Apresentação: A cartografia na área da saúde vem expandindo-se de modo a permitir inovações nas pesquisas científicas, sobretudo na psicologia e na saúde coletiva. No entanto, ainda é desafiador uma vez que os pesquisadores da área da saúde, mesmo os que se identificam com a abordagem qualitativa, ainda estão aprisionados no cartesianismo de se fazer pesquisa, se guiando por passos pré-estabelecidos por referenciais metodológicos. Neste sentido, o objetivo deste estudo é descrever as experiências de pesquisadores sanitaristas no desenvolvimento de estudos cartográficos, a fim de refletir sobre as potencialidades e desafios desse referencial teórico-metodológico. Desenvolvimento do estudo: Trata-se de um relato de experiência a partir de pesquisas realizadas no Ceará e no Piauí, com o referencial teórico-metodológico da cartografia proposta por Deleuze e Guattarri. As pesquisas foram realizadas no período de 2020 a 2024 por pesquisadores(as) vinculados a programas de pós-graduação na área da saúde coletiva e da enfermagem. Os objetos de estudo eram na área da formação na saúde a partir de ações de reorientação da formação da saúde; e do processo de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde. Resultados: A formação cartesiana dos profissionais da área da saúde enrijece os saberes de seus egressos, a partir de técnicas pré-estabelecidas. Assim, ao realizar os estudos cartográficos os pesquisadores(as) depararam-se com os desafios da leitura dos teóricos da filosofia da diferença, como textos de Guattari, Deleuze e Spinoza. Verificou-se que a cartografia é processual e desenvolve-se a partir da realização do estudo, onde os pesquisadores podem alterar a escolha das técnicas de coleta. Além disso, nota-se o envolvimento e a implicação entre os pesquisadores e os participantes com o objeto de estudo, engajando-se para colaborarem. Dentre as técnicas utilizadas elencam-se: entrevistas semiestruturadas presenciais ou virtuais; entrevistas coletivas a partir de oficinas ou grupos focais; questionários. Observou-se a transformação dos cartógrafos e dos próprios sujeitos que colaboraram para a produção dos dados em coletivo, uma vez que a cartografia oportuniza reflexões importantes sobre os objetos de estudo. É importante salientar também o desafio com os trâmites éticos que muitas vezes foram preparados para pesquisas que têm um padrão, inviabilizando a realização de coletas em diversos lugares, por exemplo. Considerações Finais: Os estudos cartográficos permitiram aos pesquisadores imersões profundas nas realidades dos objetos de estudo, fazendo com que os sujeitos, por meio dos múltiplos olhares, incorpora informações, percepções, conhecimentos, sentimentos, afetos, dentre outros elementos experimentados, o que contribuiu com análises complexas e críticas materializadas nas dissertações e teses. Todavia, ainda existe resistência no meio acadêmico em relação ao método de pesquisa, o que para nós representa uma ideia inadequada e ao mesmo tempo um aprisionamento acadêmico a métodos tradicionais, com prevalência dos cartesianos. A cartografia precisa ser mais difundida para que junto aos outros métodos de pesquisa seja possível uma maior amplitude de olhares e possibilidades de análises de objetos e com isso termos uma ciência múltipla, ética e responsável com os dilemas intrínsecos à sociedade.