Apresentação
A dengue é uma doença com impactos significativos tanto na saúde pública quanto na economia. Em termos de saúde, pode causar desde sintomas leves, como febre e dores musculares, até formas graves e potencialmente fatais. Ao mesmo tempo em que a doença sobrecarrega o sistema de saúde, economicamente gera custos significativos para o controle do vetor, para o tratamento dos infectados, em especial aqueles com quadros graves, e relativos ao absenteísmo no trabalho. Naturalmente, os impactos da dengue se tornam ainda mais relevantes no cenário vigente em que, apesar do amplo conhecimento sobre da doença, há dificuldade em seu manejo, o que resulta em elevação na morbidade e mortalidade, além do aumento significativo no dispêndio de recursos.
Em 2023 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou imunizante contra a dengue e a vacina foi incorporada ao Programa Nacional de Imunização (PNI) em dezembro do mesmo ano. Apesar de ser uma tecnologia promissora, não encontramos na literatura uma análise econômica da vacina QDENGA em região de fronteira, de modo que a evidência atualmente disponível não viabiliza a adequada avaliação dessa tecnologia em saúde neste cenário.
O principal objetivo deste projeto é avaliar a custo-efetividade da QDENGA em região interiorana de fronteira. Como objetivo secundário, espera-se desenvolver um guia metodológico para a realização de estudos econômicos sobre vacinação a partir de dados secundários
Desenvolvimento do trabalho
Desenho do estudo
Trata-se de uma avaliação econômica do tipo custo-efetividade baseada em dados secundários.
População e local do estudo
Serão incluídos no estudo os usuários do sistema público de saúde dos municípios que compõem a IX Regional de Saúde do Estado do Paraná (Itaipulândia; Matelândia, Medianeira, Missal, Ramilândia, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu). Essa população apresenta um contexto específico. Além de estar dentro da faixa de fronteira da fronteira internacional mais densamente povoada e com maior fluxo diário de pessoas, é uma região com alta taxa de incidência da dengue. Consequentemente, apresenta elevado número de usuários migrantes do sistema de saúde em geral, ao mesmo tempo em que as ações em saúde têm alcance prejudicado pela migração pendular existente.
Perspectiva da análise
Nas discussões de Avaliação Econômica em Saúde, se torna fundamental a afirmação e consolidação de uma perspectiva, a qual é definida pelo ator que irá arcar com os custos. Em nossa pesquisa, o ator será o próprio sistema público de saúde. Portanto, os custos de interesse para nossa análise serão aqueles gerados pelas internações, custos medicamentosos de tratamento e outros custos periféricos que podem ser de responsabilidade da gestão, como o de possíveis transportes.
Horizonte temporal
A dengue é uma doença sazonal com maior incidência nos meses quentes e menor incidência nos meses frios. Considerando que a incidência da dengue está associada a fatores ligados ao tempo atmosférico, utilizar-se-á o horizonte temporal que conte com as 4 estações do ano. Para abarcar o curso natural da morbidade da doença e o tempo em que a tecnologia tenha seus impactos presentes a nível populacional, utilizaremos o horizonte temporal de 16 anos.
Desfechos e descontos
Os principais desfechos serão os estados de saúde relativos à doença e o número de mortes evitadas. Os descontos, por sua vez, serão padronizados a partir da recomendação das diretrizes metodológicas de avaliação econômica.
Custos analisados
Serão incorporados custos diretos a partir da análise de estimativas secundárias, que relaciona os casos de dengue e seus custos individuais. Com esses dados, será possível fazer uma estimativa do tamanho população em risco de cada cidade da IX Regional. Essa possibilidade é dada pela existência de literatura que levanta os custos da dengue, que poderiam ser transportados para a realidade estudada.
Modelo de análise
O modelo proposto será o de Markov. Para a realização, serão demandados alguns componentes, a realização de uma pesquisa válida de custo-efetividade passa pela utilização correta desses elementos, a estrutura e os parâmetros. A estrutura está relacionada aos estados de saúde, que devem considerar a literatura acerca da história natural da doença para a criação de diversas situações possíveis. Vale notar que esses estados não devem ser interferidos pelas condições anteriores de saúde dos indivíduos, sendo a ideia de não dependência de variáveis anteriores para a probabilidade seguinte uma suposição importante das cadeias de Markov. Porém, essa suposição não se confunde com o fato de que o modelo parte do princípio da capacidade de se detectar re-infecção com a condição da doença. De tal modo, parte-se da lógica que o indivíduo pode voltar a ter o estado de doença após o momento que se contaminou pela primeira vez.
Análises e suposições
Como um modelo probabilístico que transpõe a condição de saúde para um indivíduo por meio de coorte simulada, os métodos de extrapolação também tornam-se importantes. Pelas características supracitadas do estudo, um caminho indicado é o de valores constantes para extrapolação. Colocam-se então os custos constantes e se utiliza com o mesmo valor como comparador.
Riscos
Algumas preocupações que podem ser levadas em conta na execução da análise de custo-efetividade estão ligadas à validade externa do modelo. Para tanto, a diretriz tem como um de seus pontos contemplados a análise de heterogeneidade, a qual não deverá se mostrar apreciável devido às características similares entre as cidades que compõem a IX Região de saúde do Paraná.
Análise de incerteza
Para avaliar a incerteza do modelo será procedida uma análise de sensibilidade probabilística, que por meio de simulação consegue definir a incerteza do modelo por meio da discrepância na variação dos elementos simulados.
Resultados
Entendemos que os achados de nossa pesquisa serão relevantes à saúde pública. Os resultados serão particularmente úteis para a gestão municipal e regional de saúde, pois além de conhecer a relação de custo-efetividade da medida em comparação aos atuais gastos com as diversas ações de mitigação da dengue
Finalmente, será produzido um guia tutorial sobre custo-efetividade com linguagem acessível aos gestores em saúde. Este material combinará conhecimentos da economia da saúde, farmacoeconomia, saúde pública e coletiva para se entender não apenas as vantagens de uma tecnologia sobre a outra, mas também criar evidências econômicas que coadunam a prática.
Considerações finais:
Uma das principais preocupações com a saúde pública está relacionada ao fato inerente da economia da não suficiência de recursos para a aplicação de todas as ações. O discurso então sugerido é o da eficiência, para que os recursos utilizados sejam dispostos da melhor maneira possível. Porém ressaltamos que não devemos usar esse princípio como o principal para a criação de políticas públicas de saúde. A parcimônia se faz importante, mas não deve ser elemento central e único na escolha de tecnologias de saúde.
A análise de custo-efetividade tem a capacidade de levar a eficiência, a efetividade e a eficácia para o sistema de saúde. Porém, essa ferramenta depende da boa intenção, capacidade e vontade política do gestor.