A gravidez é composta por diversas alterações: biológicas, imunológicas e hemodinâmicas, relacionadas diretamente com o aumento nos níveis dos hormônios sexuais, bem como ao crescimento e desenvolvimento do bebê. Neste período, as alterações musculoesqueléticas se destacam, progredindo ao longo do processo gestatório e se tornando evidentes a partir do segundo trimestre de gestação. Estas têm por finalidade a proteção do feto, entretanto, podem causar diminuição funcional nos mais diversos níveis à gestante.
Distúrbios sistêmicos se fazem presente nesta fase, sendo o músculo esquelético um dos mais prejudiciais à rotina da gestante. Biomecanicamente, segundo alguns estudos, a dor lombo-pélvica está presente em até 20% dos casos na gravidez.
Aliado às alterações musculoesqueléticas, a dor é uma sensação multifatorial, podendo ser relacionada com fatores culturais, situacionais, emocionais e psíquicos, além de variáveis externas. Na gravidez, a dor sentida pode expandir-se de acordo com a progressão gestacional. Quanto mais ao final da gravidez, acarretando prejuízo à capacidade funcional da gestante.
Além disso, sintomas depressivos podem frequentemente surgir na gravidez, como aponta o estudo de Silva, ao qual objetivou investigar a ocorrência e os fatores associados com os transtornos mentais comuns na gestação e sintomas depressivos no pós-parto, bem como a associação entre ambos na Amazônia Ocidental Brasileira. Ressaltou que revisões sistemáticas têm chamado atenção para este dado. Observa-se a necessidade de rastreio e cuidado principalmente quando se tratar de gestantes de baixa renda.
Alterações de origens imunológicas, bioquímicas e hemodinâmicas ocorrem durante a gestação e estão relacionadas com a adaptação do corpo da mãe ao crescimento do bebê. Estas como já apontado, embora visem à proteção do feto, podem acarretar em uma série de suscetibilidades a distúrbios sistêmicos, destacando-se as alterações musculoesqueléticas da região do tronco e membros inferiores .
Não é raro, que muitas mulheres ao engravidarem, tenham pouco conhecimento acerca do funcionamento interno do próprio corpo, e consequentemente das alterações nos segmentos corporais causadas pela gravidez. Os efeitos trazidos por estas alterações podem refletir como queixa de dor ao realizar até mesmo pequenas tarefas cotidianas.
Neste panorama, entende-se que o acompanhamento das alterações musculoesqueléticas seja realizado paralelo aos cuidados diretamente ligados ao binômio mãe-bebê.
No SUS, as grávidas são acolhidas pelas equipes de Saúde da Família, composta por diversos profissionais (médicos(as), enfermeiros(as), técnicos(as) em enfermagem, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, odontologistas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos), esta da qual, tem papel importante na identificação e captação precoce dessas grávidas, atentando para sinais e sintomas que muitas vezes não são percebidos pelas próprias mulheres.
Assim, compreende-se a atuação do Fisioterapeuta como forma indispensável ao acompanhamento da mulher grávida, fornecendo apoio, orientações e informações acerca de todas as alterações que podem ocorrer no período gravídico. Estando o mesmo preparado para intervir de forma específica a cada período da gestação, podendo basear-se em evidências, minimizando intercorrências, adequando às atividades de vida diária e preparando a gestante para o período do puerpério e os cuidados diários com o recém-nascido.
No entanto, há uma escassez de informações no que tange a relação entre a gestação dentro de um padrão de normalidade, sem atrelar o mesmo a desfechos patológicos e a capacidade funcional, e o cuidado multidimensional trazido pela Fisioterapia pode contemplar a melhoria na qualidade de vida da grávida, de forma a prevenir agravos e promover saúde, bem-estar, a melhora na capacidade funcional neste período importante, garantindo a participação na vida.
