APRESENTAÇÃO DO TRABALHO: O sonho de milhares de jovens, mesmo antes de serem aprovados nos cursos de medicina no Brasil, é ter a possibilidade de vivenciar a realidade médica nos serviços de saúde. O ingresso no curso de Medicina no ciclo básico, porém, pode frustrar muitos daqueles que chegam ao ensino superior com expectativas de já estarem imersos no sistema de saúde desde os períodos iniciais da faculdade. Nesse contexto, a Saúde Coletiva se apresenta como um importante dispositivo para proporcionar aos recém-ingressos uma maior aproximação, desde os semestres iniciais, com os ambientes clínicos, hospitalares e os territórios onde a população vive, possibilitando vivências práticas do cotidiano do sistema de saúde que são essenciais para a formação médica, comprometida com os desafios atuais de proporcionar uma atenção integral às necessidades da população. A elaboração deste trabalho tem como objetivo compartilhar uma experiência bem-sucedida e muito enriquecedora de imersão e vivência no Sistema Único de Saúde de estudantes da 1ª fase do curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo em Unidades Básicas de Saúde e outros pontos da rede de atenção à saúde do SUS no município de Passo Fundo – RS.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: As imersões e vivências no SUS foram organizadas com a divisão da turma da 1ª fase do curso de Medicina em quatro diferentes grupos que, ao longo de quatro dias, realizaram visitas a diferentes unidades de saúde de Passo Fundo: os Centros Integrados de Atenção à Saúde, o Centro de Especialidades, alguns hospitais, o Centro de Referência à Saúde da Mulher e da população LGBT, além do Conselho Municipal de Saúde. Dentre as diversas atividades realizadas ao longo das vivências, destacam-se as visitas guiadas por profissionais de diferentes áreas da saúde às mais variadas instalações anteriormente citadas. Além disso, os acadêmicos também acompanharam atendimentos médicos em consultórios da rede, auxiliaram na realização de pequenos procedimentos - orientados e supervisionados por enfermeiros e médicos presentes nos serviços - e entrevistaram diferentes atores sociais do SUS, a fim de aprofundarem seus conhecimentos acerca do cotidiano e do funcionamento do Sistema Único de Saúde no município. Durante as entrevistas, os entrevistados eram questionados quanto às principais características do local visitado: o perfil dos usuários, o tipo de serviço prestado, o número de atendimentos realizados por dia, os profissionais envolvidos, os pontos da rede de atenção à saúde aos quais aquele serviço se articula, a forma como são feitos os encaminhamentos e os atendimentos de maior demanda naquele ponto. Ao final da imersão, os grupos de estudantes realizaram a apresentação de trabalhos sobre os espaços visitados e sobre suas experiências, e os alunos, individualmente, entregaram um portfólio refletindo sobre suas impressões e aprendizados.
RESULTADOS: As visitas, vivências e reflexões realizadas durante e após os dias de imersão nas redes de atenção à saúde em Passo Fundo contribuíram significativamente para o aprofundamento dos conhecimentos dos alunos em relação à operação do SUS no município, auxiliando a compreensão de questões variadas relacionadas à dinâmica de funcionamento dos serviços de saúde visitados e suas conexões com os demais pontos da rede. Antes das vivências, estudou-se a história das políticas públicas de saúde no Brasil e o Sistema Único de Saúde e, após, foi possível articular esses conhecimentos com o trabalho desenvolvido in loco nas Redes de Atenção à Saúde através do SUS. A obtenção de informações sobre os tipos de atendimentos realizados em diversos pontos da rede foi de suma importância para que os alunos compreendessem como se dá a articulação dos níveis de atenção primária, secundária e terciária, cada um com seu foco e características específicas. Compreender melhor essa divisão foi crucial para que os alunos prosseguissem seus estudos sobre as Redes de Atenção à Saúde (RAS), na disciplina de Saúde Coletiva, e entendessem melhor como o funcionamento do sistema de saúde em redes auxilia na garantia de um cuidado mais apropriado e eficaz. Outro aspecto importante diz respeito aos aprendizados sobre os desafios enfrentados pelo SUS, como superlotação, escassez de recursos e burocracia. Identificar essas dificuldades e instigar nos alunos a reflexão acerca de possíveis melhorias e inovações é essencial para formar médicos comprometidos com a evolução do sistema de saúde. Ao mesmo tempo, reconhecer as conquistas e a importância do SUS na promoção da saúde da população brasileira ajuda a valorizar e defender esse sistema de saúde pública. Ainda está previsto no plano de ensino a imersão/vivência em comunidades indígenas, quilombolas, de periferia urbana, de assentamentos rurais e em escolas, tanto para que os acadêmicos possam conhecer esses espaços, como para que possam realizar ações de promoção e de educação popular em saúde. Essa disciplina tem um caráter extensionista que articula a prática com a teoria e desafia os acadêmicos a construir o conhecimento a partir da experiência e da interação de saberes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência de imersão/vivências nas redes de atenção à saúde desde os períodos iniciais da graduação permite o contato direto com pacientes, profissionais da saúde e situações clínicas da vida real fundamentais para a educação prática e para o desenvolvimento profissional. Essa experiência é essencial para que os acadêmicos do ciclo básico iniciem o desenvolvimento de habilidades que despertem maior empatia no trato com seus futuros pacientes, para que compreendam melhor a prática médica em seu contexto real e para que tenham uma visão ampliada acerca da articulação da rede de saúde em seus diversos pontos. Além disso, esta atividade ajuda a ampliar a percepção dos estudantes acerca da importância da multidisciplinaridade do atendimento em saúde, uma vez que a interação com profissionais de diferentes áreas, como enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais, auxilia na melhor compreensão do papel e das responsabilidades de cada membro da equipe nos atendimentos. Isso promove uma colaboração mais eficaz e respeitosa no futuro, resultando em melhores resultados para os pacientes. Por fim, cabe ressaltar a importância da participação e do controle social no SUS e do conhecimento sobre as bases conceituais dos processos de saúde-doença, do Sistema Único de Saúde, da Constituição Federal e das leis e normativas que asseguram aos cidadãos a conquista do direito à saúde de forma universal, integral, equânime e participativa.
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