GÊNERO, RACIALIDADE, SEXUALIDADE E VIOLÊNCIAS: O LUGAR DAS MULHERES EM UM CAPS AD

  • Author
  • Paula Emilia Adamy
  • Co-authors
  • Analice de Lima Palombini , Clara Lia Costa Brandelli , Adriano Souza dos Santos , Jullia Kaiser
  • Abstract
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    Este trabalho parte de uma pesquisa de doutorado em Psicologia Social e Institucional, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que trata sobre o encontro entre a Prevenção Combinada do HIV, a Redução de Danos e a Gestão Autônoma da Medicação (GAM) como condição de possibilidade para o fortalecimento do protagonismo e promoção da autonomia às pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas e que vivem com HIV. Esta pesquisa se deu em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas 24 horas - CAPS AD IV. Experienciamos juntas e juntos aos/às usuários/as e trabalhadores/as as dimensões do cuidado, direitos e autonomia, tendo o Guia GAM como instrumento e o grupo como dispositivo a partir de Rodas de Conversas como processo metodológico. Durante as 10 Rodas que ocorreram, um total de 43 usuários/as participaram, sendo 33 homens cis e 10 mulheres (7 cis e 3 trans). Além deles/as, 3 trabalhadores/as (duas mulheres cis brancas e 1 homem cis negro) e 1 pesquisadora (mulher cis branca). Do total de participantes, 9 pessoas tinham HIV. Dessas 9, 6 eram mulheres: 2 mulheres trans negras e 4 mulheres cis, sendo 3 negras e 1 branca. Nas Rodas de Conversa dos grupos da pesquisa, os homens cisgênero tiveram maior participação quantitativa entre os/as usuários/as na maior parte dos encontros, mas, dentre as pessoas vivendo com HIV, a maioria eram mulheres, mesmo estas sendo a minoria nos serviços de CAPS AD. O uso de álcool e outras drogas carrega em si várias concepções sociais e de gênero, que se presentificam nos contextos dos serviços de saúde voltados a esse campo. Enquanto, na Atenção Primária, são as mulheres cis que mais buscam cuidado, nas diversas realidades encontradas nos CAPS AD ainda existe maior prevalência de homens cisgênero e menor participação de mulheres cis e trans. Mulheres encontram diversas barreiras para acessar esses serviços e, quando estão dentro dos mesmos, vêem, muitas vezes, a masculinidade tóxica se expressar nas relações entre usuários/as e trabalhadores/as, de forma que não se sentem à vontade para prosseguir no seu processo de cuidado. Para as mulheres trans, aparece ainda a transfobia como mais uma camada de opressão, fazendo com que elas não permaneçam no serviço ou que tenham dificuldade em sustentar a sua identidade de gênero. As mulheres cis e trans que participaram, embora estivessem em menor número, puderam compartilhar histórias e experiências carregadas de toda a intensidade que as relações entre gênero, uso de drogas, sexualidade e a situação de rua podem construir como marcadores de opressão. Estas histórias foram trazidas a partir do método da Escrevivência, de Conceição Evaristo. Nossa escolha de trazer estas narrativas demarca uma posição: a de ampliar a visibilidade para as mulheres que fazem uso de drogas no que toca a política de HIV, cujas ações seguem direcionadas prioritariamente para a população masculina (homens cis gays) e jovens e, sobretudo, no fortalecimento de uma direção de clínica-política antirracista e anti-cisheteronormativa.

  • Keywords
  • Prevenção; HIV; Saúde Mental; Gênero; Redução de Danos
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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