Introdução:
A Atenção Básica à Saúde (ABS) é considerada a estratégia central para a organização dos sistemas de saúde, pois sua disposição territorial possibilita os primeiros contatos dos usuários com a rede de saúde bem como a coordenação do cuidado e acompanhamento longitudinal das pessoas. Para além o cuidado individual das pessoas com COVID-19 ou sintomas respiratórios há uma ampla variedade de ações de cuidado coletivo que podem ser implantadas pela ABS no combate à pandemia.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de casos múltiplos realizada em seis municípios pertencentes a duas regiões de saúde do estado de São Paulo. Foram realizadas 29 entrevistas com gestores e profissionais da saúde, gravadas em mídia eletrônica, transcritas e posteriormente codificadas utilizando-se o software Atlas.TI. O período de coleta de dados ocorreu entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP e conta com financiamento da FAPESP (PPSUS-2020). Este resumo apresenta os resultados parciais desta pesquisa.
Resultados
Pode-se afirmar que a ABS assumiu a vigilância dos pacientes de seu território, realizando o monitoramento das pessoas com diagnóstico confirmado de COVID-19 que apresentavam fatores de risco para agravamento, seus familiares e comunicantes além de pacientes em investigação de queixas respiratórias. A maioria dos municípios pesquisados realizou o monitoramento por meio do uso das tecnologias de informação e comunicação, em especial telefones e aplicativos de mensagens como o WhatsApp®. Observou-se resistências de algumas equipes da ABS em assumir as funções de vigilância e monitoramento por acreditarem que esta seria função específica da vigilância epidemiológica e sanitária. As UBS atuaram na testagem da população para aumentar o diagnóstico de pacientes sintomáticos ou não. Inicialmente poucas unidades realizavam a testagem e, quando ocorria, circunscrita a pacientes sintomáticos ou que fizessem parte de grupos de risco. Com a maior disponibilidade de testes, treinamento das equipes e equipamentos de proteção individual, mais UBS passaram a realizar a testagem, até que a mesma se tornasse algo rotineiro dentro da UBS, realizado já no acolhimento pela equipe de enfermagem. Várias equipes da ABS foram deslocadas para realizar a testagem da população em lugares públicos ou em barreiras sanitárias instituídas pelos municípios. Com a chegada das vacinas contra a COVID-19, as equipes da ABS tiveram papel ativo na imunização. Várias foram as estratégias desenvolvidas: em alguns locais foram selecionadas unidades para realizar a vacinação de forma exclusiva, em outros houve o aumento do horário de atendimento, inclusive aos finais de semana ou ainda, foram instituídos sistemas de mutirão para a vacinação. Todas essas estratégias tinham como objetivo a tentativa de vacinar a população alvo de cada uma das etapas de forma rápida e segura.
Considerações Finais
Os resultados mostram que a plasticidade e capilaridade da ABS permitiu mudanças na atuação na ABS, ampliando seu escopo de atuação e permitindo com que novas funções, ou funções já estabelecidas, mas que não tinham sido efetivadas, fossem operacionalizadas em ato durante a pandemia.