APRESENTAÇÃO: O trabalho em saúde resulta em ação terapêutica, a partir do cuidado da pessoa, família e comunidade. O trabalho permite o reconhecimento enquanto indivíduo e satisfação pessoal, ao mesmo tempo que pode ser um fator determinante para o desgaste físico e psíquico a depender da exposição do trabalhador às suas diversas cargas. Desde o estudo dos tempos e movimentos, com a padronização das ferramentas e instrumentos, resultantes dos estudos das primeiras teorias de administração de Taylor, o trabalho encontra-se imbuído em uma dicotomia que envolve a qualidade e produtividade, ambas com essencial valor. Mas que produz um paradoxo, principalmente na gestão da saúde por não ser um produto tangível, diferente do trabalho voltado para a produção de bens materiais. Deste modo, fatores como: aumento da rotatividade, mecanização e simplificação, com vistas predominantemente a produtividade, com distanciamento da integralidade do ser humano, podem resultar em situações prejudiciais ao profissional e ao paciente. É notório que a enfermagem evoluiu ao longo do tempo como ciência, na produção do conhecimento e como força de trabalho, cuja importância é ímpar, pois executa um ofício complexo em todos os âmbitos da atenção à saúde, com evolução de um modelo voltado para as relações humanas, com busca da compreensão desse ser complexo em sua condição humana, que envolve o biológico, social, político e espiritual, com fins de evitar a desfragmentação e a despersonalização. Nesse aspecto, a evolução da enfermagem também foi acompanhada com a busca na qualidade da assistência, contribuindo na gestão em saúde. No entanto, novos modelos têm surgido ou até mesmo retornado, principalmente os relacionados à produtividade. Nesse aspecto, é fundamental o debate sobre a gestão e a produtividade, para compreender como ele se reflete nos trabalhadores e pacientes. Assim, o presente estudo teve como objetivo refletir acerca do trabalho em enfermagem e a gestão por produtividade. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, desenvolvido a partir das vivências de estudantes de uma disciplina num programa de pós-graduação em enfermagem, da região Sul do Brasil, intitulada “Educação, trabalho e gestão em saúde e enfermagem”, que ocorreu no período de março a julho de 2023. Ela é ofertada no primeiro semestre do curso de mestrado em enfermagem, fazendo parte da grade curricular obrigatório, consistindo em nove encontros quinzenais de forma online via plataforma Conferência Web. A disciplina tem como foco discorrer sobre as possibilidades da enfermagem como disciplina, profissão, trabalho e gestão no contexto contemporâneo, refletir acerca dos desafios atuais da relação educação, trabalho e gestão no cenário brasileiro, promover a discussão sobre as relações entre ética, subjetividade, educação e gestão e desenvolver o debate sobre a educação, o trabalho e a gestão em saúde e enfermagem em seus elementos constitutivos e no contexto das transformações históricas. Durante seu desenvolvimento foi realizada a análise crítica da literatura científica por meio da utilização de estratégias de ensino como o diálogo reflexivo sobre a leitura programada dos textos indicados, apresentação de seminários e discussão dos textos norteadores. As reflexões estabelecidas neste estudo surgem, portanto, como ponderações dos autores acerca do trabalho em enfermagem e a gestão por produtividade, como um dos eixos debatidos durante as aulas. RESULTADOS: A produtividade caracteriza-se por meio de diversas dimensões, relacionando o produto final e os meios utilizados para geração deste produto. No caso do trabalho em enfermagem, o resultado é a assistência à saúde, com produção e consumo de forma paralela, sendo um produto não tangível, de forma que o produto é o cuidado integral ao paciente, que nem sempre pode ser prontamente mensurável. Nesse âmbito, na enfermagem, a produtividade está relacionada a assistência à saúde, que é permeada pelas exposições físicas, biológicas, sociais e psicológicas que o profissional é submetido no seu ambiente de trabalho, visto que o processo de trabalho é permeado por diversos desafios, cargas e jornadas de trabalho muito intensas, que resultam em desgastes físicos e psíquicos. Nesse sentido, atuar em um contexto voltado exclusivamente para a produtividade em detrimento dos outros aspectos, reflete no desempenho profissional, prejudicando quem está sendo assistido e quem oferece a assistência. Assim, o enfoque gerencial conduzido apenas por produtividade visa a gestão por resultados, em detrimento da qualidade destes. Tal modelo busca por eficiência e agilidade na assistência à saúde, que é um fator importante, no entanto, não há uma avaliação sistemática e categórica que mostre um incremento efetivo da produtividade na melhoria da qualidade dos serviços. As possíveis mazelas do sistema puramente produtivo refletem na saúde do trabalhador, na baixa qualidade dos serviços e na insatisfação do cliente, opondo-se desta forma, ao bem-estar individual e coletivo. Dentre os principais problemas relacionados a um sistema que busca apenas a produtividade, destaca-se a sobrecarga de trabalho, adoecimentos, déficit de profissionais, condições de trabalho inadequadas, acidentes e erros no processo de trabalho. Tais fatores geram estresse, insatisfação, fadiga física e mental, produzindo o efeito contrário ao esperado, com consequente queda na produtividade, interferindo negativamente na assistência prestada ao paciente. O enfermeiro não se restringe a assistência direta ao paciente, mas executa diversas responsabilidades e atividades, seu trabalho é direcionado por duas dimensões: assistencial e gestão dos serviços e processo de trabalho, ambas consideradas tarefas complexas. Na dimensão da gestão, são realizadas as funções gerenciais que envolvem organização e controle de materiais, equipamentos e realização de trabalho administrativo, domínio do processo decisório de definição e percepção do problema. Além da coleta e análise de dados, busca por soluções, alternativas, implementação da decisão, avaliação, reflexão e proposição de mudanças, que demandam exponencialmente da força física e mental do enfermeiro. Ademais é responsável por várias funções, dentre elas a coordenação do cuidado frente à equipe de enfermagem, com ensino, pesquisa e conhecimento de sua própria profissão. Desse modo, são tarefas que precisam ser feitas com cuidado, assim é mister repensar as formas de ofertas de serviço com vistas à promoção do melhor desempenho, mas também da melhor assistência. Faz-se necessário um equilíbrio entre os meios disponíveis e as formas de oferta desses recursos, para que o produto final seja positivo. Compreende-se que é um desafio, pois repensar as formas de assistência e melhorar as condições de serviço para os profissionais é processo contínuo, entretanto é fundamental e urgente para a uma assistência com qualidade, cujo foco final não seja apenas a produtividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O desafio dos gestores em saúde é obter o equilíbrio necessário entre assistência de qualidade, dimensionamento adequado de profissionais, custos altos e/ou lucratividade baixa. A reflexão sobre o assunto constitui-se importante elemento para entender como está estruturado o modelo de gestão por produtividade, em que se ampara, quais seus princípios, como ele reflete nos trabalhadores e como o profissional é visto dentro das condições de trabalho e dos aspectos que envolvem esse modelo de gestão. Para além disso, é basilar entender se os sistemas de gestão em saúde observam aspectos relacionados a consciência e cidadania planetária, de modo a compreender o seu impacto na utilização dos recursos econômicos e no atual déficit de profissionais qualificados no setor da saúde nos diferentes países. Ademais, torna-se imprescindível identificar as tecnologias necessárias e quais investimentos para a mudança ou melhoria, buscando assim o aperfeiçoamento de acordo com as tendências da atualidade.