Introdução: De acordo com os Estudos da Deficiência, a difusão de dinâmicas de exclusão e estigmatização dos corpos dissidentes é resultado da produção compulsória do conceito de capacidade, uma vez que o capacitismo atravessa tanto indivíduos quanto instituições ao emergir no contexto social. Além disso, nota-se que as práticas capacitistas implicam na falta de acessibilidade dentro das instituições de ensino, o que frequentemente impossibilita a participação de estudantes com deficiência nas atividades propostas pelos docentes. Destarte, evidencia-se a importância da exposição dos desafios que são impostos, durante a formação médica, sobre o discente com deficiência. Objetivos: Este trabalho objetiva expor a falta de acessibilidade vivenciada nas universidades e fomentar a construção de práticas anticapacitistas no meio acadêmico para o estabelecimento de uma educação inclusiva e acessível. Métodos: Inicialmente, houve uma revisão bibliográfica de artigos que contemplassem a temática do capacitismo e sua intersecção com a educação, bem como leituras que englobassem os Estudos da Deficiência. Em seguida, foram efetuadas reuniões no grupo de pesquisa para debater os conteúdos teóricos presentes nas literaturas e analisar a realidade acadêmica. Por fim, foram realizados encontros com pesquisadores e entrevistas abertas com discentes com deficiência, a fim de correlacionar os materiais teóricos com os relatos pessoais de vivências das pessoas que sofrem com as práticas capacitistas do meio universitário. Resultados: Primeiramente, nota-se que as estruturas capacitistas não apenas informam a atuação docente, mas também estão difundidas institucionalmente no meio acadêmico, de modo a perpetuar normas que firmam a exclusão social dos corpos dissidentes através do processo de higienização do heterogêneo. Dessa forma, a corponormatividade se expressa explicitamente na inacessibilidade das atividades propostas pelos docentes, dado que as práticas frequentemente ignoram as necessidades particulares de cada sujeito presente. Isso se comprova a partir das entrevistas, nas quais estudantes deficientes relatam desempenhar comportamentos que emulam a corponormatividade, objetivando se furtarem do ostracismo que era desempenhado pelo docente ou por outros sujeitos em “hierarquias superiores”. Destaca-se ainda que, durante os depoimentos, foram referidos outros exemplos de entraves para a acessibilidade, tais como a falta de oferta de prova com tamanho de letra aumentada e material prévio para discentes com deficiência visual (em prol da consumação de um método de ensino), e a imposição de formas de comunicação e comportamentos corporais neurotípicos a autistas (em defesa do “respeito” e da “ordem”). Conclusões: As análises realizadas ao longo do estudo evidenciam as violências institucionais e atitudinais vivenciadas pelos estudantes com deficiência no meio acadêmico. Neste sentido, torna-se perceptível a fragilidade do atual modelo educacional quando relacionada à acessibilidade dos discentes deficientes. Portanto, são necessárias adaptações anticapacitistas das escolas médicas, seja do ambiente, seja do padrão de ensino, visando contribuir para a participação de todos durante as atividades universitárias e assim promover uma maior inclusão dos estudantes com deficiência ao longo da formação médica.