No mundo, aproximadamente 39 milhões de pessoas vivem com HIV (PVHA) e dessas, cerca de 630 mil morreram de causam relacionadas ao HIV. Dessa população, pouco mais de 28,7 milhões estavam fazendo uso da terapia antirretroviral (TARV), aproximadamente 75% da população geral. (Brasil, 2021). No Brasil, em 2023, foram notificados 43.403 casos de infecção pelo HIV, dos quais 15.064 na região Sudeste (34,7%), 11.414 no Nordeste (26,3%), 6.900 no Sul (15,9%), 6.200 no Norte (14,3%) e 3.825 no Centro-Oeste (8,8%). O estado do Amazonas, localizado na região norte do país, apresenta-se como o 11º estado brasileiro em número de casos, de 2022 a 2023, foram registrados 4.392 casos de HIV/Aids, sendo 2.408 casos em 2022 e 1.984 em 2023. Somente na capital Amazonense foram notificados mais de 1.600 casos, incluindo gestantes com 253 casos, crianças com 3 casos e adultos com 1.459 casos, seguido dos municípios de Parintins e Iranduba, sendo que as maiores detecções estão no grupo de adultos (13 anos ou mais) elevando expressivamente o número total. As maiores taxas de mortalidade foram identificadas no munícipio de Jutaí com 7,2 seguido do município de Iranduba com 6,1 sendo que a taxa da capital de 4,5; de janeiro a maio de 2024 já foram notificados 134 óbitos, esses dados são referentes ao Painel Epidemiológico HIV/AIDS do Amazonas da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas. Historicamente, a infecção pelo HIV é considerada um problema de saúde pública desde seu surgimento, conhecida do ano de 1981 através do boletim do CENTERS FOR DISEASES CONTROL – CDC por casos de pneumonia em jovens homossexuais em Los Angeles por Pneumocystis carinii que apresentou relação direta de imunossupressão dos linfócitos CD4 e CD8, é um retrovírus que apresenta curso crônico, longo período de latência, replicação viral persistente e envolvimento do sistema nervoso central (SNC). Atualmente, a faixa etária que apresenta maior número de detecção no Brasil está entre 20 a 34 anos, representando 52,9% dos casos, e em sua maioria indivíduos do sexo masculino (69,8%). No ano de 2016, países membros da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) vinculados a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançaram o “Plano de Ação para a prevenção e controle da infecção pelo HIV e infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) 2016-2021”, visto que a partir de 2010 houve um aumento no número de casos em 21% e dentro desse universo alguns grupos apresentaram maior risco, identificados como população-chave, entre eles: homossexuais, homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres trans e profissionais do sexo. Diante desse contexto e da atuação na residência de enfermagem em infectologia nos anos de 2022 a 2024, viu-se a necessidade de identificar as características sociodemográficas dos usuários assistidos pela unidade de referência do Amazonas a fim de comparar ao padrão nacional bem como reforçar suas peculiaridades a fim de promover reflexões e gerar discussões no meio acadêmico quanto as demandas dessa população. O objetivo do estudo foi caracterizar as Pessoas que vivem com HIV (PVHA) assistidas pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) por meio de um recorte do estudo intitulado “WHODAS 2.0: Avaliação de saúde e incapacidade de pessoas vivendo com HIV/AIDS”. Estudo transversal, de caráter descritivo realizado com 100 usuários assistidos pelo Serviço de Assistência Especializada (SAE) ao HIV/AIDS da FMT-HVD, a escolha do local se deu por ser a unidade de referência no tratamento das doenças tropicais e infectocontagiosas do estado do Amazonas e recebe os usuários de todos os municípios do estado, ofertando desde o serviço ambulatorial a unidade de internação hospitalar. A coleta de dados ocorreu durante o período de outubro a novembro 2023, por meio da aplicação de um questionário estruturado com dados demográficos dos indivíduos incluídos no estudo, mediante aos seguintes critérios: diagnóstico de HIV > 3 anos, em acompanhamento médico e uso da Terapia Antirretroviral (TARV) no mínimo a 6 meses. O estudo foi aprovado pelo Comitê de ética e Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas (UEA): CAAE 71746023.8.0000.5016. Como limitação listamos a impossibilidade de realizar a pesquisa em todos os serviços especializados que atuam com a descentralização no estado, dado a indisponibilidade de tempo e recursos bem como há não especificação do variável gênero, promovendo a discussão da necessidade de um novo estudo com essa finalidade. Dentre os resultados obtidos, evidenciou-se como perfil das PVHA no Amazonas: predominância de indivíduos do sexo masculino (67%) com faixa etária de 38 a 47 anos, seguido de 28 a 37 anos, 36% e 23%, respectivamente; nível de escolaridade de 4 a 8 anos de estudos (43%) e 9 a 11 anos (36%); 38% nunca casou e 22% são casados; 36% desempenham trabalho remunerado e 27% estão desempregados por problemas de saúde; no geral, 58% declaram ser independentes na comunidade e 42% vive com assistência/benefício. Ao traçar o perfil sociodemográfico das PVHIV no Amazonas, compreende-se melhor a demanda que chega ao profissional da saúde da referência e das unidades descentralizadas disponíveis na capital e no interior do estado. Além disso, permite ao serviço o fortalecimento dos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS), com ênfase na integralidade e equidade a fim de tratar de forma assertiva as necessidades apresentadas, tais como o anseio pela qualidade de vida que resulta do aumento da expectativa de vida da PVHA, a conscientização quanto a adesão ao tratamento e uso regular da TARV e a continuidade do acompanhamento médico e realização dos exames de rastreamento e rotina, a necessidade de participação e inserção no mercado de trabalho que influencia diretamente na autonomia e independência do indivíduo, além das questões psicológicos que demandam uma assistência interdisciplinar com foco na aceitação e empoderamento do indivíduo quanto a sua condição de saúde e realização do autocuidado. No geral, os resultados apontam para uma equiparação com os dados nacionais, especialmente quanto a representatividade do sexo masculino e faixa etária jovem, permitindo atuar de maneira a fortalecer a busca ativa, diagnóstico oportuno e medidas de prevenção com políticas acessíveis, a exemplo do fortalecimento do Programa Nacional de DST/AIDS e a Política Nacional de DST/AIDS – princípios, diretrizes e estratégias; somado as medidas as de prevenção e controle, como a PREP (Profilaxia Pré-Exposição), a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) ao HIV e a Prevenção Combinada com foco na atenção primária a saúde com foco na desmitificação dos estigmas sociais fortemente construídos mediante a história natural da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), fortemente associada a infecção e pouco compreendida quanto aos seus mecanismos de prevenção. Além do reforçar as políticas de renda, considerando que 42% dessa população vivem com benefício e 27% estão desempregadas por problemas de saúde, e, alguns estudos já evidenciam as limitações em que as PVHA estão sujeitas a sofrer ao longo dos anos que podem afetar sua funcionalidade, especialmente nas capacidades cognitivas, demência relacionada ao HIV e alterações na mobilidade. Por fim, reforçamos a importância da atuação do enfermeiro no serviço especializado bem como o pensar criticamente nas ações públicas voltadas às populações vulneráveis como a população LGBTQIAPN+, evidenciando suas características e necessidades de cuidado, pois esse profissional é o primeiro a estabalecer um vínculo com o usuário no SAE.