Apresentação: Embora o SUS seja pensado em Redes, reconhece-se que são privilegiadas práticas assistencialistas em detrimento daquelas que pensam a integralidade do cuidado. Isso posto, identificar como o cuidado se realiza é fundamental para visualizar a Rede de Atenção à Saúde (RAS) existente, bem como reconhecer potências, falhas e promover melhorias. Nesse sentido, o trabalho objetivou registrar e identificar o Itinerário Terapêutico (IT) de um usuário da RAS na Macrorregião Centro-Oeste do RS, confeccionar o mapa dos fluxos percorridos, verificar os desafios do cuidado e detectar as redes que o compõe. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa qualitativa analítica, realizada por entrevista narrativa. A seleção do entrevistado ocorreu por meio de convite a pacientes presentes em um setor do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), utilizando como critério de inclusão a utilização da Rede de Atenção à Saúde às Pessoas com Doenças Crônicas. Para realização da entrevista se utilizou roteiro, porém, o entrevistado expressou livremente sua experiência. A entrevista foi gravada e transcrita a fim de permitir a produção do IT, sendo posteriormente realizada análise dos dados. Resultados: DG, mulher, 50 anos, casada, mãe, natural do RS. Ela apresenta Artrite Reumatoide (AR) e Lúpus, e relata que os sintomas iniciaram em 2000, quando morava em Jaguari. Inicialmente, tentou realizar o controle dos sintomas por meio de chás, que foram ineficazes, levando-a a buscar atendimento no serviço de saúde ofertado pelo Sindicato Rural, onde foi encaminhada para reumatologista. Em Santa Maria-RS, DG iniciou seu tratamento, sendo tudo financiado por recursos próprios. Ao enfrentar dificuldades financeiras, suspendeu o acompanhamento, e, após se mudar para Santiago, sofreu piora dos sintomas. Buscou novamente atendimento na rede particular, e informou que, ocasionalmente, conseguia realizar os exames por meio Unidade Básica de Saúde. Considerando sua dificuldade financeira, seu reumatologista a encaminhou ao HUSM. Neste serviço a paciente conta que continuou o acompanhamento para AR, sendo realizado o diagnóstico de Lúpus tardiamente, por falhas na atenção médica, que negavam as suspeitas da paciente. Atualmente, DG utiliza os serviços do HUSM, sendo todo o tratamento realizado pela rede pública, incluindo os translados, consultas, exames e medicações. Sobre seu cuidado, informou que somente a família a ajuda, não procurando apoio na comunidade e instituições. Relata também que se sente feliz com o cuidado dispensado por todos os setores. Considerações Finais: Nota-se que os caminhos percorridos são complexos, evidenciando a transição entre rede pública e privada de saúde. Inicialmente, observou-se desafios para a inserção da usuária na rede de cuidado formal, sendo utilizadas principalmente redes invisíveis e existenciais. Já integrada à RAS, rede formal do SUS, DG apresentou desafios quanto à validação de suas queixas, o que resultou em diagnóstico tardio e prolongou o tempo de remissão de seus sintomas. Apesar disso, nota-se que a rede formal obteve êxito no que se refere ao cuidado longitudinal, logrando na manutenção da remissão das doenças. Entretanto, é importante ressaltar que a integralidade do cuidado não pôde ser avaliada, pois não foram relatadas experiências em saúde referentes à demandas para além das doenças crônicas.