O serviço “Núcleo de Apoio Matricial da Atenção Primária à Saúde” compõe a rede de um município de médio porte populacional da região metropolitana de Porto Alegre - RS. Suas diretrizes operacionais estão alinhadas à metodologia do Apoio Matricial e Equipe de Referência, implementada pelos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), em 2008, e retomada, recentemente, em 2023, por meio da proposição das Equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde (eMulti) pelo Ministério da Saúde. Após a habilitação de e-Multis para o município, a Fundação de Saúde local assumiu sua implementação, inicialmente com enfoque na saúde mental, conforme demandado pela gestão municipal. O Núcleo estruturou-se a partir da composição de cinco eMultis regionalizadas, vinculadas às unidades de APS. Consiste em um modelo de trabalho interprofissional, de lógica colaborativa, que retoma a dimensão territorial do cuidado, compreende articulações com a RAS e intersetoriais, reduz encaminhamentos e promove a integralidade do cuidado. Assim, objetiva-se fortalecer o papel da APS como ordenadora do cuidado; ampliar o acesso e a resolutividade da APS; garantir a longitudinalidade da atenção próxima aos territórios de vida dos sujeitos; impulsionar a mudança de modelo de atenção na RAS; qualificar o cuidado às pessoas com sofrimento psíquico junto às suas unidades de referência e fomentar estratégias de EPS junto às equipes. O Núcleo, em conjunto com unidades de APS, realiza o acolhimento em saúde mental, por meio da avaliação da situação de sofrimento psíquico dos sujeitos e pactuação do plano de cuidado com os mesmos e suas redes de apoio. O processo de trabalho constitui-se a partir das demandas emergentes dos territórios e com os recursos que os compõem; as ações a serem desenvolvidas são pactuadas em reuniões mensais de matriciamento e em turnos fixos nas unidades, bem como em reuniões de microrredes dos territórios, contemplando atividades de EPS, discussão de caso, atendimentos individuais, visita domiciliar, atividades coletivas e uma diversidade de intervenções compartilhadas que aprimoram a produção do cuidado na RAPS. Também, fez-se necessária a construção de instrumentos de monitoramento do cuidado compartilhado e de planos de cuidado singulares com os sujeitos, de modo a contribuir para a avaliação das intervenções já realizadas pela APS e das modalidades de acompanhamento pela equipe especializada em saúde mental no território. Após período de desinvestimento na APS, a estruturação deste dispositivo, a partir da criação das eMultis pelo Ministério da Saúde, afirma um modelo de atenção balizado pelo território vivo, pela construção do trabalho em equipe interprofissional e da produção de cuidado em rede. Ademais, é necessário fomentar estratégias que visam a superação da fragmentação do cuidado e da clínica centrada no diagnóstico, que suscitam ações individualizantes e isoladas. O arranjo de equipes de apoio matricial e equipes de referência traz desafios metodológicos para a gestão do processo de trabalho, que retomam a Função Apoio como uma relação a ser contratualizada nos diferentes contextos dos espaços coletivos de produção da saúde e não como uma intervenção que se define previamente ao encontro com a realidade dos territórios.