Desastres naturais são eventos catastróficos desencadeados por fenômenos e desequilíbrios da natureza que atuam independentemente da ação humana, como terremotos, furacões, inundações, entre outros, que impactam negativamente a sociedade e o meio ambiente. Estes eventos podem resultar em perdas significativas de vidas humanas, danos materiais extensos e desestruturação de comunidades inteiras. Para ser considerado um desastre natural, o evento deve ser originado exclusivamente de processos naturais, independentemente da presença ou não de atividade humana exacerbando seus efeitos e provoca diretamente ou indiretamente danos à propriedade, ou faz um grande número de vítimas, ou ambas. A intensidade e imprevisibilidade desses fenômenos destacam a necessidade de políticas públicas robustas de prevenção, monitoramento e resposta, visando mitigar seus impactos devastadores. De acordo com Rafaloski et al (2020), tais desastres são episódios desorganizadores e com grande potencial de adoecimento físico e psíquico, em que ficam suscetíveis as pessoas atingidas direta ou indiretamente, os trabalhadores envolvidos e até mesmo as pessoas que acompanham ocorrência pelos meios de comunicação. Desde maio de 2024, o Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tem enfrentado uma grave crise devido a enchentes que resultaram em um número alarmante de fatalidades, superando em mais de dez vezes os óbitos registrados nos últimos 11 meses. As chuvas intensas exacerbaram o transbordamento dos rios, inundando áreas urbanas e rurais, afetando severamente a agricultura e a infraestrutura logística do estado. Tal catástrofe superou o marco da última enchente registrada em 1941. Além das perdas humanas, o desastre impactou significativamente a economia local, comprometendo a produção industrial e agrícola, e colocando em questão a estabilidade fiscal da região. O evento sublinha a vulnerabilidade crescente às mudanças climáticas e a necessidade urgente de medidas preventivas e adaptativas para mitigar futuros danos. De acordo com o balanço da Defesa Civil gaúcha, até meados de junho/2024, o número de desaparecidos subiu para 39. Atualmente existem 806 feridos, 10.793 desabrigadas (com a moradia destruída) e 422.753 desalojados temporariamente. Ao todo, 478 municípios, ou seja, 96% dos municípios de todo o Estado (497) foram atingidos e a população afetada chega a 2.398.255 pessoas. Os municípios com o maior número de mortes são Canoas (31 óbitos), Roca Sales (13) e Cruzeiro do Sul (12). Dos municípios gaúchos afetados encontra-se Pelotas, quarta cidade mais populosa do Estado, a qual enfrenta maior enchente em oito décadas. O município manteve informes de que as diversas áreas que com classificação de risco vermelho para inundação, no mapa disponibilizado pela Prefeitura, para evacuação de diversas regiões imediatamente, como Laranjal (Santo Antônio, Valverde e Pontal), Colônia Z3, Vila da Palha – Cruzeiro, Recanto de Portugal, Marina Ilha verde, Charqueadas, Umuharama, Estrada do Engenho, Lagos de São Gonçalo, Parque Una, Navegantes, Ambrósio Perret, Mário Meneghetti, Balsa, Fátima, Doquinhas, Quadrado, Ceval, Mauá, Loteamento Osório, Pântano e Simões Lopes (fundos). Centenas de pessoas tiveram suas casas inundadas e deixaram suas residências para se deslocarem em abrigos comunitários na cidade, como no salão paroquial João Paulo 2º, na Colônia de Pescadores Z3, na Escola Estadual Edmar Fetterno Laranjal, no ginásio da antiga AABB (Associação Atlética Banco do Brasil), agora da UFPel, no centro. Nesse contexto adverso, Rafaloski et al (2020) destacam que a saúde mental da população se torna alvo fácil, demandando dos trabalhadores da atenção psicossocial o desenvolvimento de ações para lidar com essa condição. Diante desse cenário de emergência humanitária provocada por desastre natural por enchentes na cidade, docentes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desenvolveram projetos de acolhimento, promoção de saúde mental e apoio psicossocial a população vítima desses desastres. Dentre desse projeto encontrou o grupo apoio psicossocial a alunos da UFPel que tiveram suas atividades acadêmicas interrompidas pelo desastre. Neste ínterim, é objetivo do trabalho descrever sobre as ações do projeto de caráter extensionista desenvolvido pela UFPel por iniciativa de docentes com intuito de promoção em saúde mental aos estudantes durante o período de calamidade por desastre natural provocada por enchentes na cidade de Pelotas. Trata-se de trabalho cuja abordagem é qualitativa e que se classifica como seus objetivos como descritivo, por meio do relato de experiência de participantes do grupo. As reuniões dos grupos ocorreram durante às tardes de terças e sextas-feiras nos meses de maios e junho de 2024. Os encontros tinham duração em média de 1 hora e 30 minutos e eram realizadas na Unidade CUIDATIVA – Centro Regional de Referência em Cuidados Paliativos da UFPel. As reuniões grupais eram coordenadas e tinham a participação de docentes dos cursos de Enfermagem, Psicologia, Medicina, Terapia ocupacional, Cinema. As atividades eram desenvolvidas no grupo permitiam reflexões e momentos de escuta sobre as mais diversas demandas emergidas do contexto em que viviam. Alguns estudantes naturais de outras regiões e Estados não puderam viajar, regressar para suas cidades natais, durante esse período e demonstraram demandas específicas associada a medo e insegurança. Alguns relataram que constantemente familiares questionavam sobre suas condições de risco na cidade, gerando preocupações a entes que se encontravam distantes. Das atividades e oficinas realizadas encontraram-se oficinas de aromaterapia, que era A aromaterapia que é classificada tanto como uma arte quanto uma ciência baseada na fitoterapia; estudo bioquímico das plantas e suas possíveis aplicações para a saúde humana, baseia-se na cura pelos aromas difundidos para promover boa satisfação emocional e física. Dessa maneira, cada sessão tinha um momento específico em que era trabalhado um tipo específico de aromas. Outra atividade foi conduzida pelos próprios estudantes, como roda de discussões coordenados espontaneamente por graduandos que se dispuseram a organização semanal do grupo. Uma outra oficina foi aula experimental de Samba-rock, promovido por estudante de música. Tratou de gênero musical e a um estilo de dança, ambos com origens na década de 1950, que teve mais destaque nas décadas de 1960 e 1970. Tais atividades tiveram como foco a promoção em saúde mental e bem-estar dos estudantes. Teve grande adesão e os participantes trouxeram as mais diversas demandas, como necessidade de ressignificar o momento, busca de encontro de sentido por meio da experiência vivida, como também permitiram acesso a sentimentos de revolta, medo, insegurança, vulnerabilidade, raiva, sensações de perdas e luto. Ao mesmo tempo outros sentimentos giraram em torno de gratidão pela solidariedade e união da população em prol do Estado, assim como esperança e fé. Conclui-se, portanto que atividades como essa, realizada pela Universidade revela a importância da atuação, em todas as esferas, embasada nos conhecimentos em saúde mental para proporcionar à população e aos futuros profissionais, hoje estudantes, a realização de atividades que promovam a prevenção, a mitigação e o tratamento em saúde mental, no contexto de desastres naturais das quais tem vivenciado o Estado do Rio Grande do Sul, com intuito de mitigar o sofrimento, como também promover ressignificações diante das circunstâncias que enxergam a sua volta.