A Saúde Coletiva, enquanto área interdisciplinar, reúne conhecimentos de diversas áreas do saber, como filosofia, sociologia, educação, estatística, planejamento e políticas públicas, a fim de compor o conhecimento necessário para a prática profissional. No campus Alvorada do IFRS, encontramos conhecimentos em Saúde Coletiva em vários componentes e cursos. Os componentes dos cursos de Técnico em Cuidador de Idosos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, Técnico em Meio Ambiente no ensino médio integrado e no curso superior de Produção Multimídia incluem conhecimentos em Saúde Coletiva em suas ementas. Também temos os cursos de formação inicial e continuada e projetos como mulheres mil, que por vezes tem no seu currículo temas relacionados à saúde coletiva. No entanto, os referenciais teóricos empregados nessas áreas frequentemente apresentam complexidade, tornando-os desafiadores para estudantes de diferentes níveis educacionais compreenderem. Essa complexidade nos fez pensar em um meio de minimizar esse problema, surgindo em 2023 o projeto de ensino intitulado Monitoria em Saúde Coletiva, visando aprimorar o processo de mediação nos espaços teórico e teórico-prático de ensino-aprendizagem nos componentes da área da saúde coletiva ofertado no IFRS campus Alvorada. Objetos pedagógicos em conformidade com a Política Nacional de Educação Permanente para o Controle Social no SUS, são recursos que contribuem para fortalecer os conselhos de saúde, permitindo que diferentes atores sociais se tornem protagonistas na formulação, fiscalização e deliberação das políticas de saúde em todas as esferas governamentais (Brasil, 2006, p.9)
Podemos observar também, que há uma carência de políticas públicas que promovam a integração das formações com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e muitos dos cursos técnicos são oferecidos pelo setor privado, sem alinhamento nenhum com os princípios do SUS. Além disso, há falta de materiais educacionais e didáticos da área da saúde coletiva para alunos do ensino médio.
Esse projeto não foi renovado como monitoria em 2024, mas ganhou novo formato como projeto de pesquisa com Fomento Interno do IFRS campus Alvorada e CNPq-Af. Tendo como objetivo analisar a literatura científica sobre a utilização de jogos pedagógicos na educação em saúde coletiva; avaliar a efetividade dos objetos de aprendizagem/ jogos pedagógicos desenvolvidos no projeto de ensino do IFRS- Alvorada Monitoria em Saúde Coletiva e Identificar os desafios encontrados na utilização dos objetos pedagógicos em saúde coletiva. Durante o projeto de Monitoria em Saúde Coletiva foram desenvolvidos dois jogos, que são o objeto de estudo e validação desta pesquisa. O Jogo da Velha: Níveis de atenção do SUS, propõe alguns formatos diferentes de combinação das peças que possuem diferentes serviços de saúde oferecidos pelo SUS com indicativos de deus níveis de atenção, onde se pode fechar a velha com uma peça de cada nível de atenção ou ainda três peças do mesmo nível, possibilitando assim que o exercício com diversas possibilidades. O jogo Todas as Cores: Conversando sobre diversidade propõe o diálogo sobre diversidades, baseado em um livro homônimo, o jogo traz pelo menos 8 possibilidades de aplicação, unindo personagens e pequenas descrições correspondentes, tratando de temas como diversidades físicas, raça, gênero e sexualidade. Este último foi aplicado em um grupo de promoção à saúde mental, em um projeto de desemparedamento de uma unidade de saúde com uma biblioteca comunitária, onde percebemos outras possibilidades para o jogo. Aplicado com todos os participantes grupo de saúde mental, incluindo usuários, mediadores da unidade de saúde e mediadoras da biblioteca comunitária, apenas as cartas com os personagens desenhados foram distribuídas de forma aleatória, onde ninguém soube qual o personagem que recebeu até virar sua carta, após a distribuição foi solicitado que todos escrevessem sobre a imagem/personagem que tinham consigo, para posterior socialização. Durante o decorrer da socialização percebeu-se que ao descrever os personagens, os indivíduos falavam sobre si, sem perceber, possibilitando trocas sensíveis, e permitindo um extravasamento emocional.
Todos esses fatores nos fizeram propor uma pesquisa com o tema da produção de objetos pedagógicos em Saúde Coletiva, entendendo que a linguagem precisa ser acessível e de fácil compreensão a estudantes de diferentes níveis. Objetos que devem ser utilizados até mesmo por atores do SUS e pela população em geral. Dessa forma, busca-se sensibilizar e capacitar estudantes, profissionais e a sociedade em geral para uma compreensão crítica e abrangente dos processos de saúde-doença, da atenção em saúde e do desenvolvimento de ações e estratégias que melhorem efetivamente a qualidade do cuidado de forma universal, integral e equitativa no SUS (BRASIL, 1990).
Tratando-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, onde ocorre uma interação entre pesquisador e participantes, o pesquisador deve se aproximar ao máximo da realidade que se propôs investigar. Sendo assim, a metodologia conta com algumas etapas, sendo a primeira etapa a revisão da literatura, buscando identificar tendências, lacunas de pesquisa e evidências na utilização de jogos pedagógicos na educação em saúde coletiva. Essa revisão foi realizada no scielo, Catálogo de teses e dissertações da CAPES e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, utilizando os descritores: “jogos pedagógicos” ou “jogos” em cruzamento com “saúde coletiva” ou “sistema único de saúde”.
Está pesquisa ainda está em andamento e prevê uma segunda etapa, na qual será a avaliação dos objetos de aprendizagem produzidos buscando identificar os desafios e qualificar o material. Para isso, realizaremos uma pesquisa de opinião com foco em dois públicos-alvo: profissionais de saúde e estudantes matriculados nos componentes que tenham relação com a saúde coletiva, dos cursos do IFRS campus Alvorada. Para evitar um paradoxo entre teoria e prática, Campos (2000) utiliza os conceitos de 'núcleo' e 'campo'. O núcleo consiste em um conjunto de conhecimentos que delineiam a identidade de uma área e prática profissional, enquanto o campo é um espaço com limites imprecisos, apoiado por várias áreas, integrando atividades teóricas e práticas. É com essa perspectiva que os jogos serão testados nesta etapa.
No primeiro momento, vamos formar grupos de discussão entre pares. Esses pares serão profissionais que tenham relação com a área da saúde coletiva. A atividade será realizada em parceria com a Associação Rede Unida. Haverá uma fase de teste dos jogos seguida por discussões para identificar quaisquer falhas e fazer os ajustes necessários, a fim de aprimorar a qualidade dos jogos. Esses grupos serão gravados e depois transcritos para análise das informações relevantes em relação aos jogos.
No segundo momento, esses jogos serão aplicados em aula por pesquisadores que são docentes do IFRS – Campus Alvorada, eles farão notas no diário de campo sobre o desempenho dos jogos para abordar os conteúdos além da aplicação de um formulário de satisfação anônimo para colher ainda mais informações e perspectivas diferentes. Com estes dados, será realizada a análise qualitativa, identificação de padrões emergentes e desafios comuns para serem utilizados para qualificação dos jogos e construção de produções acadêmicas e relatório da pesquisa.
A pesquisa está em fase inicial, mas já podemos averiguar que há pouco material produzido em relação ao tema e da importância de que conceitos, princípios, diretores e organizações relacionadas ao SUS sejam disponibilizadas de forma acessível, em uma linguagem que garanta que estudantes de nível técnico e população em geral possam compreender.