De uma ponta a outra: proximidades e distanciamentos da experimentação caminhante no percurso formativo da residência em saúde mental

  • Author
  • Júlia Fraga
  • Co-authors
  • Mariana Soares Teixeira , Marina Lagunas , Paloma Mendes Dall’Osto , Cristina Lima da Rocha Cannas
  • Abstract
  • Este trabalho apresenta construções e reflexões advindas da experiência de residentas do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS no campo da gestão de saúde mental do município de São Leopoldo.  A Residência Multiprofissional em Saúde oportuniza aos profissionais residentes a possibilidade de realizar um curso de especialização com o caráter de ensino em serviço, formando trabalhadores para o SUS através da inserção em pontos de atenção da rede de saúde. No programa referido, no município de São Leopoldo, o percurso formativo dos residentes do segundo ano contempla a circulação pelo campo do Colegiado Gestor de Saúde Mental, de forma simultânea à atuação assistencial nos serviços de atenção à saúde mental. Esse formato de percurso, que possibilita o exercício simultâneo de funções de gestão da rede e de assistência direta à população, em muitos momentos incorre na “duplicidade de atuação” desses profissionais, que, por vezes, são convocados a responder, em um campo, por determinadas demandas do outro. Além disso, atuar concomitantemente em campos de duas instâncias diferentes no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) permite que o profissional residente habite esses campos de um outro modo, à medida que transita pelos espaços de planejamento e gestão e naqueles referentes à intervenção em ato. Tal convergência promove um borramento das fronteiras da atuação entre os campos e do papel do residente nesta intersecção, e tem como um dos efeitos a possibilidade de dimensionar as distâncias e as proximidades entre o tempo da gestão e aquele da assistência direta. De um lado, esta duplicidade traz a potência de disparar a qualificação de ambas as instâncias de atuação, por meio de espaços de Educação Permanente e de outros movimentos de articulação que interroguem os processos de trabalho, na perspectiva de uma construção compartilhada do fazer saúde. Por outro lado, quando este duplo lugar não é colocado em análise, corre-se o risco de fragilizar, e até inviabilizar, a atuação em um desses espaços e a relação com os demais trabalhadores. Conclui-se que essa atuação caminhante, ao se encontrar com os diferentes cenários de práticas concomitantemente, pode borrar os limites da atuação do profissional residente em ambos os campos, constituindo-se tanto como um disparador de movimentos potentes de transformação em direção à articulação de relações de proximidade e cogestão, quanto no sentido de gerar impeditivos e tensionamentos no espaço entre as duas pontas. O profissional residente precisa, dessa forma, colocar em análise sua atuação e sua implicação nos campos de prática e no percurso da residência, destacando-se, para isso, a importância do fortalecimento de espaços de encontros de preceptoria e tutoria nesse processo de análise e formação profissional, de modo a atentar para os diferentes movimentos que se atravessam na dinâmica dos campos, nas relações com as equipes e usuários, garantindo a construção compartilhada do cuidado.

  • Keywords
  • Residência Multiprofissional, Saúde Mental, Campos de prática
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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