Alinhamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de São Leopoldo para atuação diante do contexto de calamidade

  • Author
  • Elissandra Siqueira da Silva
  • Co-authors
  • Cristina Lima da Rocha Cannas , Kaciely de Lima Jacino , Paulo Crochemore Mohnsam da Silva , Renata Savian da Rosa , Matheus Baneiro Cardoso , Ana Carolina Rios Simoni , Nataele da Cunha , Eduarda Bandeira
  • Abstract
  • Desde o início de maio de 2024, São Leopoldo enfrentou complexidades decorrentes da enchente que inundou centenas de cidades gaúchas, afetando cerca de 180 mil pessoas em nosso município, destituindo-as de suas casas e acolhendo-as em mais de 120 abrigos provisórios. Nesse contexto, a necessidade de sustentar a proteção social, a garantia de direitos, o cuidado à saúde e à equidade na execução de políticas públicas se impôs como um desafio tecno-assistencial e um imperativo ético-político. Uma força-tarefa foi composta por trabalhadoras e trabalhadores dos serviços de saúde mental, da gestão municipal e de voluntários, que não mediram esforços na missão de salvar vidas e acolhê-las. Neste trabalho, apresenta-se a experiência de resposta da atenção psicossocial de São Leopoldo diante do desastre vivenciado pela população. O objetivo é o de testemunhar os acontecimentos nos territórios do desastre, desde a perspectiva de quem os vivenciou como comunidade afetada e, simultaneamente, como agente público responsável pela organização da atenção em um contexto de fechamento das estruturas dos serviços, redução da força de trabalho, ampliação dos cenários de intervenção e, sobretudo, trauma coletivo pelas inumeráveis perdas. Lembramos do relato de M., uma mulher abrigada, que testemunhou: "Aqui [no abrigo], a gente perdeu a privacidade, a identidade e o passado". M. nomeou distintas dimensões do impacto sofrido, dialogando com a literatura que aponta os efeitos de desorganização subjetiva decorrentes dos processos de desagregação das redes sociais e comunitárias em situações de desastre. Nestes cenários dolorosos, a gestão municipal reorganizou suas redes de atenção com vistas a chegar nos territórios provisórios de vida das pessoas afetadas, com a ética do acolhimento e o olhar da equidade, garantindo acesso à atenção à crise em saúde mental, numa perspectiva despatologizante em que se articulam cuidados e direitos. Para tal, organizou-se Equipes Territoriais de Acolhimento em Saúde Mental, compostas por trabalhadores dos diversos pontos da RAPS, que eram acionadas pelos abrigos, pelas equipes do CAPS ou pelas equipes volantes e unidades de saúde da Atenção Básica (AB) para atendimentos, por meio de visitas aos abrigos, visitas domiciliares ou interconsultas com a AB. Tais equipes tinham por objetivo realizar mapeamento das demandas em SM, intervenções coletivas de cuidado, articulações com as coordenações dos abrigos para trocas de informações e mapeamentos de especificidades de pessoas abrigadas (gestantes, puérperas, pessoas atípicas, etc.), escuta acolhedora e qualificada, atenção à crise, promoção de vida e prevenção de sofrimento em saúde mental no território. Na estrutura do CAPS Capilé, organizou-se o “CAPS Unificado”, composto por uma equipe mista com trabalhadores dos três CAPS do município, ponto de referência fixo da atenção especializada em saúde mental, para crianças, adolescentes e adultos. O CAPS U atendeu em livre demanda usuários já acompanhados ou acolhimento inicial para quem buscou pela primeira vez o serviço. Tecendo redes com as equipes itinerantes, serviços intersetoriais e comunidade, apesar das adversidades imensuráveis, se buscou fortalecer o cuidado comunitário, na relação com os territórios de vida, pela mediação entre os sujeitos e seus contextos nas situações concretas enfrentadas pelas pessoas e coletivos. 

  • Keywords
  • RAPS, Emergência Climática, Território
  • Subject Area
  • EIXO 3 – Gestão
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