Apresentação: Trata-se de relato de experiencia de projeto de extensão que articulou quatro cursos da área da saúde da PUC Minas Betim - Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e Psicologia e se propôs a realização de atividades individuais e coletivas voltadas para a promoção, prevenção de agravos e cuidado em saúde das famílias assentadas, capacitação em saúde para os participantes do núcleo da saúde do Assentamento MST 02 de Julho e Acampamento Pátria Livre no município de São Joaquim de Bicas. Também foi proposto educação permanente da equipe de saúde da UBS de referência. Essa parceria entre trabalhadores rurais da região metropolitana de Belo Horizonte fortalece o movimento para a conquista do direito a terra. Os núcleos de saúde discutem as necessidades da área e se organizam para exigir que o Estado cumpra seu dever de garantir o acesso universal e integral à saúde. Segundo o referencial teórico, os assentamentos e acampamentos do MST vão em busca da justiça social, fraternidade e equidade no campo, tendo como norte e princípios o acesso à terra para produção e como lugar de vida digna. Porém, essas comunidades enfrentam desafios no que tange à saúde, principalmente da não garantia dos princípios do SUS, há desafios em relação à acesso, aos determinantes sociais, às condições sanitárias, insuficiência de estratégias de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, além da estigmatização sofrida pela sociedade. Essa população que participou do referido projeto vive as margens do Rio Paraopeba, que era utilizado para plantações e pesca. Desenvolvimento: Considerando o reconhecimento das características e demandas desse território, essas comunidades tiveram inúmeros direitos violados, sejam pelas enchentes e outros decorrentes do rompimento da barragem de rejeitos da Mineradora Vale. Somado a esse cenário, trata-se de uma população com alta vulnerabilidade devido baixo nível socioeconômico, território distante e de difícil acesso às UBS, além de ser uma área descoberta por Agentes Comunitários de Saúde. A partir dessa situação problema e reflexões sobre o cuidado em saúde, seguindo os princípios do SUS, o projeto utilizou de estratégias da educação popular em saúde para reflexões sobre o seu processo de cuidado em saúde, proporcionando oportunidades de melhoria da qualidade de vida. Para realizar as atividades, buscamos também investir em parcerias intersetoriais com a Secretaria Municipal de Saúde de Betim, bem como na interdisciplinaridade do cuidado em saúde e na articulação entre a extensão, o ensino e a pesquisa em saúde, atividades essas previstas nos projetos pedagógicos dos cursos envolvidos. O projeto foi construindo junto com os moradores dos assentamentos. Dessa forma, lideranças desse assentamento foi o elo entre o projeto e a comunidade. A partir disso, foram realizadas reuniões, em que essas lideranças puderam expressar as demandas da comunidade e o que gostaria que fosse realizado com esse projeto. A partir disso, surgiram temas sobre relações interpessoais, direito a saúde, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, necessidade de um censo, para levantamento de informações sobre moradores do assentamento, quantas famílias residem, a situação de saúde dessas famílias, identificar pessoas acamadas ou com pouca mobilidade, também foi destacado que há altos índices pessoas adoecidas devido às arboviroses. A partir disso, as lideranças do assentamento informaram que 70 famílias vivem no local, no entanto esse número não é preciso, uma vez que somando com filhos e agregados que constituem família e permanecem no território, o assentamento chega a mais de 400 habitantes. O projeto de extensão buscou contribuir para a formação crítica e o agir coletivo, com espaços para o debate e a reflexão acerca do conceito de saúde ampliado. Nessa acepção, buscamos desenvolver metodologias e vivências práticas relevantes para o protagonismo dos sujeitos envolvidos. Para tanto, foi feito um planejamento compartilhado definindo temas para as oficinas e o levantamento das famílias que receberiam visitas nas residências. Nas oficinas trabalhamos temas levantados a partir da Análise de Situação de Saúde realizada na primeira etapa do projeto. Entre os temas trabalhados com a comunidade destacamos o cuidado com situações de saúde como diabetes e hipertensão arterial, primeiros socorros, acidentes com animais peçonhentos, além da compreensão do fluxo na rede de saúde local. Utilizamos metodologias participativas como rodas de conversa, visitas nas casas dos moradores e discussão sobre a situação de saúde com o objetivo de provocar a construção coletiva do conhecimento. Nessa perspectiva, o encontro entre comunidade, docentes e discentes almejou compartilhar saberes através de uma comunicação dialógica, direcionada para atender as necessidades e demandas dos moradores do assentamento. Resultados: Durante o ano de 2023, no Assentamento 2 de Julho foram realizadas atividades de visitas, levantamento de necessidades, trabalhos em grupo, para a comunidade, os discentes e docentes organizaram ações em conjunto. Para realizar o levantamento de informações e orientações sobre a prevenção quanto as arboviroses. foi realizada visita aso moradores nas regiões/núcleos que compõem o Assentamento denominadas de Furtado, Vinhático e Ponte nova. As visitas foram realizadas por discentes acompanhadas de professoras para conhecer a realidade de cada local para isso, utilizou-se um roteiro de visita para subsidiar futuras ações e um check list para averiguar junto com o morador a situação do território para prevenir as arboviroses. Para a análise da situação de saúde, os moradores foram convidados a discutir os temas sobre os cuidados de saúde, meio ambiente, educação em saúde, produção agrícola, coletivos de saúde e relações interpessoais. Para discutir questões relativas ao cuidado em saúde, as relações interpessoais, cuidados com o corpo, disponibilizar vacinas foi realizada uma atividade no território com alunos e professores proporcionando oficinas e profissionais da UBS com equipe para vacinação de adultos e crianças. Identificamos que o Assentamento desenvolve um espaço de convivência realizando estratégias coletivas como forma de solucionar alguns problemas, como por exemplo, o sistema de agrofloresta que promove o plantio e a colheita associada a recuperação vegetal e do solo. Atualmente possui dez famílias e há o interesse em ganhar mais adesões, além de indiretamente promover meios de socialização interna e na qualidade da saúde mental local. Nota-se ainda que o acesso a bens e serviços são negligenciados a essa população, tida como marginalizada, reafirmando a importância da criação de políticas públicas como forma de modificações dessa realidade, assim como da garantia dos direitos previstos em Lei. Ao final do ano foi realizada atividade de educação em saúde com membros dos núcleos do Assentamento e do Acampamento que envolveu capacitação para primeiros socorros sobre acidentes com animais peçonhentos, cuidados com a hipertensão arterial e o diabetes melitus, cuidados com a coluna vertebral e automassagem, manejo de ferimentos e casos suspeitos de fratura, além de noções básicas de primeiros socorros. Outra ação realizada diz respeito ao reconhecimento do direito a saúde, através do debate visando a compreensão do fluxo na rede pública de saúde e os serviços prestados pelo SUS local. Considerações finais: A alta incidência de arbovirose local e dificuldade ao acesso a bens e serviços, demonstram a necessidade de intervenção municipal na criação de políticas públicas como forma de manutenção da garantia dos direitos previstos em lei. A experiência possibilitou conhecer a realidade do Assentamento, permitindo o planejamento de ações conjuntas inter e multidisciplinarmente aos temas propostos em prol de melhorias sustentadas pelos princípios do SUS da população local, foi possível proporcionar espaços de educação em saúde voltadas para as demandas dos territórios.