Apresentação: No Brasil, a oferta de serviços de saúde primária decorrem a partir de estratégias de organização e de modelos de atenção à saúde. Esses Modelos de Atenção (MA) ou Modelos Assistenciais (MAs) foram por muitos anos discutidos com o objetivo de traçar compreensões acerca do termo linguístico “modelo”. Trabalhar o significado da palavra apresentava-se como um um elemento importante, visto que receavam-se a associação a ideia de enquadramento, normatização ou padronização, uma vez que o objetivo era destacar os principais fundamentos, a lógica e a razão em torno desse sistema de saúde. Permeados pelas contribuições da noção de distritos sanitários, propôs-se ao final da década de 90 que MA pode ser compreendida pela combinação de tecnologias para resolução de problemas, e para o entendimento de necessidade de saúde individuais e coletivas. Ao considerar o percurso histórico da saúde brasileira, é perceptível a influência de dois grandes modelos o hegemônico, pautado no paradigma medicalocêntrico, hospitalocêntrico com ênfase em ação médico especializado e curativa, e o modelo sanitarista pensado para responder às necessidades populacionais. Derivam deste último a criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF), as campanhas sanitárias, a vigilância sanitária bem como a epidemiológica. Um marco relevante para a Atenção Primária à Saúde (APS) é a criação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) em 2006, a qual implementa nas Unidade básicas de Saúde (UBS) o modelo preferencial de reorganização da APS no Sistema Único de Saúde (SUS), referida como Estratégia da Saúde da Família (ESF). Incorporam-se também profissionais de saúde para compor o Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Essas estratégias passaram por transformações, implicando a necessidade de avaliar se a premissa da garantia do cuidado integral longitudinal e centrado na pessoa estão sendo efetivos, bem como é necessário compreender se as estratégias corroboram para expandir o potencial da resolutividade da APS. Objetivo: Discutir as potencialidades e fragilidades ligadas aos modelos de atenção à saúde permeados no âmbito da APS. Metodologia: Revisão bibliográfica realizada por meio de sondagem em artigos indexados na Biblioteca Virtual de saúde (BVS), na Biblioteca Virtual em Saúde Fiocruz ( BVS - Fiocruz) e no Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Utilizou-se como instrumentos deste estudo a Política de atenção básica e os documentos técnicos normativos do Ministério da saúde. Resultados: Por muito tempo a ideia de modelos assistenciais se configurou a partir de ações preventivas, curativas em caráter de organização de serviços de saúde através de redes regionalizadas e hierarquizadas. Durante os anos de 1960 a 1970 alguns programas implementados tinha como premissa inovar e expandir a sáude, logo alguns marcos políticos foram destaque a iniciativa de ampliação, tais como|: O projeto Montes Claros, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e saneamento do Nordeste (PIASS), o Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE) e o Plano de Reorientação da Assistência à Saúde no Âmbito da Previdência Social do Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária (Conasp). Entretanto, é em 1980 com a criação do Programa Integral à Saúde da Mulher que se torna compreensível o princípio da integralidade que fora discutido e conceituado a partir da reforma sanitária. De forma geral, este princípio diz respeito a integrar ações de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde por meios de níveis de complexidade as quais incorporam os serviços de saúde primário, secundário e terciário devendo ater-se às questões de cunho biológicos, psicológicos e sociais. Mastarde, com a realização da 8° Conferencia nacional de Saúde (CNS) e a intensa discussão do cuidado integral, bem como de um serviço único, descentralizado organizados a partir de distritos sanitários, o Estado brasileiro promulgou o SUS, com inclusão da integralidade como princípio, somado à universalidade e a equidade. Através da Lei Orgânica da Saúde e das normas operacionais do SUS é requerido a modificação do modelo de atenção inserindo a promoção de saúde como elemento estratégico a ser fortalecido no âmbito do SUS. Ainda com vistas a abarcar as questões de modelos assistenciais, criou-se em 1990 o PSF compreendida como uma estratégia política para superar o modelo de atenção centrado na condição patológica e na condução do cuidado médico individualizado. Neste sentido, o PSE rompe com ideia de cuidado fragmentado posto pelo o modelo biomédico e situa como mecanismo para a saúde o cuidado destinado ao indivíduo considerando o contexto familiar, social e moral cuja ação ocorre mediante atuação humanizada, tecnicamente competente, articulada em rede intersetorial e apropriada para a esfera social. Da mesma forma, o PACS trás para a saúde um modelo de assistência através de ações de promoção e prevenção da saúde precedendo o PSF e construindo a saúde a partir da medicina comunitária. Seguindo esse percurso surge a ESF como instrumento para consolidação do SUS e do fortalecimento da APS. Importa salientar que a adoção do termo do termo “estratégia” é consequência da necessidade de ressaltar a longitudinalidade do cuidado, uma vez que “programa” tornou-se insuficiente por reforçar a ideia de finalização num tempo determinado. A expansão e a reorientação da APS ocorre especialmente a partir de 2011 quando as UBS são definidas como porta de entrada do SUS e ordenadora da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Um atributo de importância no nível primário, para melhorar a resolutividade desse nível de atenção foi a inclusão de trabalhadores da saúde especializados ligados ao NASF, que foi lançado, em 2008, como núcleo de apoio, e mais tarde veio a ser tornar Núcleo ampliado da saúde da família pensando a pesperivida de um modelo de atenção básica multiprofissional. Está iniciativa foi lançada no período do governo Lula, sustentada no governo Dilma, mas com os governos Temer e Bolsonaro a iniciativa foi sofrendo reconfigurações orçamentárias, e em 2020 o Ministério da Saúde confirma a interrupção do incentivo financeiro ao NASF, gerando efeitos negativos como a ausência de reconhecimento e valorização da multiprofissionalidade e de profissionais de saúde especializados, bem como a continuidade do potencial resolutivo da APS. Em 2023 foi lançada a portaria GM/MS 635 que retomou essa modalidade no país, definindo e criando incentivo financeiro federal de implantação, custeio e desempenho às agora equipes Multiprofissionais (eMulti), atuando de forma complementar e integrada às eSF. Esses acontecimento demonstram fragilidades a APS PODENDO CITAR a inconsistência na continuidade da reorientação no setor saúde por disputas político-ideológicas influenciadas por visões neoliberais e utilitaristas, que acarretam em sucateamento, desfinanciamento e desestruturação de modelos de saúde que geram acesso melhorando o desempenho da APS e do SUS. Apontam-se, portanto, como elemento transformador da APS o modelo eSF integrado com equipes multiprofissionais como sendo recurso para responder às necessidades de saúde da população numa lógica de prestação de assistência à saúde efetiva com cuidados em distintas dimensões do ser humano biopsicossocioespiritual.Considerações finais: O modelo eSF integrado com trabalhadores de saúde especialistas, além de melhorar as condições de saúde da população, demonstrou o quão benéfica é para o SUS enquanto sistema universal, uma vez que melhorou indicadores de saúde, otimizou gastos públicos e reduziu encaminhamentos aos serviços de alto custo. Salienta-se que defesas de políticos neoliberais atuam como agentes inibidores da expansão do APS, bem como do SUS à medida que desmotam politicas públicas e interrompem investimentos em saúde.