O ato de migrar pode ser compreendido como um deslocamento de um indivíduo ou grupo de um lugar a outro. Dentre os inúmeros motivos que levam à migração, pode-se pensar na procura de melhores oportunidades de emprego, educação, acesso à saúde e proteção, entre outros. Convém pontuar que, nesses deslocamentos, têm-se, muitas vezes, as migrações de crianças, as quais são pouco faladas e, consequentemente, pensadas em termos de asseguramento de direitos. No que se refere à proteção das crianças, a saúde e a educação se colocam como direitos fundamentais. Assim, uma vez que o conceito ampliado de saúde abrange alimentação, moradia, educação, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, transporte, lazer e do acesso aos bens e serviços essenciais, entende-se, no presente trabalho, que a educação é fator protetivo e constituinte do conceito de saúde, tendo como foco um grupo de crianças migrantes venezuelanas, em um município do interior do Rio Grande do Sul. O número de estudantes migrantes matriculados nas escolas brasileiras aumentou significativamente no período de 2010 a 2019 e segue crescendo em todos os níveis da educação básica. Considera-se que o espaço da escola situa-se no “entre”: entre a saúde e a educação, sendo que a instituição escolar, por meio do acolhimento e investimento nos alunos, tensiona campos variados. A pesquisa utilizou a cartografia como ferramenta teórico-metodológica, a qual compreende o percurso do pesquisar de modo dinâmico, fluido e produzido pelo próprio processo. Para a produção de dados, foram realizadas observações participantes e encontros com as crianças migrantes e seus familiares, bem como com os professores. A investigação foi desenvolvida em uma escola estadual, na qual há um número significativo de estudantes migrantes matriculados, todos oriundos da América Latina, especialmente da Venezuela. Atualmente, a pesquisa está na etapa de análise dos dados, visando contribuir para a atuação de diferentes profissionais que trabalham em serviços educacionais e de saúde. Os resultados preliminares indicam que a escola se constitui como fator de extrema importância para as crianças migrantes e suas famílias, visto que esse espaço torna possível diversas articulações. Destaca-se que, para muitos migrantes, as possibilidades referentes à educação escolar foram critérios de escolha do local de destino. Ao mesmo tempo, a escola também é percebida como um lugar permeado por dificuldades, isolamentos e invisibilidades, tanto para as crianças quanto para a equipe escolar, visto que há uma carência de recursos e orientações sobre a acolhida de alunos estrangeiros. Tais dificuldades afetam o processo de acolhimento e inclusão não apenas escolar, mas social e integral dos alunos. Tais resultados apontam a necessidade de uma maior compreensão das tensões que se estabelecem no que se refere aos processos de in/exclusão escolar desse público para além dos muros da escola, considerando que o acesso à educação é fundamental para que se alcance um estado de saúde pleno.
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