Coleta de exame citopatológico em modalidade domiciliar: Relato de experiência de um acadêmico de enfermagem

  • Author
  • Felipe Santos de Morais
  • Co-authors
  • Teresinha Heck Weiller , Geovani Fiuza , Eillen Karine Wahlbrink Lohmann , Maria Eduarda Rodrigues Bohmer
  • Abstract
  • Introdução: O câncer de colo uterino, também conhecido como câncer cervical, é um dos tipos mais comuns de tumores que afetam pessoas com útero. De acordo com dados do ano de 2022 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), tal patologia situa-se na quarta posição do ranking de cânceres dentro da região sul, com cerca de 15 incidências a cada 100 mil mulheres. Frente ao exposto, a Atenção Primária visa a prevenção e o controle desses casos mediante a disponibilização de preservativos, da vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) e exames preventivos de rotina. O Programa Nacional de Imunizações, juntamente com as escolas de educação básica, oferta duas doses dessa vacina para meninas e meninos entre 9 e 15 anos, almejando, assim, uma maior adesão ao esquema vacinal. O rastreamento dessa doença ocorre com a coleta do exame Papanicolau por enfermeiros da Estratégia Saúde da Família (ESF) em mulheres com idades entre 25 e 64 anos, usuárias de seus respectivos estabelecimentos de saúde. Além da Enfermagem, a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde mostra-se com imprescindível relevância perante esse cenário, visto que eles são responsáveis pelas visitas domiciliares, logo, mantendo o elo entre as demandas da comunidade e, posteriormente, medidas de um plano de ação pela ESF. O Sistema Único de Saúde, conforme a Lei n° 8080/1990, prevê que a população, nesse caso, as mulheres, se beneficiem da universalização (todos poderem ser acolhidos), da integralidade (atendimento das múltiplas necessidade) e da equidade (fornecer as mesmas condições diante de solicitações diferentes) no serviço. No entanto, há aquelas que, por estarem restritas aos seus lares devido a alguma condição de saúde, apresentam o seu direito de acesso integral à saúde comprometido. Diante disso, este trabalho tem como objetivo descrever a experiência de um acadêmico da graduação em Enfermagem com a coleta do preventivo de maneira domiciliar em uma usuária do SUS com mobilidade limitada. Desenvolvimento: O presente trabalho foi desenvolvido a partir do relato da coleta do exame citopatológico na modalidade domiciliar por um acadêmico de Enfermagem. O grupo que realizou a visita era composto por quatro discentes, uma enfermeira e um agente comunitário de saúde. Inicialmente, o profissional comunitário iria levar uma prescrição médica para uma moradora da região com mobilidade reduzida e convidou o grupo para acompanhá-lo, a fim de que pudessem aferir os sinais vitais dela. Ao conversar com a paciente, observou-se naquele momento que haviam demandas adjacentes a serem acolhidas, como, por exemplo, o preventivo, o qual havia sido realizado pela última vez em 2021. Uma nova visita foi marcada e o grupo então retornou com os materiais adequados para a coleta. Primeiramente, procurou-se deixar a usuária o mais confortável e tranquila possível, colocando músicas calmas, apagando as luzes e levando-a a um ambiente reservado. A sua pressão arterial foi aferida, o nível glicêmico foi medido e ambos foram registrados em sua ficha de controle pessoal, uma vez que a paciente era hipertensa e diabética. Para o procedimento, foi recomendado que urinasse, trocasse sua roupa pelo avental descartável disponibilizado e deitasse em posição ginecológica em cima do lençol descartável que recobria seu sofá. O acadêmico utilizou luvas para afastar os lábios e verificar a integridade da vulva. Em seguida, o espéculo de tamanho médio foi inserido no canal vaginal e regulado até que o colo uterino fosse visualizado. Com ele em destaque e iluminado pelo foco da lanterna, foi utilizado a espátula de ayre para coletar as células da ectocervix e a escova endocervical para o material da endocérvix. O material coletado foi transferido e fixado na lâmina, cuja extremidade fosca já havia sido identificada anteriormente. Durante a visita, a moradora foi questionada sobre seu histórico médico e familiar a fim de que, paralelamente, outra colega fosse preenchendo a requisição do exame. Ressalta-se ainda que todo o procedimento foi explicado previamente para a usuária, bem como, ela foi informada o que iria acontecer a cada etapa. Por fim, o grupo atendeu outra necessidade e promoveu um momento de educação em saúde, explicando com um desenho, outros locais do corpo para a aplicação de insulina. Resultados: O Sistema Único de Saúde foi idealizado para atender de forma integral, universal e gratuita toda a população do Brasil, abrangendo desde a simples aferição da pressão arterial, por meio da atenção primária, até o transplante de órgãos em hospitais de referência. Todavia, ainda há lacunas no que se diz respeito à acessibilidade de atendimento. Partindo dessa perspectiva, o trabalho da equipe da ESF é essencial para assegurar o acesso à saúde, nesse caso, para mulheres domiciliadas, visto que elas possuem limitações psicomotoras e necessitam de uma maior atenção do Estado. Desse modo, o profissional de enfermagem e o agente de saúde atuam firmemente na busca ativa das usuárias que não estão em dia com seu exame Papanicolau, promovendo, a domicílio, o rastreamento e a profilaxia com eventuais diagnósticos em fase precoce. O aumento do rastreio desta doença impactará diretamente nos dados de incidência fornecidos pelo INCA, o que, por sua vez, também impactará na ação do Estado frente às políticas públicas, melhorando, assim, a qualidade do atendimento ofertado às mulheres. Considerações Finais: O SUS, mediante suas políticas públicas, vem mostrando a sua importância frente à saúde da população brasileira, especialmente das pessoas mais vulneráveis em questões socioeconômicas. Deve ser ressaltado a importância de seu atendimento público e 100% gratuito, visto que se não houvessem estes atendimentos, o Brasil teria índices ainda maiores de mulheres com câncer de colo de útero, sendo as de baixa renda como o perfil predominante dessa doença. Além disso, o atendimento domiciliar torna-se um grande aliado na prevenção de câncer de colo de útero pelo fato do serviço de enfermagem ir até a casa do cliente, o que reduz o constrangimento e oportuniza para a ampliação do elo de confiança e de sigilo com ele. Diante do evidenciado, mostra-se nítida a importância do profissional de enfermagem perante as carências da comunidade, sobretudo, nesse trabalho, na saúde da mulher domiciliada.  Nesse sentido, o enfermeiro da Estratégia Saúde da Família trabalha com o indivíduo de forma integral, atuando não somente na fase da doença, como o seu papel frente às ações preventivas e de acessibilidade no atendimento é vital para a sociedade.

  • Keywords
  • EXAME PAPANICOLAU, ENFERMAGEM DOMICILIAR, SAÚDE DA MULHER, ACESSO À ATENÇÃO PRIMÁRIA
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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