APRESENTAÇÃO:O Programa Nacional de Imunizações (PNI) desempenha um papel essencial no Sistema Único de Saúde (SUS), suas políticas têm influência direta na redução, eliminação e erradicação de doenças por meio da vacinação e vigilância em saúde. Ao longo de sua história, o PNI tem proporcionado resultados positivos à população. A sociedade brasileira é fundamental nesse percurso de conquistas nas três esferas de gestão, especialmente na atenção básica, que serve como porta de entrada para as ações do PNI, cuja missão fundamental de administrar vacinas é concretizada nas salas de vacinação, promovendo a prevenção e proteção da saúde dos brasileiros por meio da imunização. O PNI orienta o processo e estabelece as políticas de imunização que são implementadas em níveis estadual e municipal. Independentemente da política de imunização adotada pelo PNI, a execução das ações de vacinação deve ocorrer de maneira segura, tanto na atenção básica/assistência quanto nas salas de vacinação e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Dessa forma, visando assegurar a qualidade dos imunobiológicos adquiridos e disponibilizados à população, o PNI opera por meio de uma Rede Nacional composta por uma estrutura física conhecida como Rede de Frio, que desempenha um papel indispensável na viabilização do seu processo logístico. A Rede de Frio é um sistema abrangente que engloba uma estrutura técnico-administrativa orientada pelo PNI, cujas atividades incluem normatização, planejamento, avaliação e financiamento, com o propósito de assegurar a adequada manutenção da cadeia de frio, desde a etapa de recebimento até a administração e, consequentemente, a integridade dos imunobiológicos. A finalidade da Rede de Frio é, então, garantir que os imunobiológicos administrados permaneçam com as suas características iniciais, com garantia da conservação de sua potência imunogênica, haja vista que são produtos termolábeis, ou seja, se deterioram depois de um certo período expostos a variações de temperaturas inadequadas à sua conservação. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo descrever as experiências vivenciadas por enfermeiros na Rede de Frio durante a Residência Multiprofissional em Saúde da Família. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo do tipo qualitativo, com caráter descritivo, na modalidade relato de experiência sobre as vivências durante um estágio obrigatório de enfermeiros residentes inseridos na Rede de Frio de Florianópolis, pertencente a Secretaria Municipal de Saúde, realizado em fevereiro de 2024. A sede da Rede de Frio de Florianópolis é composta por uma equipe de cinco profissionais, sendo estes: uma médica como responsável técnica, três enfermeiras e uma técnica de enfermagem. Estas profissionais são responsáveis por toda a logística, passando pelas etapas de recebimento, organização, armazenamento, separação, distribuição e transporte dos imunobiológicos para todas as Unidades Básicas de Saúde do município. Além disso, atuam também na elaboração de notas técnicas, comunicações internas e informes relacionados às vacinas disponíveis na rede do SUS. RESULTADOS: Durante o período de estágio foram realizadas atividades intrínsecas ao funcionamento da Rede de Frio, sendo supervisionadas pelas enfermeiras do setor. As atividades incluíam o recebimento e inspeção dos imunobiológicos: verificação da temperatura dos imunobiológicos recebidos, conferência do número de lote, data da validade e quantidade recebida, de acordo com os pedidos realizados e notas fiscais recebidas. Em seguida realizava-se o armazenamento e organização das câmaras frias (disposição interna dos imunobiológicos nas prateleiras) em temperatura positiva, de 2°C a 8°C e controle de vencimento do prazo de validade das vacinas. Para garantir que o armazenamento estava em temperatura adequada, fazia-se a leitura do termômetro e o registro da temperatura duas vezes ao dia. Na etapa seguinte, primeiramente eram recebidos os pedidos de imunobiológicos de rotina dos Centros de Saúde (CS) de Florianópolis, a partir disso, realizava-se a inserção dos pedidos no sistema Vigilantos e emissão das notas fiscais, liberação e autorização dos pedidos. Seguia-se para o momento da separação dos imunobiológicos para posterior transporte. Nessa etapa, também era realizado o preparo da caixa térmica, inicialmente fazia-se a estabilização da temperatura interna da caixa (intervalo de +2°C a +8°C, ideal +5°C), monitorados por meio do termômetro afixado no exterior da caixa, antes de colocar as vacinas. Os imunobiológicos eram organizados de maneira que não ficassem soltos para não sofrerem impactos durante o transporte, e as temperaturas sempre fossem monitoradas durante todo o processo até a entrega, cada caixa tinha sua identificação de acordo com seu destino final. A distribuição era feita por distritos sanitários (Norte, Sul, Leste, Continente), dessa forma, em cada dia da semana os CS de cada distrito solicitavam os imunobiológicos que em seguida eram distribuídos na data acordada entre a Rede de Frio e o distrito. Foi possível também participar do processo de transporte que era realizado pelo motorista da Secretaria Municipal de Saúde até o CS. Além disso, também fazia parte da rotina da Rede de Frio a solicitação de imunobiológicos especiais para pessoas com imunodeficiências congênita ou adquirida e de outras condições especiais de morbidade ou exposição a situações de risco, bem como aquelas que apresentam contraindicação à utilização dos produtos disponíveis na rede pública de saúde. Desse modo, a inserção desses imunobiológicos bem como o acompanhamento dessas requisições, solicitadas pelos centros de saúde via e-mail, também eram realizadas através do sistema Vigilantos, visto que ele que interliga a Rede de Frio com o CRIE, que avaliava se os casos eram elegíveis ou não para o recebimento do imunobiológico especial, segundo a normatização do PNI. Outra função realizada durante o estágio foi a notificação de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi) graves e/ou incomuns, relacionados momentaneamente a administração de imunobiológicos. Estes eventos também são investigados, monitorados e elucidados pelo CRIE que responde às notificações realizadas pela Rede de Frio. Além disso, eventualmente ocorriam casos em que era necessário investigar se uma determinada vacina já foi administrada ou não em algum usuário, desse modo, para auxiliar na identificação do esquema vacinal de crianças, adolescentes e adultos eram utilizados: o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e o SI-PNI COVID, que contam com os registros de dados nacionais a respeito da administração de vacinas. Outra função desempenhada ao longo do estágio, foi o contato direto com os enfermeiros responsáveis pelas salas de vacinas dos centros de saúde, via WhatsApp ou e-mail, com a finalidade de repassar informações importantes sobre a disponibilidade, validade e dispensação dos imunobiológicos como também solucionar dúvidas dos profissionais relacionadas à imunização. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Compreender o funcionamento da Rede de Frio e conhecer todo o processo e suas etapas tem importância fundamental para o enfermeiro, visto que, este é o responsável pela supervisão ou monitoramento da sala de vacinação e pelo processo de educação permanente da equipe de enfermagem em sala de vacina na Atenção Básica. Assim, experiências que envolvam o aprendizado sobre imunobiológicos são de grande relevância, pois contribuem para o aperfeiçoamento do processo de trabalho e da qualidade da assistência prestada à população.