INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO: Os povos originários possuem uma relação intrínseca com a terra e os recursos naturais, fundamentada em práticas ancestrais que garantem sua subsistência e preservação cultural. Estes povos, reconhecidos por sua conexão com o meio ambiente, têm enfrentado desafios crescentes devido ao desmatamento desenfreado. No entanto, vêm enfrentando conflitos relacionados, principalmente com obras em seus territórios, como é o caso das hidrelétricas, as quais geram consequências na saúde ambiental, muitas vezes irreversíveis, e provocam mudanças extremas em suas terras, no seu modo de vida, como também na saúde desses grupos. Também enfrentam conflitos relacionados à presença da agropecuária, madeireiros e garimpeiros em seu território, alterando a fauna e flora local, o que atinge diretamente na qualidade dos alimentos e da água consumida por esses povos, além de, muitas vezes, forçar um movimento de migração em busca de melhores condições, quebrando o vínculo cosmológico que essas etnias possuem com a própria terra e os animais presentes nela. Diante disso, evidencia-se a importância de se abordar a questão da educação em saúde ambiental para a população não indígena, tendo em vista que são os principais agentes causadores desses conflitos. A Educação ambiental (EA) está relacionada com os aspectos e práticas educativas pedagógicas derivadas de interações da natureza, cultura e sociedade e que tem como meta, sensibilizar e desenvolver a conscientização ambiental, fazendo com que a sociedade assuma a responsabilidade com os ecossistemas e as futuras gerações para preservar o meio ambiente. Já a Saúde ambiental, são todos os aspectos da saúde humana que estão determinados por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no meio ambiente. Se refere também à teoria e prática de valorizar, corrigir, controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que, potencialmente, possam prejudicar a saúde de gerações atuais e futuras. Trata-se de um campo de atuação da saúde pública que se ocupa das formas de vida, das substâncias e das condições em torno do ser humano, que podem exercer alguma influência sobre a sua saúde e o seu bem-estar. De modo geral os povos indígenas, antes do processo de colonização estabeleciam, de forma mais abrangente, a relação saúde/doença com espíritos, ou seja, as concepções de saúde estavam mais vinculadas com o ambiente, com o contato com a natureza. Isso modifica-se a partir do momento que começam a acontecer os aldeamentos, o genocídio cultural e a oferta de um ensino aos indígenas focado no conhecimento ocidental, contribuindo para reforçar esse conhecimento como mais importante que o tradicional. O fenômeno do desenvolvimento econômico na sociedade ocidental contribuiu para a construção desse cenário de degradação ambiental que afeta diretamente a saúde dos povos indígenas, com o crescimento das grandes empresas nacionais e internacionais utilizando dos recursos ambientais de forma desenfreada. Sendo assim, o presente estudo possui como objetivo demonstrar a relevância da educação em saúde ambiental para a população não indígena como forma de promoção e preservação da saúde indígena. METODOLOGIA/DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo bibliográfico de caráter qualitativo e descritivo, sustentando-se em buscas realizadas durante o mês de maio de 2024 nas bases de dados LILACS, BDENF e SCIELO, no recorte temporal de 2019 a 2024, seguindo os descritores e os booleanos: “Saúde Indígena” AND “Educação em Saúde Ambiental” AND “Ensino”. Considerou-se os estudos publicados em português dos últimos cinco anos, os quais possuíam como foco do trabalho a inclusão dos povos originários em um contexto de educação ambiental. Foram encontrados 85 artigos abordando os termos da estratégia de pesquisa, sendo incluídos 4 artigos neste resumo. Excluíram-se 81 textos por estarem incompletos, em língua inglesa e espanhola, sem vínculo com o tema e fora do recorte temporal proposta. RESULTADOS E DISCUSSÕES: A biodiversidade encontrada na terra indígena é inquestionável, uma vez que tais áreas são dotadas de atributos ambientais que requerem uma sujeição legal que implique a sua preservação inalterada e a utilização sustentável. No entanto, as terras indígenas, nos últimos anos, têm sofrido constantes prejuízos ambientais decorrentes de desmatamentos ilegais, da instalação irregular de madeireiras no seu entorno, além da presença constante de atividades agropecuárias nas proximidades das aldeias. Nesse cenário de crescente degradação ambiental nas terras indígenas é que se verifica que os espaços de vida, de liberdade e de reprodução físico-espiritual dos povos indígenas também passam por uma crise ecológica, em que a mobilização de diferentes grupos sociais pode fomentar o surgimento de uma ética ambiental voltada para a tutela e para a gestão ambiental indígena. Os desmatamentos desenfreados nas proximidades das terras indígenas, a construção de hidrelétrica perto das aldeias tem gerado um estado de desintegração socioambiental para os povos e para as terras indígenas, mais certo é que o solo, a água, a flora, a fauna, a saúde, o bem-estar e o clima são os principais bens ambientais indígenas sujeitos à degradação ambiental. A contaminação dos recursos hídricos presentes nas terras indígenas merece tratamento peculiar, pois as atividades agrícolas, a industrialização e o processo de urbanização constituem a maior fonte de contaminação das águas. Além disso, a poluição das águas em territórios indígenas em razão do uso indiscriminado de agrotóxicos pelas fazendas presentes nas cercanias das aldeias têm sido ponto amplamente discutido pelos povos indígenas, que têm apresentado, nos espaços de deliberação, um discurso preventivo e proativo em defesa dos recursos hídricos. Assim, a orientação para uma tutela socioambiental dos povos indígenas no contexto da gestão dos recursos hídricos deve observar, que a dignidade e a saúde dos indígenas estão condicionadas ao acesso à água em quantidade e qualidade suficiente ao atendimento de suas necessidades. O uso de agrotóxicos nas proximidades das aldeias também deve ser pensado como um problema que afeta diretamente a saúde desses povos. É possível citar intoxicações, principalmente em recém-nascidos que, em virtude do aleitamento materno altamente contaminado, têm apresentado teratogenias, mutagênicas e carcinogênicas. Nesse sentido, o vínculo existente entre saúde e meio ambiente é de grande notoriedade, indagando-se sempre sobre a interação existente entre o indivíduo e as condições do meio ao qual está inserido, principalmente quando este favorece o acometimento de enfermidades. É importante salientar que os fatores ambientais possuem interações que vão desde o cunho físico, químico, biológico, cultural, social e especialmente econômico, ou seja, fatores que implicam na vida de todos os seres, logo, percebe-se que a compreensão dessas relações é extremamente importante para o equilíbrio das atividades entre meio ambiente e saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os impactos das relações de contato estabelecidas com os povos originários reflete sobre como o desenvolvimento contribuiu para mudanças nas concepções de saúde dessas comunidades. No entanto, o desenvolvimento da sociedade não-indígena para o contexto indígena, pouco contribuiu para as aldeias, muitas vezes marginalizando essas comunidades e dificultando sua integração na sociedade brasileira. O desenvolvimento, frequentemente entendido como crescimento econômico e aumento de capital financeiro, trouxe benefícios para alguns, mas causou degradação ambiental e territorial para populações originárias. Visto como um fio condutor da modernidade, impactou profundamente os povos indígenas, alterando seu modo de vida e, sobretudo, sua saúde. Nesse contexto, a educação em saúde ambiental emerge como uma ferramenta indispensável para capacitar as comunidades não indígenas, promovendo um entendimento crítico sobre os impactos ambientais e estratégias para mitigação e adaptação, visando a preservar e promover a saúde e a sustentabilidade dos povos indígenas.