O fenômeno das migrações forçadas é uma realidade cada vez mais presente no mundo: sujeitos e famílias inteiras deixando seus países de origem contra a sua vontade devido a conjuntura política, histórica, social e econômica e buscando refúgio em outros países. Conforme dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Agência da ONU para refugiados no Brasil (UNHCR, 2022), no primeiro semestre de 2021, milhares de pessoas tiveram que se deslocar à força, a fim de fugir de situações que envolviam conflito armado, violência generalizada e violação de direitos humanos. O presente trabalho se apresenta como um recorte do projeto de tese de doutorado em Promoção da Saúde, o qual objetiva analisar como os processos de luto emergem de forma determinante nas histórias de vida e de saúde de refugiados de um município do Vale do Taquari, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Como metodologia de pesquisa, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com refugiados/pessoas deslocadas à força de seu país, lançando mão da Análise de Discurso (AD) de orientação francesa para análise das narrativas. Isto é, como essas existências ou (re)existências forçadas a se deslocar como vidas nuas, como populações sacer (AGAMBEN, 2010; 2008), trazem as narrativas de luto em suas histórias de vida é o que se pretende analisar neste estudo. O luto desses sujeitos migrantes, que assumem o status de refugiado, é chamado de luto migratório, e pode ser incluído na categoria dos lutos não reconhecidos, nos quais o espaço para expressão e validação das emoções são restritos ou mesmo inexistentes. (JACOBUCCI; CARVALHO, 2020; TIZÓN, 1993). Destaca-se que o presente trabalho é inovador ao aliar em um mesmo tema a problemática dos lutos não reconhecidos e a forma como aparecem nas narrativas de vida dos sujeitos refugiados no interior do RS. Ou seja, a pesquisa traz visibilidade às questões de promoção de saúde mental, luto e políticas públicas de atenção, proteção e de garantia de direitos dos refugiados no estado e no país.