Apresentação: O ônus do estresse atinge cerca de 30% dos adultos economicamente ativos em âmbito nacional. Deste modo, a exposição cumulativa aos fatores ocupacionais estressores se associa ao absenteísmo, esgotamento físico, insatisfação, redução do desempenho laboral, além de gerar aumento nos custos de saúde destinados a esta parcela da população. Profissionais vinculados a um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) vivenciam cotidianamente situações desafiadoras, as quais se encontram relacionadas a aspectos intrínsecos e extrínsecos, como a sobrecarga de trabalho expressada pela elevada carga horária, exigências de variada natureza e a transitoriedade do vínculo laboral. O nível de estresse percebido é considerado preditor do declínio físico e mental independente da idade, sexo, estado civil e nível de escolaridade. Da mesma forma, a adoção de longas jornadas de trabalho pode levar a um estilo de vida com hábitos alimentares inadequados e comportamento sedentário. A inatividade física é um fator de risco para morte prematura e desenvolvimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis e agravos psíquicos. A realização de exercícios físicos tem sido considerada um pilar imprescindível para uma vida saudável, pois otimiza a qualidade de vida e o sono, além de aspectos físicos e mentais devido ao aumento dos níveis séricos de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. São escassos os estudos que investigaram indicadores de estresse e atividade física nos residentes de um PRMS, não estando claro qual o nível de estresse vivenciado durante o período da Residência, o tempo investido na prática de atividades físicas e a relação entre estas variáveis. Deste modo, o presente estudo avaliou e comparou o nível de estresse e de atividade física de residentes vinculados a um PRMS de um hospital de ensino do Sul do Brasil. Desenvolvimento: Estudo transversal realizado com residentes de um PRMS de um hospital de ensino localizado no interior do Sul do Brasil que oferece anualmente, por intermédio do Ministério da Saúde, 20 bolsas nas áreas de Educação Física (1), Enfermagem (4), Farmácia (4), Fisioterapia(4), Nutrição (2), Odontologia (2), Psicologia (2) e Serviço Social (1) com carga horária semanal de 60 horas e duração de 2 anos. A coleta de dados ocorreu no período de outubro a novembro de 2022, após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CAEE 63808222.0.0000.5343), tendo os participantes assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram incluídos residentes vinculados ao primeiro e segundo ano distribuídos e excluídos aqueles afastados por motivos de saúde, os por estarem em período de férias ou de intercâmbio, bem como os que expressaram o desejo de não participar do estudo. A amostra foi composta por 39 indivíduos, em que 21 foram excluídos por não desejarem participar do estudo (amostra final: n= 18). A abordagem inicial ocorreu nas dependências da instituição em conformidade com as escalas de trabalho dos residentes. Foram coletados os dados demográficos (idade, gênero, estado civil, naturalidade e se possuía filhos) e laborais (tempo de formação, tempo de trabalho na área de formação e tempo de trabalho em meses, turno de trabalho e ano que se encontrava no PRMS). Foram fornecidos o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e a Escala de Estresse Percebido-10 (Perceived Stress Scale-10, PSS-10) e os mesmos foram preenchidos e devolvidos ao pesquisador responsável no prazo de duas semanas. O nível de estresse percebido foi avaliado por meio da PSS-10 é composto por 10 questões graduadas de zero a quatro (0= nunca; 1= quase nunca; 2= às vezes; 3= quase sempre; 4= sempre). O escore final do PSS-10 é variável de 0-40: 0-10 pontos, sem estresse; 11-20 pontos, estresse baixo; 21-30 pontos, estresse moderado e 31-40 pontos, estresse alto. O IPAQ versão curta permitiu a classificação do nível de atividade física em: sedentário/a; pouco ativo/a; fisicamente ativo/a e muito ativo/a. Para a fase analítica, a categoria pouco ativo/a foi unificada à sedentário/a e a muito ativo/a à fisicamente ativo/a, resultando em apenas duas classificações centrais. Os dados foram analisados utilizando o software SPSS (versão 23.0). Realizada análise descritiva em frequência absoluta, medida de tendência central (média) e de dispersão (desvio padrão). As variáveis categóricas relativas ao nível de estresse percebido e ao nível de atividade física foram apresentadas em frequência absoluta e as numéricas, média e desvio padrão. A normalidade dos dados foi testada pelo teste Shapiro-Wilk e após, foi comparado o nível de estresse percebido com o tempo dedicado à prática de atividades físicas e a permanência na posição sentada, utilizando teste T Student para grupos independentes ou o teste U de Mann-Whitney (p<0,05). Resultados: Amostra (n=18; 26,5±3,0 anos) com predomínio de mulheres solteiras. A média do tempo de trabalho na Residência foi de 14,2±6,2 meses. A pontuação média do nível de estresse percebido (PSS-10) foi de 19,6±6,0. Houve maior proporção de residentes com estresse baixo (n= 9) e moderado (n= 8). Quanto ao nível de atividade física, a maior parte foi classificada como fisicamente ativos (n=15). Cabe destacar que a simultaneidade entre prática de atividade física moderada e vigorosa foi observada em apenas 3 participantes. Não houve diferença entre o nível de estresse percebido e o tempo dedicado à prática de atividades físicas e à posição sentada. Foram observados indicadores desfavoráveis de estresse percebido e bons níveis de atividade física. Houve maior proporção de indivíduos classificados com estresse baixo/moderado e como fisicamente ativos. Quando considerado o estresse, esta resposta adaptativa envolve o desequilíbrio entre aspectos físicos, psicológicos e hormonais, sendo incitada pela exposição às situações desafiadoras. Silva et al. (2014) investigaram o estresse relacionado ao trabalho em 36 residentes multiprofissionais, demonstrando que 51,35% destes apresentam estresse baixo e 48,65% apresentam estresse alto. Em relação ao nível de atividade física, Squarcini et al. (2021) revelaram que 8/10 residentes se apresentavam fisicamente ativos o que vai ao encontro dos dados do presente estudo, em que foi observado maior proporção de residentes com bons níveis de atividade física, além disso, a média de tempo de prática de atividades físicas moderadas foi de 3 horas, atendendo ao recomendado pela OMS. A presente pesquisa apresenta como ponto positivo, a avaliação do nível de estresse e de atividade física em uma população pouco estudada, porém houve limitações como a utilização de dados auto relatados, em que pode ocorrer subestimação ou superestimação do estresse vivenciado ou das atividades físicas executadas. Considerações finais: Os residentes multiprofissionais avaliados apresentaram nível de estresse percebido baixo/moderado, se encontram em maior proporção fisicamente ativos e dedicam tempo semelhante para prática de atividades físicas independentemente do nível de estresse percebido apresentado. Ressalta-se que, apesar do nível de atividade física ter sido favorável, ainda se torna necessária a elaboração e implementação de estratégias interventivas mediadas por PRMS visando o enfrentamento dos níveis de estresse.