Neste contexto, o presente estudo visa evidenciar os parâmetros de capacidade funcional, sintomas depressivos e sua relação com os níveis de dor ao longo da gestação, para que possamos refletir em cuidados e intervenções precoces e mais específicas das gestantes.
O estudo objetiva verificar a associação entre dor, capacidade funcional e sintomas depressivos em gestantes que estejam em acompanhamento pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
E objetiva especificamente: Descrever o perfil das gestantes primigestas e secundigestas com relação a presença de dor, capacidade funcional e sintomas depressivos;
Avaliar a capacidade funcional através do Questionário de Incapacidade de Roland e Morris;
Triar sintomas depressivos através do Cartão Babel de Saúde Mental;
Serão inclusas Todas as mulheres primigestas e secundigestas, que realizam o pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde de Pelotas, as quais estejam no terceiro trimestre gestacional (acima das 27 semanas).
Serão excluídas mulheres primigestas e secundigestas com gestação considerada de risco, gravidez com mais de um feto, mulheres com deficiência física ou cognitiva, as quais já tenham algum prejuízo funcional e mulheres com comprometimento cognitivo que as impossibilite de responder os questionários.
As participantes serão triadas inicialmente através dos prontuários da UBS para levantamento de dados de tipo de gestação (se de risco unifetal, uso de substância psicoativa concomitante à gestação e depressão diagnosticada). Todas as gestantes serão convidadas para o estudo quando comparecerem à consulta de pré-natal do terceiro trimestre de gestação. As gestantes serão abordadas na sala de espera para consulta pré-natal. Neste momento serão informadas acerca da pesquisa e seus objetivos, bem como o tempo de duração da mesma (composta por 2 entrevistas, de igual teor, sendo 1 no período de gravidez, realizada logo após a consulta pré-natal, e 1 no pós-parto (puerpério) no dia da consulta de puericultura do bebê. Em seguida será oferecido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para assinarem caso queiram participar do estudo.
Para análise socioeconômica, será aplicado um instrumento para averiguação da classe social, seguindo o sistema de pontos da ABEP, segundo os critérios do ano de 2015. Já os dados de identificação, saúde materna e obstétricos serão coletados através de questionário próprio, construído para o estudo.
O fisioterapeuta pode utilizar diversos instrumentos para avaliar as limitações advindas da dor, neste estudo o Questionário de Incapacidade de Roland e Morris (QIRM) foi o selecionado, pois avalia o entrevistada através do seu auto- relato, ao responder os 24 itens com pontuações de zero ou um (sim ou não), o total pode variar de zero, que sugere nenhuma incapacidade estabelecida a 24, incapacidade gravíssima. Já os índices de dor serão avaliados através da Escala Multidimensional de Avaliação da Dor, a qual foi validada em 2010. A escala possui escores de 0 a 10. Na primeira etapa da avaliação, o profissional solicita a paciente que julgue a intensidade de dor utilizando os valores de 0 a 10 em uma escala numérica, na qual 0 indica “sem dor”, 10 “dor máxima”.
O retorno às participantes do estudo, será dado através da publicação dos resultados no formato de artigo científico a dissertação de mestrado, em revista da área da saúde, bem como no formato de notícia nos Canais da UFPel.
Todas as participantes receberão retorno acerca dos resultados da pesquisa, bem como, uma vez detectadas alterações importantes, os mesmos serão repassados à equipe da Unidade Básica de Saúde, mediante a autorização da gestante.
Espera-se, também, que seja possível levantar dados dos quais posteriormente sejam utilizados como embasamento para a realização de um estudo maior, que poderá corroborar com a confecção de um protocolo de atendimento fisioterapêutico, enriquecendo ainda mais a assistência pré-natal.
O desenvolvimento deste estudo considera-se essencial para analisar de forma mais ampla a importância e relevância do fisioterapeuta e da equipe multidisciplinar no acompanhamento das gestantes.
Haverá a devolutiva para a população alvo.