INTRODUÇÃO: A educação superior tem enfrentado desafios crescentes na sua missão de se tornar verdadeiramente inclusiva e representativa da diversidade cultural do Brasil. Neste contexto, a adaptação das matrizes curriculares para incluir e valorizar a presença de estudantes indígenas torna-se fundamental. Tais adaptações não são apenas uma questão de cumprimento de políticas de ações afirmativas, elas são essenciais para construir um ambiente educacional que respeite e celebre a multiplicidade de saberes e perspectivas. Adicionalmente, ao incorporar as perspectivas de diferentes grupos étnicos e sociais nas matrizes curriculares, as instituições de ensino superior podem desempenhar um papel importante na descolonização do saber e na promoção de práticas mais inclusivas e adaptativas que respondam às necessidades de todas as comunidades. As resoluções que regem essas matrizes são, portanto, de importância estratégica para moldar currículos. OBJETIVO: Este estudo tem como objetivo identificar e analisar as matrizes curriculares e as resoluções institucionais que podem ser beneficiadas e aprimoradas pela inclusão e formação de estudantes indígenas no ensino superior, visando a promoção de uma educação mais inclusiva e representativa. MÉTODO: Estudo qualitativo, descritivo e documental. Foi realizada uma análise documental detalhada de matrizes curriculares e resoluções em universidades federais da região Norte do Brasil, que possuem programas de inclusão de estudantes indígenas referentes ao curso de Enfermagem. Esta análise utilizou como fontes de dados o sítio eletrônico do Ministério da Educação para identificação dos cursos e os sites oficiais das universidades federais envolvidas para identificação de ações de inclusão. Excluiu-se as universidades estaduais, institutos federais e cursos desativados. A pesquisa foi realizada entre janeiro a abril de 2024. RESULTADOS: Foram identificados cursos em todos os Estados da região. A análise revelou a ausência de ofertas de vagas por meio da lei de cotas para pessoas indígenas em várias instituições, destacando-se a Universidade Federal de Manaus. Além disso, observou-se a falta de atividades curriculares específicas sobre temas indígenas na maioria das universidades da região. Contudo, as universidades que incluem estudantes indígenas demonstram possuir políticas robustas de inclusão e permanência. CONCLUSÃO: Embora haja políticas de inclusão, estas ainda não refletem completamente a diversidade e as necessidades regionais. O fato de a Universidade Federal de Manaus, situada na região Norte do Brasil, uma área de significativa diversidade indígena, não implementar uma política de cotas para indígenas, revela uma lacuna significativa na representação e inclusão dessas populações no ensino superior. Esta ausência não apenas contraria o espírito das políticas de ação afirmativa promulgadas em nível federal, mas também destaca um descompasso entre as necessidades regionais específicas e as políticas implementadas pelas instituições de ensino superior. Essa discrepância sugere uma oportunidade perdida de fortalecer o diálogo intercultural e de promover a equidade educacional em uma região que poderia beneficiar imensamente da contribuição e participação ativa de suas comunidades indígenas. Além disso, reforça a necessidade urgente de revisão e adaptação das políticas de inclusão, para que as universidades não apenas atendam às exigências legais, mas também reflitam e celebrem a rica diversidade cultural.