Introdução - A saúde é uma área que encanta a todos, porém, traz consigo o estigma de ser difícil, de ser para poucos e, para muitas pessoas, inacessível ou inalcançável. Em nível técnico, para aquelas que se aventuram a passar pelo processo, de muitas formas, há uma ideia de que o conhecimento deve ser superficial. Isto acontece porque, na maioria dos casos os educadores partem do princípio de que seus estudantes não terão condições de acompanhar determinado raciocínio e, portanto, reduzem ao mínimo as discussões pertinentes a determinados temas. No contexto do PROEJA, esta é uma realidade ainda mais presente. Infelizmente, para alguns educadores, estes estudantes possuem um perfil caracterizado por uma capacidade intelectual e cognitiva reduzida em função do tempo perdido. Embora seja verdadeira a ideia de que, para aqueles que retomam os estudos depois de um longo período de afastamento dos bancos escolares, exista uma maior dificuldade na assimilação dos conteúdos, há de se observar uma equivocada forma de resgatar este estudante por parte do docente, quando este se coloca como o detentor do conhecimento e utilizando apenas aulas expositivas no seu processo de ensino-aprendizagem. Entre os vários resultados negativos para este tipo de abordagem pedagógica estão o desinteresse pelos conteúdos por parte do estudante e a visão de que os conhecimentos apresentados pouco se conectam com a realidade. A consequência disso é uma contribuição importante destes fatores para a alta evasão escolar observada ao longo do curso. A partir da ideia de Paulo Freire de que o homem deve ser o sujeito de sua própria educação, é consenso entre vários estudiosos da área de educação de adultos que o ensino-aprendizagem deve ser inclusivo e os diferentes saberes, as experiências prévias e as individualidades dos estudantes devem integrar o contexto escolar, pois apenas assim, o estudante poderá se perceber como protagonista do seu desenvolvimento. Ainda, considerando um número cada vez menor de estudantes do PROEJA que finalizam o ensino médio no curso Técnico de Intervenções em Cuidados de Idosos do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Campus Alvorada, entendemos que uma forma alternativa mais inclusiva de ensino-aprendizagem pode contribuir para o melhor aproveitamento do curso pelos estudantes e contribuir para redução da evasão observada ao longo do curso.
Objetivo - Assim, o objetivo deste trabalho foi descrever a percepção dos estudantes do curso técnico de Intervenções em Cuidados de Idosos do PROEJA quanto a sua evolução dentro da disciplina que leva o mesmo nome, em um cenário no qual a disciplina passou de fundamentalmente teórica para uma disciplina, eminentemente prática.
Métodos e Descrição dos Eventos - Para a abordagem proposta, o conteúdo a ser desenvolvido em cada aula foi estrategicamente distribuído em conteúdos revisitados e aprendidos em formato de espiral do conhecimento e, para novos conteúdos, práticas foram inseridas. Para tanto, diferentes metodologias de ensino-aprendizagem foram contempladas em um tripé de ações: apresentação de um estudo de caso ou situação-problema (considerando a realidade dos estudantes e suas experiências), práticas com distribuição e alternância de papéis (por ex. idoso, cuidador, moderador de discussão, apresentador de caso ou situação, paciente) e, por fim, uma avaliação formativa das ações realizadas e sua efetividade. Durante dois semestres, os estudantes foram expostos a diferentes metodologias ativas e práticas no desenvolvimento dos conteúdos da disciplina. Ao final do segundo semestre de exposição todos responderam questionário divido em três blocos: avaliação do ambiente de ensino, das metodologias aplicadas e das habilidades e competências desenvolvidas. As respostas foram respondidas como: concordo totalmente, concordo, não estou decidido, discordo ou discordo totalmente, muito frequente, frequente, ocasionalmente, raramente ou nunca e muito importante, importante, moderadamente importante, às vezes importante ou não importante. Para tais afirmações foram realizadas 26 perguntas divididas nos três blocos citados.
Resultados e Discussão - Um total de 12 estudantes responderam ao questionário que avaliou suas percepções em relação à metodologia, ao ambiente da sala de aula e às habilidades e competências desenvolvidas. Todos os respondentes tiveram mais de 75% de frequência nas aulas ministradas. Os estudantes elencados para esta experiência estavam inicialmente no primeiro e terceiro semestres do curso, sendo que 58,3 % já haviam vivenciado uma abordagem metodológica baseada em aulas expositivas na disciplina de Intervenções em Cuidados de Idosos. Isto foi possível porque esta é uma disciplina que perpassa todos os semestres do curso que leva o nome de Técnico em Intervenções em Cuidados de Idosos. O percentual de aulas práticas realizadas ao longo do período avaliado foi de 88%, acrescido de uma prática realizada pelos estudantes junto à comunidade local. Os 12% restantes foram divididos em aulas que eram realizadas com a utilização de metodologias ativas, consideradas não totalmente práticas e atividades que envolviam agendas relevantes da instituição para todos os estudantes do Campus. Em relação às avaliações propriamente ditas, os resultados foram descritos em forma de percentual. Em relação à avaliação do impacto das metodologias aplicadas nas aulas, 100% dos estudantes consideraram as práticas muito importante para a compreensão do conteúdo, além de concordar totalmente com o fato de servirem de estímulo para que tivessem maior interesse pela disciplina. Todos os estudantes também responderam que as práticas e as discussões realizadas após a sua execução tiveram papel fundamental para que se sentissem parte do processo e tivessem vontade de participar das aulas. Em relação ao ambiente de aula, os estudantes responderam que muito frequentemente (91,6%) ou frequentemente (8,4%) foram estimulados pelo professor a participar das práticas durante as aulas. Também responderam que muito frequentemente (75%) ou frequentemente (25%) tiveram apoio dos colegas, o que favoreceu que todos pudessem fazer questionamentos durante a parte expositiva das aulas, pois se sentiram confortáveis e acolhidos. Quando perguntados sobre a sua percepção sobre aplicar as habilidades, competências adquiridas e atitudes desenvolvidas, pontualmente descritas na avaliação, os estudantes responderam que concordavam (18%) ou concordavam totalmente (79%) que tinham condições de aplicar o que haviam aprendido e apenas dois estudantes (3%) não estavam decididos se tinham capacidade ou teriam uma atitude proativa para tentar colocar em prática o conhecimento adquirido. Entre as habilidades adquiridas estavam a avaliação dos sinais vitais, técnica de levantar o idoso e apoio à deambulação e habilidade de comunicação. Por fim, quando perguntados sobre a capacidade de utilização das habilidades adquiridas para o autocuidado do cuidador, os estudantes concordaram (27%) ou concordaram totalmente (73%) que eram capazes de aplicar as técnicas de redução de dor na coluna vertebral aprendidas durante as aulas. Por fim, todos os estudantes (100%) concordaram totalmente que a escolha da linguagem foi fundamental para a compreensão dos conteúdos da área da saúde e que o feedback dado ao final de cada aula contribuiu para a autoconfiança de todos.
Considerações Finais - O estudante do PROEJA da área da saúde é aquele que retorna aos bancos escolares trazendo na bagagem uma prática de vida e a esperança de poder adquirir o conhecimento que poderá modificar, não somente a sua história, mas a de outras pessoas. Para tanto, se faz necessário que os docentes assumam o papel pedagógico inclusivo de resgatar o estudante, a partir de uma aprendizagem baseada em experiências prévias, vinculadas a metodologias ativas de linguagem simples e uma prática constante.