O presente trabalho centra-se na pesquisa de tese, em desenvolvimento, que vem abordar as redes assistenciais às pessoas com transtornos alimentares (TAs), no intuito de cartografar os acessos e barreiras ao cuidado em saúde. O transtornos alimentares são multifatoriais, surgidos em seus aspectos e formas nos enfoques biopsicossociais, atravessados pela cultura e tempos históricos. Mesmo tendo-se a percepção que os TAs são transtornos ligadas a cultura ocidental, eles afetam muitas pessoas no mundo e identificar sua prevalência global ainda é desafiante, na medida em que há omissões nas pesquisas nacionais de saúde, com dados escassos e muitas mudanças ao longo do tempo nas formas de classificações. Contudo, estima-se que no Brasil, aproximadamente, 5% da população seja afetada. Os TAS quase sempre têm suas primeiras manifestações na infância e adolescência, embora cursem até a vida adulta. No encontro com as experiências das pessoas com TAs e das dinâmicas das esquipes de saúde nas redes assistenciais de produção de cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS), no âmbito da atenção primária e secundária num município da região serrana do RJ, é que se centra essa pesquisa. Esses encontros são tomados como a experiência vivenciada, por usuários, seus familiares e pelos trabalhadores de saúde na produção do cuidado. Neste sentido, busca-se mapear uma rede assistencial de cuidados que pretenda e possa ser continente aos usuários e familiares, no entendimento de que ser continente é ser território, com acolhimento e pactuação permanente. Contudo, expande-se a noção de território, na compreensão de que pessoas com TAs são redes de si próprias, redes vivas, que estão produzindo e compartilhando cuidados. O encontro com as experiências de usuários, de sua rede familiar e de trabalhadores da saúde, é possibilidade de se analisar as barreiras e acessos aos cuidados em saúde aos TAs. O entendimento é de que acesso e barreira não se pautam somente na lógica da falta ou na existência de ofertas de serviços assistenciais ao TAs, a partir de indicadores externos. Mas acesso e barreira comportem os sentidos dados por quem os vivencia no cotidiano das redes de cuidado investigadas. Dessa forma, a proposta de apostar na cartografia como método de estudo é na compreensão de acompanhar os movimentos nos diversos sentidos dados ao território investigado. Como pesquisa processual, compreende-se que enquanto se traça os movimentos acontecidos, porta-se também o traçado da cartógrafa, que vai fazendo-desfazendo as paisagens psicossociais. Na produção da pesquisa trabalharemos com os seguintes instrumentos: diário cartográfico, entrevistas semiestruturadas, procedimentos em grupo e a ferramenta do usuário-guia. A análise da pesquisa será feita processualmente através da estratégia de triangulação dos dados coletados no diário cartográfico, nas entrevistas semiestruturadas/procedimento em grupo e no percursos com os usuários-guia. Falar das redes assistenciais de cuidados é vivenciar o cotidiano de usuários, familiares e trabalhadores nas micropolíticas do cuidado em saúde. Pretende-se que esta pesquisa promova visibilidade as redes de assistenciais às pessoas com TAs, gerando reflexões sobre a temática com desdobramentos em cuidados em saúde focados nas necessidades de usuários e de seus familiares.