A atuação da fisioterapia na estratégia de saúde da família (ESF), infelizmente, não é uma realidade comum devido ao profissional de fisioterapia não compor a “equipe mínima”, diferente de profissionais de medicina, enfermagem e odontologia, o que torna o fisioterapeuta facilmente vinculado apenas ao que tange atenção secundária e terciária em saúde. A partir disso, refletir sobre a gestão da assistência fisioterapêutica no âmbito da atenção primária em saúde (APS), torna-se um desafio, pois os atendimentos ambulatoriais de fisioterapia representam descaracterização da atenção primária ou avanços assistenciais às populações dos territórios?
O presente relato de experiência surge da vivência de profissionais residentes de fisioterapia inseridos em uma ESF no período de março à novembro de 2023, onde por um longo período a atuação direta da fisioterapia no local não representava relevância para alguns profissionais envolvidos com o encaminhamento de pacientes, o que levou ao surgimento de diversas demandas ocultas ao serviço de fisioterapia.
O processo de gestão dos atendimentos fisioterapêuticos na ESF quanto às demandas ocultas, portanto, resultou na organização de agenda de horários de atendimentos individuais, junto à equipe de enfermagem, médica e de agentes comunitários de saúde (principais conhecedores do território e de suas necessidades assistenciais) com seis atendimentos ao dia na academia anexa à unidade. Os atendimentos obedeceram grau de necessidade estabelecidos por condições de melhor assistência pelo material disponível, observou-se melhores condições para atendimento fisioterapêuticos em orto-traumatologia e neurologia, assim os paciente em pós operatórios recentes, eventos ou patologias neurológicas e crianças com neuro adversidades foram priorizados no recrutamento para o atendimento por se beneficiarem do atendimento fisioterapêutico individual próximo às residências. Dessa forma, cerca de 26 usuários que aguardavam avaliação fisioterapêutica foram contemplados com atendimento na APS próxima de onde habitam e em suas residências quando necessário, tal fluxo instaurou-se de forma permanente e atualmente os usuários contam com a assistência realizada pelos residentes na unidade.
A gestão em saúde consiste em uma complexa articulação do processo gerencial da demanda ao atendimento e da prevenção à reabilitação, especialmente ao que se refere à assistência fisioterapêutica, o que representa um grande desafio ao sistema único de saúde. Com isso, a fim de minimizar casos onde as necessidades de assistência no território permanecem elípticas aos profissionais que potencialmente poderiam solucionar queixas, reduzir agravos e propiciar uma melhor qualidade de vida, aperfeiçoando o atendimento aos usuários vinculados à ESF, torna-se pertinente inserir fisioterapeutas à equipe. Assim, torna-se possível concluir que o atendimento ambulatorial de fisioterapia inserido à APS não a descaracteriza, mas representa avanços no nível de assistência e reduz a restrição de acesso aos serviços de reabilitação, quando o processo de gestão ocorre vinculado diretamente às equipes que conhecem as características do território, usuários e possibilidades de facilitação ao contemplar todos os indivíduos que necessitam do serviço específico de fisioterapia.