Imagens e narrativas das enchentes: quando as experiências transborda e nos deixa sem palavras

  • Author
  • Jaqueline Tittoni
  • Co-authors
  • Vanderleia de Lurdes Dal Castel Schlindwein , Jeferson Silveira , Adriana Guedes , Edyson Alves , Mattheus Pessano , Vanessa Soares de Castro , Vanessa Baroni , Vincent Goulart
  • Abstract
  • O mês de maio de 2024 marcou a vida das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul de uma forma avassaladora. As águas dos rios transbordaram, não encontrando nada em suas margens que as pudessem deter. Nas cidades, como em Porto Alegre e na região metropolitana, assentadas nas margens dos rios, haviam ruas, pedras, asfalto, estradas, e casas e pouca coisa que pudesse fazer a água abundante dos rios seguir outro fluxo. As bombas, preparadas para fazer recuar a água nestas situações desde a famosa enchente de 1941, estavam sem manutenção e amargam a falta de políticas públicas que pudessem lhes garantir finalidade e uso adequado. Primeiro, veio a água e a necessidade de acolher pessoas desabrigadas, ilhadas e deslocadas de seus locais de moradia em abrigos que se montavam às pressas e carecendo de diretrizes organizativas em uma cidade onde a gestão neoliberal e privatista tem sido orientada pela minimização da presença do Estado na definição de políticas para a cidade e seus habitantes. Depois veio a que se acumulava e deixava um rastro de destruição. A lama fétida, que acabamos por entender que criava um “odor de enchente”, característico destas situações. A lama contaminada, também, que estava grudada nos móveis, nos brinquedos, nas paredes e deixava a cidade e as ruas cobertas de entulhos e de restos de coisas que outrora foram sonhos, desejos e que se materializaram às custas de muito trabalho e de dedicação. Havia tempo, sonhos, memórias tomadas pela lama. Havia uma tristeza no ar que nos deixava (e deixa) sem palavras.

     

    Esta situação foi vivenciada por autores e autoras desta proposta que tem em comum o estudo da fotografia como estratégia de pesquisa e de problematizar nossos modos de ver o mundo e de habitá-lo com olhares, afetos e memórias. Tomamos, assim, as fotografias como registros, como produção de mundos e como possibilidade de inventar outros mundos, pensando nas suas articulações tanto com a arte, como sua função como estratégia de comunicação e de criação de narrativas visuais midiáticas e de redes sociais. Nos chamou atenção, em especial, a preocupação das pessoas com as fotografias que se haviam perdido, que a água e a lama haviam levado ou danificado. 

     

    Considerando todos estes aspectos, estamos propondo compartilhar imagens colhidas na nossa experiência nesta situação que registramos como fotografias e, em algumas situações, como fotografias das fotografias. Elas mostram nossos andares na cidade e as narrativas que pudemos produzir nesta situação de calamidade. Situação que nos fez pensar a potência da imagem para falar onde faltam palavras ou onde novas palavras precisam ser inventadas. Pensar a fotografia como dispositivo para olhar e refletir sobre a experiência vivida, pensando no lugar dos registros e das memórias quando resta o corpo como principal testemunha do vivido.  A perspectiva teórica se constrói a partir da noção de narrativa em Walter Benjamin e de “descolonização da mentalidade” mediante autores como Fanon, hooks e Sontag, focando na fotografia e na sua potência como dispositivo de reflexão ético, política e estética. 

     
  • Keywords
  • Fotografia; Catástrofe climática; psicologia social
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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