Este trabalho apresenta o processo de reordenamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de São Leopoldo, colocado em desenvolvimento a partir da Conferência Municipal de Saúde Mental e do processo coletivo de construção do Plano Municipal de Saúde, ocorridos em 2021. Naquele momento a RAPS foi convocada a avaliar sua condição e estruturar um planejamento. O cenário apontava o “encapsulamento” dos serviços especializados - um Caps adulto, um Caps AD, um Caps ij e um Ambulatório de Saúde Mental - que vinham funcionando de forma centralizada, com encaminhamentos dirigidos aos especialistas e pouca incidência para instituir ações de cuidado em saúde mental no território. Buscando um retorno aos princípios da Reforma Psiquiátrica, investiu-se, no plano estrutural, no planejamento de ampliação da RAPS, por meio da expansão de equipes e serviços, e no plano operacional, em processos de gestão e de Educação Permanente em Saúde para o reordenamento dos processos de trabalho em direção à territorialização e à descentralização do cuidado, por meio da articulação com a Atenção Primária em Saúde (APS) e com demais dispositivos comunitários. Uma das ações concretas planejadas e executadas foi a transformação do Ambulatório de Saúde Mental em equipes territorializadas de apoio e suporte à saúde mental, as quais passaram a atuar na APS, com o objetivo de ampliar as condições de atendimento aos casos leves e de média complexidade junto ao território, bem como de facilitar o acesso dos usuários ao acompanhamento em saúde mental. No âmbito dos CAPS, o reordenamento deu-se no sentido de retomar o papel fundamental deste dispositivo na organização da RAPS, com seu mandato de disponibilidade irrestrita para acolhimento aos casos de maior gravidade, bem como de incorporar o território como dimensão dos processos de trabalho. Como resultado, em termos estruturais, temos atualmente 100% das regiões do município cobertas por equipes territoriais de apoio à saúde mental, bem como equipes completas nos três CAPS do município. Em termos operacionais, foram construídos avanços no reordenamento dos processos de trabalho, destacando-se as práticas de apoio matricial e o fortalecimento das equipes de referência. Com a direção de reordenamento, sustentada pelo Colegiado Gestor de Saúde Mental, o matriciamento passou a se dar de forma sistemática, inserido no cotidiano dos trabalhadores, que com carga horária protegida para atuação nos territórios, passaram a atuar como articuladores de cuidado na rede. Esse modo de fazer e cuidar em saúde criou espaços para a discussão qualificada dos casos e para a análise dos processos de trabalho. Assim, potencializam-se as ações de corresponsabilização, de cuidado compartilhado e de encaminhamento implicado. Entre os avanços, são encontrados também muitos desafios, visto tratar-se de um trabalho que só pode ser mantido com forças coletivas. Nesse sentido, conclui-se que é preciso sustentar e fortalecer as bases da Reforma Psiquiátrica no âmbito do SUS. Os processos de trabalho da atenção especializada devem seguir orientados pela produção de saúde no cotidiano do território, onde a vida das pessoas acontece, sempre articulado com a APS. Afinal, para garantir a integralidade do cuidado, é preciso tecer redes.