Rádio Curupira: bem viver, emancipação e florestania

  • Author
  • Márcio Mariath Belloc
  • Co-authors
  • Larissa Alves Sousa
  • Abstract
  • A Rádio Curupira, uma ação de discentes para discentes da Universidade Federal do Pará, surge da necessidade de mais espaços para a promoção e proteção do bem-viver amazônida. Tal ação é provocada pela Superintendência de Assistência Estudantil, que segue apoiando o projeto, a partir do trabalho desenvolvido pelos professores Márcio Mariath Belloc e Károl Veiga Cabral em suas pesquisas de doutorado junto à Asociación Socio Cultural Rádio Nikosia, de Barcelona (Espanha), bem como em sua experiência com projetos comunicacionais no âmbito da saúde mental coletiva em território nacional. Tal experiência parte da produção de vida e cidadania engendrada na criação coletiva de ações culturais, tendo como base espaços plurais contra-hegemônicos, nos quais o Comum é tecido e tramado pelas singularidades envolvidas. Dessa forma, são necessariamente articulados aos territórios existenciais de seus participantes, diagnosticados ou não-diagnosticados com problemas de saúde mental.

    Da experiência catalã, nosso projeto amazônida se nutre de sua especificidade de promover tais espaços fora das redes institucionais de cuidado em saúde mental, assim como a de construir as ações de forma assembleária, transversalizando os processos de trabalho e de criação. Tal como em Radio Nikosia, não se trata de uma terapêutica no sentido estrito, mas de fazer, com as potencialidades e os limites de cada participante, o melhor programa de rádio possível. É o caminho dessa construção que tem demonstrado, na rádio-irmã (mais velha) barcelonesa, a produção de saúde mental pela via da cidadania.

    Nosso território é distinto do que produziu nossa irmã europeia. Ele impõe outros desafios, mas também ensinamentos importantes para agregarmos às nossas ações. É nesse sentido que utilizamos o bem-viver, tal como o define a tradição milenar dos povos originários destas latitudes amazônicas que habitamos, como conceito chave para a organização e direção de nossas ações. É preciso ir mais além da clássica divisão entre corpo e mente, entre biológico e psíquico, agregando a noção do coletivo em relação ao meio, à floresta em fauna e flora, às águas, aos saberes e às ancestralidades amazônicas. Trata-se de produzir conhecimento com a natureza, sendo parte dela, tecendo um espaço de resistência e reinvenção para uma academia que se abra à cidadania e à florestania. Convocamos o/a/e Curupira em sua força de proteção dos saberes, energias, elementos, fauna, flora e gentes da floresta. Curupira como um devir antirracista, antpatriarcal e decolonial.

    O grupo da Rádio Curupira é formado por discentes de distintos cursos de graduação e pelos citados docentes. Além de construir em assembleia quinzenal todas as ações de planejamento, produção, gravação, veiculação e divulgação, estrutura-se como um dispositivo de baixa exigência. Todos/as/es Interessados/as/es participam do projeto com o tempo e da forma que podem, presencialmente em sua maioria, mas também com contribuições remotas. A ideia base é a de constituição de um grupo plural, apoiando-nos nas singularidades para construção do Comum, tramando um horizonte emancipatório nessa coletividade, que intenciona alcançar não somente os participantes diretos, mas também nossos ouvintes que acessam nossas vozes pelas plataformas virtuais: Rádio Curupira no Spotify  e @radiocurupiraufpa no Instagram.

  • Keywords
  • Bem viver, emancipação, florestania, Amazônia
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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