Apresentação: Os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) emergem como uma importante estratégia de qualificação da formação de profissionais da saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS). Tem como concepção o sistema de saúde como escola, onde os serviços se tornam cenários de formação e domínio das práticas de cuidado. Além disso, tomam a educação permanente em saúde como estratégia metodológica de integração ensino-serviço-comunidade-gestão. Esta modalidade de formação tem apresentado um potencial significativo, uma vez que, além de induzir mudanças na formação, dos profissionais de saúde, especialmente na modalidade multiprofissional, pois a educação interprofissional ainda é tímida na graduação. O processo de aprendizagem na residência multiprofissional provoca transformações nas equipes em que os/as residentes estão inseridos, no processo de trabalho e nos modos de produzir saúde localmente. Criado em 2019, a partir de uma articulação entre a Fiocruz Brasília e a Coordenação de Atenção Primária à Saúde (COAPS) do Distrito Federal, o Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica (PRMAB) da Escola de Governo Fiocruz Brasília (EGF) tem como eixo estruturante e metodológico a Educação Popular em Saúde. Diante disso, objetivamos, neste ensaio, refletir acerca da práxis pedagógica permeada pela Educação Popular em Saúde no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica da EGF Brasília. Desenvolvimento: Para Freire, o ato de educar, pressupõe a ação de aprender. Assim nos colocamos, como ensinantes e aprendizes no agir pedagógico. Em recente reedição, o Projeto Político Pedagógico (PPP) do PRMAB teve como eixo estruturante e metodológico a Educação Popular em Saúde, sendo esta incorporada na matriz pedagógica do programa e tendo por base os princípios da EPS, especialmente aqueles referenciados pela Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (PNEPS – SUS). A incorporação da EPS como eixo estruturante e metodológico do programa no PPP passou por um processo de discussão, alinhamento e amadurecimento entre o corpo docente compreendido pelos preceptores, tutores de núcleo e tutores de campo, docentes, coordenação e apoiadores, e corpo discente. A finalização desta etapa de discussão e alinhamento aconteceu em um formato de oficina com duração de três dias, onde os atores e atrizes envolvidos fizeram contribuições para a escrita final do PPP. Essa aposta deve-se ao fato de compreendermos que ao assumirmos os serviços de saúde como espaço de aprendizagem, reafirmamos o nosso compromisso com a universalidade, a equidade, a integralidade e a efetiva participação popular no SUS. Destaca-se também, que como ensinantes aos nos colocarmos como aprendizes neste processo, nos abrimos e abrimos espaço para relações dialógicas e para metodologias participativas que privilegiem a problematização, a reflexão e o encontro de saberes. Resultados: Ensinar e aprender com o corpo inteiro – é uma relação que necessita de inteireza, inteireza do corpo e dos corpos – docente – discente. A formação em saúde ainda é um espaço predominantemente de assujeitamento e de normativa da vida, do saber – ser – agir – fazer uma formação que convoca a movimentar a vida é um desafio. Neste sentido, a Coordenação Político Pedagógica do PRMAB tem lançado mão de várias estratégias, com o intuito de que a prática de ensino-aprendizagem do programa seja cada vez mais fortalecida por um agir pedagógico permeado pela educação popular em saúde, dentre as práticas já alcançadas estão a implementação dos módulos teóricos com as temáticas da educação popular em saúde, vigilância popular em saúde e participação popular. Outra estratégia que o PMAB vem desenvolvendo é a aproximação dos educandos e educandas de vivências de formativas com os movimentos populares, esta aproximação tem sido estimulada a partir da interlocução com outros projetos de Educação Popular promovido pelo Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação na Saúde – Angicos da Escola de Governo Fiocruz Brasília, que é o local onde o programa de residência encontra-se institucionalmente. Para além da interlocução com estes projetos o programa também tem estimulado que os/as residentes realizem seus estágios junto aos movimentos populares. Considerações Finais: As residências em saúde têm o papel importante de induzir novas práticas de cuidado à saúde, promotoras de processos participativos entre a comunidade-usuários-serviços, visando entre outros a problematização das realidades encontradas nos territórios e a autonomia dos sujeitos. Porém, quando os/as residentes chegam aos serviços encontram muitas resistências de fazerem e ou estabelecerem práticas diferentes daquelas já conformadas. Tal situação muitas vezes acaba gerando sentimento de impotência de agir e incidir sobre a realidade encontrada nos serviços. Introduzir os módulos de educação popular em saúde, vigilância popular em saúde e participação popular tem ajudado a pensar em estratégias que permitam os/as residentes interferirem nas realidades e problemas encontrados nos territórios e no processo de trabalho, através das leituras e discussões realizada coletivamente, o que permite ao grupo trazer exemplos de situações problemas do cotidiano e pensar coletivamente alternativas de superação dessas situações. Também através das ferramentas para pensar uma vigilância popular de base territorial, com a inserção de todos os atores e atrizes envolvidos e a inserção dos/as residentes nas conferências de saúde e conferências temáticas. Já a vivência em outros projetos de educação popular que acontecem juntos aos movimentos populares tem permitido um intercâmbio de experiências entre os residentes e as pessoas que constituem esses movimentos, experiências essas que, muitas vezes tem como local de encontro o próprio cenário de prática, o que permite inclusive o envolvimento de trabalhadores e usuários do serviço de saúde local. Estar em cenários de vivência que compõe a Atenção Básica, impera uma prática que seja permeado pelo movimento de uma práxis freireana, constituída pela problematização e pela reflexão crítica da realidade. Que não seja apenas prescritiva, mas para além disso, criativa e constitutiva de outros jeitos de ser-estar e de pensar o cuidado à saúde, as pessoas e coletividades. Neste sentido, o Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica da Escola de Governo Fiocruz Brasília, tem realizado um movimento contínuo e em ato, de corpo inteiro e com todos os corpos. Essa prática é o que nos aproxima e permite assumirmos cotidianamente o compromisso de fazer uma formação compromissada com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.
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