A MORTE NO COTIDIANO DE TRABALHO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA PELA COVID 19.

  • Author
  • Raila Souza Quinto
  • Co-authors
  • Victor Bento Silva , Lorena Costa Soprani Pereira , Rafaela Ferreira Nascimento , Jeremias Campos Simões
  • Abstract
  • Apresentação: do que trata o trabalho e o objetivo: A morte é tratada superficialmente, dissertar sobre ela vai além da perspectiva biológica, pois implica em lidar com a tristeza e o luto. Nesse contexto de práticas assistenciais, temos a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), considerada um ambiente de fronteira entre esse fenômeno, gerando atravessamentos nos profissionais de saúde que nela atuam, em especial aos profissionais da enfermagem, que precisam no cotidiano do trabalho, flexibilização e estratégias de enfrentamento ao fenômeno da morte. Nesse contexto, as doenças infecciosas são marcos desafiadores para os profissionais de saúde e algumas delas provocam altas taxas de mortalidade. A pandemia ocasionada pelo novo Coronavírus (SARSCoV-2), causador da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), assumiu graves consequências epidemiológicas, gerando inúmeras mortes e prejuízos inestimáveis à sociedade, que em meio ao trabalho de contenção da disseminação do vírus, buscou por estratégias de enfrentamento da finitude da vida em função do expressivo índice de óbitos causados pela pandemia. Este estudo teve como objetivos: compreender como a morte de pacientes, em tempos de pandemia pela COVID-19, afetou a equipe de técnicos em Enfermagem de uma UTI e traçar o perfil sociodemografico da equipe de Enfermagem da UTI de um Hospital Estadual de referência, no Município de Serra, Espírito Santo. Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência ou método do estudo Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa. A produção de dados aconteceu entre fevereiro e outubro de 2020, período crítico da Pandemia pela COVID-19.  Foram realizadas entrevistas individuais, in loco, ou seja, no ambiente de trabalho dos entrevistados, tendo os pesquisadores respeitados todos os aspectos de segurança com uso de equipamentos de proteção individual. Para os critérios de inclusão foi estabelecido ter vínculo empregatício com a instituição; atuar na UTI como técnico de enfermagem por mais de seis meses. Os critérios de exclusão foram: possuir menos de 3 meses de experiência como técnico de enfermagem, na UTI. O estudo descritivo procura descrever as características de um grupo de acordo com suas experiências. Para produção dos dados foram realizadas entrevistas individuais, in loco, ou seja, no ambiente de trabalho dos entrevistados. Os dados foram registrados por meio de formulário eletrônico, e a posteriori utilizado o software Microsoft Excel 2016 para a tabulação dos dados, seguido da descrição absoluta das respostas. Respeitando as diretrizes de pesquisa envolvendo seres humanos, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob parecer nº4.206.680.Resultados: os efeitos percebidos decorrentes da experiência, ou resultados esperados ou encontrados na pesquisa; Foram abordados para as entrevistas 33 técnicos de enfermagem. Para a coleta de dados foram utilizados dois questionários o primeiro traça o perfil sociodemografico dos participantes e o segundo questionário investigou elementos da saúde mental e o amparo psicológico dos sujeitos da pesquisa. A análise dos dados sociodemográficos evidenciou a seguinte população de estudo: prevalência do sexo feminino (93/94%), a faixa etária predominante foi de 20 a 30 anos, correspondendo a 39,30% (13). A religião predominante entre os entrevistados foi a de origem cristã, sendo 42,42% protestantes (14), e 15,15% católicos (06). Quanto ao tempo de vínculo de trabalho (10,53%) possuíam menos de seis meses de vínculo empregatício com a instituição, na qual (31,58%) possuíam vínculo de seis meses até quatro anos, e aqueles que possuíam tempo de vínculo superior a 4 anos (57,89%). Os dados sociodemográficos do presente estudo são semelhantes aos encontrados em estudo multicêntrico coordenado pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e pela FIOCRUZ, em que identificou que a equipe de Enfermagem no Espírito Santo, segundo o sexo feminino representa 88,7% dos profissionais, atingindo 37.837, já o sexo masculino representa 11,3% equivalente a 4.803. A religiosidade aparece nesse estudo pela manifestação da crença cristã entre a maioria dos entrevistados. Os técnicos de enfermagem que apoderassem da religiosidade na sua profissão mencionam os benefícios utilizados em seu cotidiano, como, por exemplo, o conforto para acalmar o paciente que sofre, na solicitação de apoio em momentos de realização de procedimentos e de intercorrências. Outra característica importante da assistência está no tempo de vínculo institucional. Entende-se que, de acordo com a progressão do tempo de vínculo empregatício, haja uma rotatividade dos profissionais de enfermagem dentro dos setores, os quais, através das dinâmicas e realidades de trabalho variadas, devido as demandas que cada setor necessita, torna-se um risco potencial ao adoecimento mental, no qual, afeta as relações sociais e de trabalho. A análise dos dados da saúde mental, evidenciou que, quanto ao apoio psicológico, 66,67% dos entrevistados afirmaram ter algum tipo de suporte psicológico oferecido pela instituição de trabalho, enquanto 33,33% relataram não ter acesso a nenhum suporte. Entre os profissionais que acessaram serviços de apoio psicológico, apenas 42,42% expressaram satisfação, enquanto 57,58% manifestaram insatisfação do suporte oferecido. Segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem de São Paulo (COFEN-SP, 2021) sobre adoecimento mental, 53% dos participantes afirmaram sofrer de problemas de saúde mental decorrentes do trabalho, e 37% relataram já ter pensado em se ferir em função desses problemas. Isso ocorreu devido às altas demandas de trabalho durante a rotina estressante, especialmente agravada pelo contexto da pandemia de COVID-19, que levou os profissionais ao esgotamento físico e emocional, demandando suporte psicológico. Durante a assistência, 90,91% dos entrevistados tiveram experiências do lidar com a morte. Dentre eles, 75,76% relataram dialogar sobre o processo de morte, evidenciando o abalo emocional que enfrentam. Dos 33 entrevistados, 78,79% foram emocionalmente afetados ao lidar com a morte de pacientes. Além disso, 63,64% dos entrevistados relataram preparar de 1 a 10 corpos durante sua assistência dos últimos três meses, enquanto 24,24% prepararam 10 ou mais corpos. Considerações finais Após análise cuidadosa do perfil sociodemográfico é importante destacar que, mesmo diante desse contexto desafiador, há também profissionais que, embora sejam afetados emocionalmente pela morte de seus pacientes, enfrentam dificuldades em reconhecer e lidar com suas próprias dores. Essa dificuldade pode ser atribuída a diversos fatores, como a necessidade de manter uma postura profissionalmente distante ou o medo de serem sobrecarregados emocionalmente. Esse estudo revela a necessidade urgente de um suporte psicossocial adequado e abrangente às necessidades das trabalhadoras e trabalhadores de saúde, que lidam com a morte em seu cotidiano de trabalho. A naturalização da morte pelos técnicos de enfermagem, reverbera em crenças de que o fenômeno morte faz parte do cotidiano da assistência de enfermagem. No entanto, com o surgimento da pandemia pela COVID19 e consequentemente o aumento do número de óbitos, acarretou impacto na saúde mental dos profissionais. Esses resultados apontam a importância de oferecer apoio psicossocial adequado aos profissionais de enfermagem, principalmente diante do contexto desafiador da morte.

  • Keywords
  • Equipe de Enfermagem, Técnicos de Enfermagem, trabalho, Morte.
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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