Apresentação: A gestação é um processo único e depende dos determinantes sociais de saúde que a cercam. Um desses, as redes de apoio, se mostra essencial para que a gestante tenha quem lhe assistir nos momentos delicados do processo, receba ajuda para comparecer a consultas pré-natais, e receba apoio emocional durante o processo, que a torna emocionalmente vulnerável. Apesar de tudo, sabe-se que estar em grupo faz bem. Diante disso, o presente relato visa descrever a partir da ótica de acadêmicos de medicina da Universidade Federal do Amazonas as experiências obtidas em um grupo de gestantes indígenas em contexto urbano na “Comunidade Parque das Tribos”, Manaus, Amazonas.
Desenvolvimento: Institucionalmente para a faculdade o projeto era uma atividade curricular de extensão (PACE). Os encontros eram realizados semanalmente às sextas-feiras em uma igreja - localizada no Parque das Tribos, em Manaus/Amazonas - que cedeu espaço para a realização das atividades do projeto Bom Parto. O projeto Bom Parto foi uma iniciativa da equipe de saúde itinerante que atende o território, pois era necessário o atendimento semanal das gestantes, mas por problemas logísticos isso não foi possível. Foi então que uma Fisioterapeuta, uma Enfermeira, uma Assistente Social e uma Técnica de Enfermagem conseguiram uma forma de buscar as gestantes em suas casas e levá-las aonde pudessem receber atendimento das especialidades ora descritas. Lá eram realizadas as consultas de pré-natal, práticas integrativas de cuidado, aconselhamento sobre direitos e deveres e realizado acolhimento às gestantes.
Resultados: Quando eram propostos momentos de roda de conversa, as gestantes acolhiam umas às outras. Essa experiência impactou profundamente a formação dos acadêmicos, pois ver as mais velhas e já multíparas compartilhando suas vivências com as primíparas representava um momento de troca de saberes pouco encontrado na universidade. Assim, observa-se que não somente aquilo aprendido na academia tem importância quando se trabalha com a comunidade, mas que a própria é rica em conhecimentos totalmente aplicáveis. Em se tratando de Atenção Primária à Saúde, os acadêmicos presenciaram em sua experiência os conceitos aprendidos sobre as atribuições da APS quando a competência cultural era respeitada durante os atendimentos e os cuidados indígenas eram associados ao pré-natal biomédico - quanto ao uso de chás e banhos de assento utilizando ervas regionais. A integralidade era visualizada através da atuação multiprofissional da equipe, ao passo que a longitudinalidade estava na relação de intimidade que mantinham as gestantes e a equipe. Já a coordenação do cuidado era mantida em conjunto com a unidade-base a quem a equipe de saúde itinerante respondia e as consultas com outras especialidades não disponíveis no projeto eram bem articuladas e acompanhadas de perto.
Considerações Finais: Diante dos fatos mencionados, tem-se a presente vivência como uma excelente experiência a complementar a formação dos autores, de modo que puderam aplicar alguns conhecimentos que aprenderam na faculdade sobre pré-natal e aprender sobre como ensinar para a comunidade e sobre formas de educação em saúde, que não devem se prender somente a panfletagem e palestras tecnicistas.