As emergências de saúde pública, resultantes de desastres socioambientais, são eventos predecessores à desestrutura sociopolítica, econômica e sanitária da região afetada durante um espectro de tempo – delimitado, entre outros fatores, pela extensão do desastre. Nessas situações, é premente a organização coordenada de atores, de todos os níveis e esferas, para a tomada de decisão frente ao evento, uma vez que, em meio à situação de calamidade, as decisões tendem a ser tomadas de forma empírica, sob pressão e, por vezes, sem embasamento técnico-científico. Por conseguinte, tecnologias leves que dimensionem o impacto do desastre e que sirvam, em consonância, de base às decisões técnico-políticas dos gestores, assumem importante papel de resposta ao evento. Portanto, nesse viés, em consideração às fortes chuvas e enchentes que assolaram o pampa brasileiro em 2024, fora proposta, pela equipe da Força Nacional do SUS (FN-SUS), a construção de um instrumento de mapeamento que fosse capaz de dimensionar fisicamente o território antes e no decorrer do evento. Essa ferramenta incumbe-se de realizar o levantamento do dano causado aos estabelecimentos de saúde – sejam eles assistenciais ou gerenciais – acompanhar as respostas locais instituídas, quantificar as necessidades assistenciais em termos de recursos humanos e materiais, bem como, dessa forma, desenhar parecer técnico, interpondo nível de resposta e consequentes ações necessárias por parte da FN-SUS. Após elencadas as zonas de maior confluência das chuvas e da destruição física do território, o instrumento encarrega-se de auxiliar as equipes que viriam a realizar a missão exploratória e, quando tabuladas, viria a ser importante denotador do índice de vulnerabilidade territorial de e apoio às negociações de recursos por parte do governo federal. Intitulado “diagnóstico vivo”, que, (des)propositadamente, poderia representar a ideia de trabalho vivo em ato, conforme Emerson Mehry, o instrumento ganha dimensão na sua replicabilidade, de forma contínua, mediante a fluidez do desastre, como também assume um corpo readaptável às diferentes naturezas dos eventos. O diagnóstico vivo incorporou um conjunto de instrumentos e variações ao longo do tempo, que não apenas foram capazes de dar subsídio aos processos de gestão interinstitucional e de reorganização da atenção, mas também registrou o percurso do trabalho realizado pela equipe da FN-SUS e articulou as diferentes fases de resposta. Esse registro permite analisar, por meio de relatórios e publicações, as respostas da gestão local e regional e as lógicas que operaram em cada fase de resposta. O trabalho vivo em ato também é representado pela forma como tecnologias de diferentes naturezas são utilizadas e combinadas para responder às necessidades da gestão no momento de emergências. No caso relatado, foram criados dispositivos de gestão da operação de emergência que combinaram saberes especializados (da vigilância, da atenção à saúde, da gestão setorial e de disciplinas do campo da saúde e da informática) e de diferentes áreas de ação (assistência de emergência, atenção primária, atenção especializada, gestão de sistemas e serviços). Essas respostas, por certo, minimizaram os efeitos da catástrofe e geraram conhecimentos no campo da saúde coletiva de modo a qualificar as respostas em eventos futuros.