Introdução: Porto Alegre enfrentou uma das maiores catástrofes climáticas de sua história em maio de 2024. Uma vez que, com esta situação, inúmeros serviços de saúde ficaram inoperantes e milhares de pessoas foram alocadas em abrigos temporários, a Coordenação de Atenção à Tuberculose, IST, HIV/Aids e Hepatites Virais (CAIST) reorganizou a sua dinâmica de trabalho para garantir a manutenção do tratamento das pessoas atendidas no seu escopo de atuação. Após estruturação do fluxo de entrega de medicamentos e insumos nos abrigos, foi organizada uma equipe itinerante de coleta para realização de exames laboratoriais, como carga viral de HIV, HBV, HCV, contagem de linfócitos T CD4 e BAAR; nas pessoas que fazem parte dos públicos prioritários elencados na Nota Técnica n° 16/2024-.DATHI/SVSA/MS. Objetivo: Relatar o trabalho realizado pela equipe de coleta itinerante durante o período de calamidade pública em Porto Alegre. Método: A ONG Médicos do Mundo disponibilizou insumos e coletadores voluntários para possibilitar a criação da equipe e a realização dos exames. A demanda para coleta era sinalizada pelos profissionais que atuavam nos abrigos do município a partir do preenchimento de um instrumento de comunicação criado pela CAIST. As solicitações eram analisadas por uma equipe técnica multiprofissional, composta por profissionais da enfermagem, farmácia e infectologia, em que era avaliado a adesão ao tratamento e necessidade de demais exames ou encaminhamentos. Após análise da solicitação, era acionada uma equipe que realizava o acolhimento, coleta de exames e orientação sobre o tratamento no abrigo. Resultados: Durante o período de maio a junho de 2024 foram realizadas 27 coletas de exames laboratoriais pela equipe itinerante. Salienta-se que todas estas pessoas estavam sem realizar exames laboratoriais de controle do HIV há mais de seis meses, tempo superior ao estipulado pelo Ministério da Saúde. Além disso, mesmo que não fosse solicitado pelo profissional atuante no abrigo, se uma pessoa estivesse em processo de aids avançada ou em perda de seguimento, uma equipe era mobilizada para a realização de uma consulta e coleta de exames laboratoriais no abrigo. Com isso, foi realizada a coleta de exames em 16 pessoas vivendo com HIV/Aids que estavam em perda de seguimento ou em Aids avançada. Considerações finais: Com a criação de uma equipe itinerante de coleta de exames laboratoriais foi possível ofertar às pessoas abrigadas um acesso facilitado e rápido a exames laboratoriais importantes para o controle de agravos como HIV, hepatites virais e tuberculose, ao mesmo tempo em que garantiu-se o sigilo dos diagnósticos. Assim, observa-se a importância desta estratégia para assegurar a integralidade do cuidado às pessoas abrigadas mesmo durante uma situação de calamidade climática, além de reduzir as barreiras de acesso às tecnologias de cuidado em saúde e facilitar a vinculação de pessoas que vivem com HIV/Aids e estavam em perda de seguimento ou em Aids avançada na rede de cuidado em saúde do município.