizados. Uma das relatoras deste trabalho fala sobre sua experiência no curso de enfermagem, que é um curso de predominância branca e, de certa forma, elitista. Dentro disso, ela traz questões como se descobrir mulher negra na universidade devido ao racismo velado que sofre no meio acadêmico e à grande diferença no seu tratamento pelos colegas e professores em comparação com os outros alunos brancos. Além disso, ela menciona que é muito difícil ocupar lugares sem ter uma liderança a quem seguir ou uma figura negra para se espelhar, visto que não se tem apoio dos componentes da universidade. A ocupação desses espaços acadêmicos é, portanto, um ato político essencial. É fundamental termos representatividade nesse meio, pois a presença de estudantes negros na universidade desafia as normas estabelecidas e abre caminho para uma maior inclusão e reconhecimento das contribuições dessas pessoas na academia. Essa intersecção socioeconômica atinge também outros nichos sociais, de diversas etnias, e percebe-se que através de experiências empíricas muitas pessoas tomam partido de realizar mudanças para si e os seus através da educação, sendo muitas vezes provenientes de famílias de classe baixa, sendo os primeiros a ingressar na universidade, muitas vezes até mesmo longes de suas famílias. Porém, o sistema aparenta desconhecer estas realidades. Outro ponto a ser abordado no ambiente acadêmico, reflete nitidamente a negligência por parte da universidade que não percebem que grande desafio diário da classe baixa não se limita apenas a ingressar no ensino superior, mas também a permanência até o final da graduação, em razão da falta de apoio financeiro para esses discentes. Dito isso, não é possível “vendar nossos olhos nossos olhos” para a sobreposição de atividades, ou seja, estudo e trabalho que esses acadêmicos da universidade enfrentam no cenário atual que são obrigados a adotar. Segundo relato da academia da instituição federal, ela informa ter uma rotina exaustiva  devido ao seu tempo reduzido e alterações de horários da grade curricular, prejudicando suas atividades no trabalho.  Ademais, relata não receber apoio da universidade em nenhuma desses dilemas apresentados acima. Sabe-se que o âmbito acadêmico é difícil para qualquer pessoa devido às dinâmicas abordadas. Quando falamos de mulheres que estão gestando durante a graduação ou mães que ingressam na universidade com seus filhos, além de todo preconceito que a mulher já sofre, elas precisam se preocupar também com o que a faculdade oferece de apoio. Em grande parte, essas mães são sobrecarregadas com a carga horária, o cuidado com os filhos e outras responsabilidades. Essa é a vivência de outra relatora, que expressa o sentimento  que a universidade não a compreende. Pelo contrário, impõe muitas outras exigências que a sobrecarregam ainda mais, desta forma a mesma não consegue dar conta de vivenciar e até mesmo cumprir o'que se é pedido. Se destaca a importância do bem estar e da saúde mental dos estudantes, já que grande parte destes alunos apresentam sintomas de depressão, estresse e ansiedade durante o período acadêmico, devido as inúmeras mudanças na vida cotidiana de cada um e suas respectivas responsabilidades que marcam este processo. Os serviços e ações de promoção destinados a auxiliar na saúde mental dos estudantes universitários são geralmente precários e demorados comparados a demanda que conforme os estudos, só aumentam. Considerações Finais: Este trabalho revela a complexidade e os desafios enfrentados por diversos grupos dentro do ambiente universitário, que não se conformam às normas heteronormativas. A análise dos relatos evidencia a falta de apoio institucional e a presença de atitudes discriminatórias, que impactam negativamente o desenvolvimento pessoal e acadêmico dos estudantes. A experiência de ser uma minoria na universidade não apenas expõe a exclusão e a desvalorização sofridas, mas também ressalta a importância da representatividade e da inclusão como atos políticos essenciais para a transformação do ambiente acadêmico. Para promover um espaço verdadeiramente acolhedor e equitativo, é crucial que as universidades reconheçam e abordem essas questões, oferecendo suporte adequado e implementando políticas que favoreçam a permanência e o bem-estar de todos os estudantes, independentemente de sua origem ou identidade.

  • Keywords
  • Minorias; Relato de Experiência; Trabalho; Dificuldade; Falta de Apoio; Graduação;
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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